terça-feira, 31 de maio de 2016

Geschwindigkeit

Pergunta-me se é purulento. Pela velocidade a que me pinga o nariz, penso responder que é pururápido.

domingo, 29 de maio de 2016

Só os centrais são imperiais

Nunca ninguém diz o mesmo de um lateral. Ou de um trinco. De um ponta-de-lança ou guarda-redes. A questão é se os mesmos centrais passam a finos no Porto.

sábado, 28 de maio de 2016

All things good and true

Um café e um copo de água
que o empregado pouco depois deposita na mesa metálica, naquelas de esplanada que parece que têm pequenas formas geométricas que brilham de forma diferente, que reflectem a luz do sol de forma diferente. Antes disso passou um pano húmido sobre o tampo, antes ainda disso levantou a louça
Um café e um copo de água?
da pessoa ou das pessoas que se sentaram naquela mesa virada para a janela sem vidros com vista para o mar antes de mim. Rodelas de copos ou garrafas de fundo molhado no tampo, outras nódoas ou migalhas. Marcas do sal que corroem o metal, assim como na porta, na antena parabólica no telhado, na caixilharia da janela, mesmo à minha frente, sem vidros, virada para o mar. Bebo o café - devagar, está quente - enquanto olho para as letras no pacote de açúcar, algo entre um horóscopo sem datas e uma fortune cookie. A gota que escorre ao longo do copo de água chega até ao final e toca no tampo metálico das formas geométricas, a base do copo, molhada, deixa uma rodela, assim como a base da chávena no pires.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Estamos a ficar tristemente habituados a isto

Conferências de imprensa não calendarizadas para anunciar um abandono por lesão. Nadal abandona, vítima de uma lesão no pulso, e vai ser a primeira vez que fica dois anos sem levantar a saladeira dos Mosqueteiros. Há uns dias atrás, Federer disse que nem sequer ia a Paris, não estava em condições e queria assegurar que não corria riscos desnecessários e recuperava totalmente. Interrompeu uma sucessão de 65 (!!!) presenças consecutivas em Slams.

É a PDI: o Nadal faz 30 para a semana - e uns 30 que já exigiram muito - e os 35 de Federer, embora menos sofridos, não deixam de ser 35. O pior é que tanto Djokovic como Murray estão também a aproximar-se perigosamente da terceira década de existência o que, pese embora não exista nenhum impedimento físico relevante, não deixa de fazer soar o alerta. E o alerta soa ainda mais porque não se vislumbra ninguém para tomar estes lugares, segurar o estandarte ou a tocha. A nova geração ainda está para mostrar quem, dentro dela, tem verdadeiramente a estatura, não só para ganhar mas, mais importante, saber ganhar.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Doing the being

Abandonou uma carreira de sucesso para seguir um chamamento: ser instrutor de meditação. Fazia-lhe todo o sentido poder proporcionar aos outros a calma de espírito que não conseguiam atingir. Acabou numa espiral de desespero, soterrado em dívidas e em constante stress financeiro.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

sábado, 21 de maio de 2016

Chaves da independência

Comecei a andar com chaves bastante tarde, muito mais tarde do que a maioria dos meus amigos: havia sempre alguém em casa dos meus pais que abrisse a porta. Talvez por isso, ouvir o ruído metálico das chaves no bolso ficou-me associado a uma certa noção de independência.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Do topo da minha cabeça

A língua materna é o inglês - com sotaque americano e falado à velocidade da luz - mas diz-nos que percebe um pouco de português. Ainda assim, não o suficiente para falar connosco na nossa língua. Após a sua apresentação, dá o lugar a um colega português e rapidamente largamos o inglês. Mas, a certa altura, resolve fazer um comentário e diz umas palavras abrasileiradas - foi no Brasil que aprendeu -, no meio das quais surge a expressão "do topo da minha cabeça", literalmente decalcada de "off the top of my head".

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Regresso

A doutrina é relativamente unânime no aconselhamento a não regressar a um local onde fomos felizes. Mas não tem muito para oferecer em relação a regressar a um em que fomos infelizes.

domingo, 15 de maio de 2016

Fashionably late

As (novas) obras (da discórdia) em Lisboa são o pretexto perfeito para os elegantes 10-15m de atraso.

sábado, 14 de maio de 2016

Um adolescente aprisionado no corpo de um homem de meia-idade

Os posters colocados na parede chamam-me a atenção logo à entrada. São talvez uma meia dúzia de carros, espalhados por um pilar perto de uma porta, de forma algo atabalhoada. Sentamo-nos, e reparo que há mais, na secretária, no fundo do ambiente de trabalho do computador e no screen saver. De início, distraem-me da conversa, puxam-me a atenção.

A prática parece-me adolescente, faz-me lembrar os posters de bandas que também tive, em tempos, nas paredes do meu quarto. Mas, neste caso, estamos no local de trabalho e à minha frente está alguém que já deve ter passado a meia-idade em alguns anos. E isso traduz-se nas viaturas homenageadas. Porque não se trata de super-carros - Ferraris, Porsches, Bentleys ou Aston Martins, daqueles com que se fantasia por serem inatingíveis. Da mesma forma que o poster dos Metallica, do Cristiano Ronaldo ou da Pamela Anderson.

São BMWs, Audis e Mercedes. Não as versões mais baratas - desportivos, coupés, relativamente vistosos mas, no limite, algo que sinto que não está fora do seu alcance e ao qual pode verdadeiramente almejar. Imagino-o ao volante de um descapotável, óculos escuros, casaco de cabedal e flausina no banco do pendura. É isso: uma prática adolescente com motivos de meia-idade.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Autoridade

«Uma vez que a autoridade exige sempre obediência, é muitas vezes confundida com alguma forma de poder ou violência. Mas o facto é que a autoridade exclui o uso de meios exteriores de coação; quando se usa a força, isso significa que a autoridade falhou. Por outro lado, a autoridade é incompatível com persuasão, já que esta pressupõe uma paridade e funciona através de um processo de argumentação. Quando se utilizam argumentos, a autoridade é deixada em suspenso. Contra a ordem paritária da persuasão, temos a ordem autoritária, que é sempre hierárquica. Assim, se temos de definir a autoridade, esta é algo que se opõe tanto à coação pela força como à persuasão mediante argumentos. (A relação autoritária entre quem comanda e quem obedece não assenta nem numa razãocomum nem no poder daquele que comanda; aquilo que ambos partilham é a hierarquia em si, cuja justiça e legitimidade ambos reconhecem e dentro das quais possuem o seu lugar fixo e determinado.)»

Entre o passado e o futuro, Hannah Arendt

sábado, 7 de maio de 2016

Re

Afastar tudo como quem abre os braços à volta ou estica à frente do peito a impor distanciamento. Mandar tudo o que está em cima de uma mesa para o chão. Como nos filmes: puxar a toalha por debaixo dos pratos, talheres, copos, que estilhaçam aos bocados no chão. Ou então só esconder, é suficiente. Como quem corre uma cortina e tapa uma janela ou deixa temporariamente um palco longe de olhares indiscretos. Ou maquilhagem na cara, óculos escuros para tapar as olheiras de uma noite longa. Uma remodelação. Uma redecoração. Uma renegociação. Um reinício. Um recomeço. É um "re" qualquer, disso não tenho a mínima dúvida. Embora não saiba bem como o designar, muito menos definir. Mas é mais ou menos isto.

domingo, 1 de maio de 2016