quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sobre penugem

O Xabi Alonso tem o cabelo mais escuro do que a barba. Já eu tenho a barba mais escura do que o cabelo.

So tell me

Um dia tinha que acontecer. Estava na cara, não havia volta a dar. Escrito nas estrelas, só não vê quem não quer ver.
Mais cedo do que mais tarde
E mesmo assim foi bastante mais tarde do que deveria ter sido, bastante mais tarde do que alguma esperaste, demorou, foi um parto complicado. A sabedoria de quem tem o dom da antecipação, de quem a distância para ver objectivamente de fora.
Eu bem te disse
uma espécie de falso paternalismo que vem arrastado à lembrança de uma aviso ignorado. Há erros que têm que ser feitos. Há erros que seria um erro não os fazer. E é aí que o falso paternalismo, a vontade de chatear esbarram ao comprido.

A não ser que eles próprios sejam erros dos que têm que ser feitos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Enquanto bebiamos um café

Expectativas racionais não fazem sentido nenhum. Podemos todos ter opiniões diferentes sobre qual o melhor modelo para descrever a realidade. Encerra uma contradicção: é preciso racionalidade limitada para ter expectativas racionais. Podias escrever um paper sobre isso: I’m smarter because I’m stupider.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Flesh

Garrafas e copos no chão, vidros, o som pegajoso de cerveja entornada no chão. Amigos que amparam amigos cambaleantes e de voz arrastada, outros que gritam “faster, faster” ao rapaz do riquexó que os pedala rua acima. Amigas que correm atabalhoadamente em saltos altos para se proteger da chuva miudinha que molha os braços nus dos vestidos de verão. Na entrada de uma loja fechada, um tipo de gorro e uma guitarra na mão canta o Creep dos Radiohead. Mais à frente, um mendigo pede “change” a quem passa.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tudo o que sempre quis saber sobre cozinha irlandesa e nunca teve coragem de perguntar

Juntar puré de batata a tudo. Mesmo a sério: tudo. Hoje, na cantina, pedi lasanha. A funcionário pôs uma dose no prato e depois perguntou-me "mashed potates and vegetables?" ao que lhe respondi que só queria os brócolos. Juro que ficou decepcionada.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

És como os gatos

Quase não fazes barulho quando andas. E ainda assim a sala toda pára para te ver passar, como se fosse um desfile de moda e tu estivesses a desfilar a tua saia justa para uma casa famosa de alta costura. Sempre elegante. Passeias classe.

Como uma princesa. Melhor, uma rainha.

Sentas-te, com o sorriso pequeno enigmático da praxe nos lábios e voltas para o teu trabalho. Discreta, silenciosa, falas muito pouco o que é mau perto de mim, não ajuda nada porque eu também só falo se puxarem por mim.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Rebentar a bolha

O dia chegou em que percebeu que não tinha mais nada para escrever. Nada, uma única palavra sequer. E foi então que resolveu começar a falar.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Delfim

Há uma vontade de arranjar raiva, a raiva é boa companheira nestas alturas, é um quase mecanismo de protecção, põe-nos contra o mundo mas apenas porque o mundo se virou contra nós há muito tempo. Eu a querer detestar e a não conseguir, a raiva mal chegava para um grito meio abafado, talvez um murro na mesa que nem chegava para entornar um copo.

Detestar-te

Juro que tentei, juro que fiz o que pude para sentir a raiva que teimou em nunca aparecer, seria tudo mais fácil se tivesse sentido uma vontade incontrolável de gritar contigo, dar um murro na mesa que te calasse mas não e

A detestar-me por não conseguir detestar-te

Seria tudo mais fácil se te detestasse, tudo tão mais fácil se me detestasse por não conseguir arranjar uma razão, uma justificação, atribuir-te a culpa, colar um letreiro na tua testa a dizer tudo, canalizar a raiva - qual raiva? – na tua direcção, mas é que nem isso, nem isso consigo, uma razão, uma justificação, seria tudo mais fácil, pretexto desculpa, tu o bode expiatório, o alvo, é perfeito, e, no final não te detesto, não me detesto, não me detesto por não te conseguir detestar e no final

Detesto-nos

sábado, 19 de janeiro de 2013

Mais coisas sobre andar de avião

Parece a escola primária: aperta o cinto; endireita a cadeira; põe o tabuleiro para cima; desliga o telefone, já brincas mais logo; não vais agora à casa-de-banho, vais mais logo quando o capitão disser que se pode ir; façam uma fila para entrar no avião; não podes entrar já; não podes sair já; todos sentadinhos, não se levantem; etc.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

domingo, 13 de janeiro de 2013

O ofício e os ossos

No triângulo invertido que sinaliza a perda de prioridade está escrita a palavra "yield", seguramente para reforçar a cedência de passagem. E eu só consigo pensar em rendibilidades implícitas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Off we go

Oito graus de máxima, cinco de mínima; amanhã cai para um. E chuva. Cinzento e chuva.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Pré-visualizar

Muitas vezes desperto a meio de sonhos. Normalmente, ou quando são bons sonhos – e fico chateado porque quero saber como acabam – ou quando terrivelmente maus e, nesses casos, é a agitação que me faz acordar sobressaltado. Pois hoje acordei com a tua falta. Não sei porquê. Como se esperasse que estivesses aqui e a desilusão da tua ausência me tivesse forçado a sair da moleza morna dos lençóis. Como se me tivesse obrigado a abrir os olhos.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Nebenwirkungen

Aquelas caixas com algarismos ou palavras ou ambos que as pessoas põem em sites para evitar spam às vezes colocam-me sérias dúvidas: a dificuldade em interpretar a bonecada faz-me pensar que o spammer sou eu.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Cabo

Entramos nos últimos cinco minutos de filme e, de repente, o sinal do televisor desaparece. Major anti-climax. Carregar nos botões do comando permite tirar a conclusão que todos os canais foram abaixo. Algum tempo daquela imagem da estática no televisor fez-me lembrar que o avô dizia que aquilo parecia uma amostra de tecidos.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Facts before conclusions, please

A linha do horizonte separa dois azuis bem distintos. O de cima é mais claro e chegar a amarelecer perto do ponto onde se encontram. O de baixo é escuro e mais denso, parece quase sólido.