sexta-feira, 31 de julho de 2020

Der frühe Vogel fängt den Wurm

Dirigiu-se à stripper e, com todo o formalismo cavalheiresco, perguntou-lhe se lhe daria o prazer uma dança.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

De "hábil" a "habilidoso" não vai uma distância muito grande.

Apesar disso, enquanto o primeiro é, normalmente, um termo mais genuíno, o segundo é, muitas vezes, usado com um tom pejorativo. Mais ou menos como a diferença entre ser esperto e espertinho. Demasiado esperto. Ou chico-esperto. 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Igualdade através de desigualdade

É um lugar-comum dizer que as sociedades ocidentais tendem a privilegiar o indivíduo face ao colectivo enquanto nas sociedades asiáticas a relação é tipicamente inversa. Tal pode ser até ser levado ao extremo de ser definido como subjugação naquelas que não são primam pelos exemplo democrático.  

O caso da China é curioso. Na sua tentativa de instilar uma uniformização de comportamentos, criou um sistema de rating social. Isso, em si, encerra uma contradição: o sistema, para funcionar e atingir o objectivo de tornar todos iguais, tem de distinguir os cidadãos, através de diferentes pontuações num ranking. 

terça-feira, 28 de julho de 2020

La mauvaise éducation

«Je commençais à connaître l'exacte valeur de la langage parlé ou muet de l'amabilité aristocratique, amabilité heureuse de verser un baume sur le sentiment d'infériorité de ceux à l'égard desquels elle s'exerce mais pas pourtant jusqu'au point de la dissiper, car dans ce cas elle n'aurait plus raison d'être. «Mais vous êtes notre égal, sinon mieux », semblaient, par toutes leurs actions, dire les Guermantes; et ils disaient de la façon la plus gentille que l'on puisse imaginer, pour être aimés, admirés, mais non pour être crus; qu'on démêlât le caractère fictif de cette amabilité, c'est ce qu'ils appelaient être bien élevés; croire l'amabilité réelle, c'était la mauvaise éducation.»

Sodome et Gomorrhe, Marcel Proust

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Por quem os sinos dobram

Disse mal da minha vida durante os 4 meses e meio que vivi quase paredes-meias com uma igreja, cujos sinos se faziam ouvir, pelos menos, 3 vezes ao dia. Algumas das minhas rotinas não tiveram outro remédio senão adaptar-se e moldar-se ao som metálico (e gravado) que, normalmente, durava perto de cinco minutos de cada. Fechava janelas perto das 12h, quando tinha vídeo-chamadas ou telefonemas, caso contrário era difícil ouvir o que me diziam; o toque das 18h alertava-me para a aproximação do final de dia de trabalho e o das 19h30 lembrava-me de começar a pensar em preparar o jantar. Ao fim-de-semana, os horários eram um pouco diferentes. Em alguns casos, para pior: nas noites mais longas ou de ida mais tardia para a cama, cheguei a ser acordado, no dia seguinte, uma ou outra vez, pelo toque pouco antes das 10h.

De regresso a Lisboa, dei por mim a aperceber-me (consciencializar-me), pela primeira, de que também, por aqui, se ouvem sinos de igreja. O som é bastante mais distante e não consegui ainda depreender a frequência e os horários. Mas até nisso a exposição temporária a sinos estrangeiros me afectou: desenvolvi uma espécie de sino-sensibilidade.  

domingo, 26 de julho de 2020

Bruit

«J'en conclus plus tard qu'il y a une chose aussi bruyante que la souffrance, c'est le plaisir, surtout quand s'y ajoutent (...) des soucis immédiats de propreté.» 

Sodome et Gomorrhe, Marcel Proust

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Com salada de pimento

Nos dias que correm, fazer uma greve e obrigar quem não tem transporte próprio a ir (ainda mais) ensardinhado do que o normal dentro de uma carruagem, não é propriamente responsável. Como se não tivesse existido uma discussão sobre a frequência de transportes públicos. 

quinta-feira, 23 de julho de 2020

A marca

Segundo o que foi noticiado pela revista Sábado, o que terá suscitado a indicação (ordem?) para os professores da casa não referirem a sua afiliação quando emitem a sua opinião terá sido a defesa da marca Nova SBE. Resta saber se o custo reputacional de vir a público que uma faculdade prefere que os seus professores não indiquem onde trabalham para não incomodar as instituições filantrópicas não será ainda maior.  

terça-feira, 21 de julho de 2020

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Chega pra lá

A recomendação para evitar os cumprimentos com apertos de mão são como música para os ouvidos do Paulinho Santos 

domingo, 19 de julho de 2020

Gouailleuse

« - (...) Tout le monde n'aime pas être pleuré de la même manière, chacun a ses préférences.
- Enfim, il lui a voué un vrai culte depuis sa mort. Il est vrai qu'on fait quelquefois pour les morts des choses qu'on n'aurait pas faites pour les vivants.
- D'abord », répondit Mme de Guermantes sur un ton rêveur qui contrastait avec son intention gouailleuse, «on va à leur enterrement, ce qu'on ne fait jamais pour les vivants!»»

Le côté de Guermantes, Marcel Proust

quinta-feira, 16 de julho de 2020

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Reconversão

One child nation é um documentário sobre a política de filho único que vigorou durante décadas na China. Uma das pessoas entrevistadas pela realizadora é a parteira que a ajudou a nascer. À altura, essa senhora, como as demais colegas de profissão, acumulava um conjunto inusitado de tarefas: para além de realizar partos, levava a cabo abortos e esterilizações (forçadas) de mulheres. Hoje em dia, como forma de (auto-) penitência, ajuda casais com problemas de fertilidade. 

domingo, 12 de julho de 2020

Uma questão de asteriscos

Aquando da designação de significant other, de imediato perguntou qual o respectivo p-value. 

sábado, 11 de julho de 2020

Começo a invejar as malas de senhora

Há um momento a partir do qual não se sai de casa sem carteira e chaves. No meu caso, a carteira terá vindo pelos 10 anos, aquando da passagem da escola primária para o ciclo, onde andar com dinheiro passou a ser necessário. As chaves vieram mais tarde: havia sempre alguém em casa. Depois inventaram o telemóvel e, algures lá para o final da minha adolescência, passou a somar-se ao conjunto de coisas que automaticamente coloco nos bolsos antes de sair de casa. Agora passámos também a ter a máscara, que que coloco no móvel de entrada no sítio dos objectos indispensáveis, para evitar esquecimentos pela falta de automatização de hábitos e gestos. 

domingo, 5 de julho de 2020

At arm's length

A distância passou, nos dias que correm, a ser um tópico incontornável por uma razão bastante palpável. Distância física, neste caso. Para além desta, há também uma distância, não necessariamente física, entre pessoas. O relacionamento entre pessoas é, entre outros, função dessa distância, que tem um determinado nível óptimo: há aqueles que funcionam bem aos mesmos 2 metros recomendados pelas autoridades de saúde, como outros a 2 centímetros, e mesmo outros a 2 milhas. No limite, a 2 mil milhas, que começa a ser o equivalente a dizer que o melhor relacionamento é a sua ausência. 

Determinar essa distância não é pêra doce, não é fácil calcular essa função quadrática e maximizá-la. É um equilíbrio, como quase tudo. E como quase todos, difícil de manter, como diz o cliché. O problema é a assimetria do erro por defeito ou por excesso. É perfeitamente possível lidar com o primeiro, quase ad eternum; já o último é, normalmente, irreversível: depois da constatação da falta de adequação, por excesso, de um determinado nível de proximidade, é virtualmente impossível voltar atrás. Pelo que os erros de julgamento tendem a só ser feitos uma vez: a última.   

sábado, 4 de julho de 2020

Prisão domiciliária - 116º dia

É possível que tenha deixado de ser uma prisão. Agora que penso nisso. Em primeiro lugar, pelo regresso a casa, que claramente foi uma considerável melhoria de qualidade de vida. Depois pela habituação, pela normalização, à bruta, de uma circunstância que deveria ser altamente anormal. O eventual regresso ao escritório, seja lá quando isso for, tem o potencial (crescente no número de dias que ficamos em casa) de vir a ser sentido como a prisão que foi a ida para casa. Agora que penso nisso.  

sexta-feira, 3 de julho de 2020

A localidade chama-se Galiza.

Fica no topo (chamemos-lhe assim) de São João do Estoril e tem uma ligação familiar especial. Para além disso, foi na escola desta localidade que andei nos 5º e 6º anos. Lembro-me, naquela altura, quando alguém exclamava perante o curioso toponímico, a piada que mais se fazia nome era dizer que ficava em Espanha. Há uns tempos, ao sair da auto-estrada, passei pela antiga estrada (agora há uma nova que evita passar pela localidade a caminho de São João) e reparei na placa com a indicação do nome: um maduro qualquer acrescentou um "le" no início da palavra. Apeteceu-me voltar atrás e actualizar a piada, substituindo Espanha por Jamaica. 

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Cedo erguer

Costumamos dizer de alguém que respeitamos e a quem reconhecemos mérito, que merece que lhe ergam uma estátua. No actual contexto, o homenageado é capaz de recusar.  

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Alouette

Aqueles que dizem não se arrepender de nada deviam começar por se arrepender exactamente por dizerem que não se arrependem de nada. Das duas uma: ou não é verdade, ou é altamente irresponsável.