segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Ksamil fica numa espécie de península, uma língua de terra muito perto da fronteira com a Grécia.

É também dos poucos locais onde as praias têm areia em vez das pedras que magoam os pés e desafiam o equilíbrio, quais aprendizes de faquir que caminham sobre brasas. Num dos extremos, fica a antiga povoação de Butrint, originalmente grega, mas com mão romana posterior, foi classificada como Património Mundial da UNESCO em 1992. As ruinas incluem um anfiteatro, banhos romanos, capela e basílica, entre outros.

A visita, de manhã, é a única coisa que fazemos de cultural ou produtivo o dia todo. De resto, após o check in no hotel, limitamo-nos a uma merecida espreguiçadeira, bem perto de um mar de cor límpida. Pagamos ao rapaz que rapidamente surge para nos cobrar, depois de alguma conversa a propósito do câmbio que nos quer fazer: não temos a totalidade em leks e quer euros à taxa de 100 leks para 1 euro, quando 80 cêntimos bastariam para os tais 100 leks. Diz-nos que facilita os cálculos; rimo-nos e dizemos-lhe que, curiosamente, também o beneficia.

No café, pergunto se aceitam cartão e a resposta é negativa. Apesar de termos euros, não queremos sujeitar-nos à taxa de câmbio manipulada, pelo que não há outra forma senão dar uma saltada à caixa automática mais próxima, que a empregada nos diz ser a cerca de 10 minutos. Munimo-nos do estritamente suficiente para um almoço ligeiro (uma salada de frango ou atum) que permita continuar a mergulhar sem limitações. Peço um café, não à empregada, que nos atendeu mas a um tipo mais velho. Diz-me o que parece ser que não servem cafés, embora não o tenha entendido exactamente. Quando a empregada passa para levantar os pratos, pedimos-lhe o tal café mas, passado um pouco, quando regressa, diz-nos que a máquina está avariada. Claramente começa a cheirar a esturro.

É o dia da final do Campeonato do Mundo e consideramos a hipótese de nos sentar numa mesa a ver o jogo acompanhado do café que não bebemos ao almoço. Regressamos ao mesmo sítio e procuramos uma mesa livre no mar das que estão ocupadas. Manifestamos a nossa intenção ao dono do estabelecimento e somos, de imediato, rejeitados. Que aquilo são mesas para quem está a comer e não beber, estão a ver alguém a beber em algum sítio? Saímos sem antes o mandar a um determinado sítio.

O empregado do café ao lado mostra-se mais receptivo, embora a única mesa disponível esteja relativamente longe do televisor. Deixamos ali os leks remanescentes enquanto a Croácia empata e os espectadores vão ao rubro, não há a mínima dúvida em relação às preferências. Quando o árbitro faz a indicação de que quer rever as imagens de um lance na área e, logo a seguir, assinala grande penalidade a favor da França, apenas um tipo se levanta a regozijar. Ao intervalo, com o meu copo de frappé vazio, regressamos à espreguiçadeira e ao livro. Na areia com, agora, muito menor densidade populacional, vamos ouvindo as exclamações de sofrimento à medida que a França dilata o resultado e apenas uma alegria temporária aquando do frango de Lloris.
Antecipamos a resistência que certamente também vamos encontrar com o pagamento em cartão para o jantar. No primeiro sítio que vemos, perguntamos ao dono, que nos responde negativamente e acrescenta
Albanian people like to sleep with their money
juntamente com um gesto de quem coloca o dinheiro debaixo da cabeça, a fazer de almofada. Perguntamos em mais uma meia dúzia de locais enquanto descemos a rua até à inevitável caixa automática, só pela piada. Ninguém aceita cartão. Um diz que a máquina está avariada. Optamos pelo primeiro apenas porque teve a resposta mais gira. E optamos bem porque acabamos por jantar bastante bem.

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