quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Autismo testosterónico

«É difícil falar com algumas pessoas; a maior parte das vezes com homens. Tenho uma Teoria sobre o assunto. Muitos homens, com a idade, caem num autismo testosterónico que se manifesta no lento desaparecimento da inteligência social e da capacidade de comunicar com outras pessoas, o que também afecta a faculdade de formular pensamento. Acometido por esta Maleita, o Homem torna-se taciturno e parece mergulhar em profunda meditação. Interessa-se mais por diversos Utensílios e maquinetas. Sente-se mais atraído pela Segunda Guerra Mundial e pelas biografias de pessoas conhecidas, particularmente de políticos e malfeitores. A sua capacidade de ler romances desaparece quase completamente; o autismo testosterónico perturba o entendimento psicológico das personagens.»

Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos, Olga Tokarczuk

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

A depressão de final de férias começou lentamente a instalar-se.

Faltava agora apenas o trajecto do Etosha até Windhoek para terminar a viagem. Pelo caminho, tínhamos uma noite no parque de Waterberg. Dos quartos do sopé da estrutura que forma o planalto ouvia-se constantemente os barulhos agressivos dos macacos, que nos obrigavam a ter as portas e janelas constantemente fechadas para evitar invasões e roubos.

Mais perto do final da tarde, depois da hora de maior intensidade do calor passar, fazemos o trajecto de de 30-40 minutos até ao topo do planalto, de cima do qual a vista para não abarcar o horizonte todo. A sessão de fotografias é intensa. À noite, fazemos um churrasco nas instalações do lodge e sentamo-nos a ouvir, pela última vez, as histórias do Gibson. No dia seguinte, pela hora de almoço, estamos de novo no hotel em Windhoek, prontos para as despedidas.

domingo, 26 de janeiro de 2020

Depois de uma primeira tarde de game drive no Etosha desapontante, notava-se alguma apreensão nas caras, quando nos preparávamos para sair.

Pela frente estava um dia totalmente dedicado a ver bicharada no parque, das sete da manhã às seis da tarde, para aproveitar a extensão total do horário de abertura.

A apreensão foi desfeita não muito depois quando nos dirigimos até um aglomerado de veículos. Não sabíamos o que estariam a ver, apenas que certamente seria algo interessante: um conjunto de leões. Sem possibilidade de obter um bom posicionamento – por sermos dos últimos a chegar e pela dimensão do Elefante – optámos por tentar seguir um primeiro subgrupo, que abandonou a sombra da árvore e começou a caminhar.

Lá mais à frente, parados na estrada a ver os leões a afastar-se por terreno sem acesso aos veículos, tivemos a primeira tirada de sorte do dia: as duas leoas que tinham ficado para trás na árvore, levantaram-se e começaram a caminhar em direcção ao resto do grupo, no preciso momento em que estávamos parados entre os dois grupos. Lentamente, languidamente, vieram na nossa direcção, passaram mesmo ao lado do Elefante, uma deitou-se à sombra do veículo, até novamente se levantar e se afastar. Com isto, tivemos todo o tempo para apreciar e tirar uma dose industrial de fotografias, tentando que a excitação do momento não fizesse esquecer as instruções do Gibson de não pôr os braços de fora das janelas do camião.

O momento alto (mais ainda) viria ao início da tarde, quando avistámos uma chita com duas crias, abrigados à exígua sombra de uma árvore. Permanecemos parados algum tempo, a tentar observar por entra aquilo que a vegetação nos deixava ver. Até que o barulho de uma máquina, que passou no sentido contrário, foi a última gota: assustadas, as crias levantaram-se e começaram a afastar-se da mãe. Se, por um lado, perdemos a possibilidade de ver durante mais tempos os animais, por outro lado conseguimos vê-los sem a barreira da árvore e dos ramos.

A terminar o dia, uma manada de elefantes aproxima-se de um charco. Começam por beber, à beira da água. Após satisfazer a sede, vão progressivamente entrando na água, aproveitando para arrefecer o corpo do calor implacável. Cresce-nos um sorriso na cara enquanto os vemos salpicar água pelo corpo com a tromba.

sábado, 25 de janeiro de 2020

O dono do lodge – um afrikaanse magro e grisalho – sobe as escadas do Elefante e dá-nos algumas informações.

Explica-nos que os quartos ficam naturalmente muito quentes quando estão fechados e que não há ar-condicionado. Para dormir, podemos abrir todas as janelas à vontade, nenhum animal vai entrar e não há mosquitos. É como se estivéssemos a dormir ao relento. É recebido com algum cepticismo. Mas, claro, resolvemos testar.

Cada quarto é como uma pequena habitação individual, separado alguns metros dos restantes. A parede onde fica a porta, e onde estão as camas, é a única que não tem janela. À direita das camas, um janelão abre de cima a baixo, a quase totalidade da largura do quarto, para um pequeno terraço, com uma mesa e cadeiras cheias de pó. De frente para as camas, outra parede que é também praticamente só vidro. Finalmente, a parede do fundo tem duas pequenas janelas, entre as divisões que têm o chuveiro e a sanita. No meio das janelas está um lavatório.

Tal como nos havia sido dito, as zebras começam a aparecer ao lusco-fusco, lá ao fundo. Aproximam-se lentamente, dão alguns passos na direcção do buraco de água e param. Esperam um pouco, avaliam a situação, até voltar a ganhar coragem para dar mais outros passos e parar novamente. Sentamo-nos a ver esta aproximação. Torço para que se despachem, é cada vez mais difícil tirar fotografias à medida que a luz vai desaparecendo. Ao mesmo tempo, um cão pequenito e velhote, constantemente a arfar e com uma espécie de carraças a percorrer o lombo, dá voltas consecutivas à propriedade. Surge sempre pela mesma janela da zona do bar e segue pela direita para, passado um pouco, aparecer novamente pela mesma janela, como se estivesse preso numa espécie de Groundhog Day de frequência superior à diária.

Sentamo-nos no terraço a ver as estrelas e as zebras a beber água lá à frente. Embora houvesse um em praticamente todas as camas que passamos, esta foi a única vez na viagem que usei um edredon. Soube bem voltar a dormir tapado. De manhã vemos o nascer do sol.

O dia começa muito cedo, pelas 6h saímos em direcção à Sossusvlei, por forma a evitar a hora de maior calor.

Ironia do destino, acabamos por perder tempo precioso: o Elefante foi vítima de um furo. Quando passámos o portão que dá acesso ao parque, já deveria passar das 11h. A longa e direita estrada corta por uma paisagem de elevações enormes de areia de um cor-de-laranja forte e carregado, que contrasta fortemente com o azul do céu.

A certa altura, a estrada é tomada pela areia e é necessário deixar os veículos num parque, a alguma distância, e apanhar um dos jeeps. A fila de turistas à espera é relativamente grande. Aliás, de todas as atracções turísticas, esta foi a mais concorrida. Esperamos ainda alguns minutos até finalmente ser conduzidos.

À nossa frente está o Big Daddy, uma duna com sensivelmente 325 metros de altura. A estrutura é impressionante: começa do lado direito, por uma pequena elevação, que decai um pouco passados alguns metros, perpendicularmente face ao nosso olhar; depois volta a subir novamente, faz uma viragem à direita quando já está à esquerda do nosso olhar, e continua ininterruptamente até mesmo lá em cima, ao topo, quase a perder de vista.

A maior parte dos aventureiros começa exactamente pelo lado direito, apanhando uma cumeada que percorre todo aquele trajecto. Gibson não considera essa estratégia avisada: segundo ele, são muitos os que, depois de fazer a pequena descida após a primeira elevação, desmoralizam quando vêem a segunda subida, bem mais longa e íngreme. Para evitar este problema, seguimo-lo pelo vale até chegar perto ao local onde a duna atinge o ponto mais baixo, após a primeira elevação. Aí, subimos a face da duna, a parte mais dura de todo o processo, até atingir a cumeada. A partir daí, não tem nada que saber, é sempre a subir. Uma vez chegado ao cume, é preciso fazer alguma ginástica para alcançar os melhores locais, contornado os restantes que ali apreciam a vista e aproveitam o ar mais fresco e a brisa ligeira.

A parte mais curiosa é a descida. Vemos o Gibson sair disparado pela face da duna até chegar ao vale. Resolvemos lançar-nos também com velocidade. Os pés enterram-se na areia áspera, que evita que percamos o balanço e caiamos a face inclinada. Com o movimento, os pés soltam um som grave, que já havíamos ouvido no topo da duna, mas que não percebíamos donde vinha. Quase apetece fazer o esforço de subir novamente para repetir a descida. Uma vez no vale, descalçamo-nos e sacudidos violentamente os ténis para tirar os quilos de areia. Semanas depois, já em Lisboa, ainda descobri areia nos ténis.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Uns minutos depois da pequena casa que serve de recepção, começamos a ver o lodge ao fundo do caminho de terra, na encosta de um pequeno monte rochoso.

São apenas seis quartos e, no meio, uma divisão comum, com uma cozinha, uma mesa comprida e sofás. Em frente a esta divisão comum, a piscina da praxe, virada para o buraco da praxe, a fazer de chamariz para os animais da praxe. Claro está, não há internet nem televisores mas, mais do que isso, nem sequer rede de telemóvel. Numa das noites, a electricidade falha e complica a vida ao grupo de funcionários que ali se deslocou para nos preparar o jantar.

Este foi o momento de ripanço da viagem, sensivelmente a meio dos 16 dias. No final do dia em que chegámos, caminhámos até ao topo do monte ao lado, para ver o pôr-do-sol e lutámos um pouco na descida escorregadia e pouco iluminada. No dia seguinte, saímos de manhã cedo para um passeio, antes do sol se tornar ainda mais impiedoso. A meio da manhã estávamos de regresso para o pequeno-almoço. À noite, depois de jantar, deitámo-nos na espreguiçadeira a contemplar o céu estrelado e a contar as estrelas cadentes.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Parece o cenário de um filme, um pequeno casario espalhado no meio da areia.

Por momentos, leva-me até aos estúdios de cinema que se podem visitar em Marrocos. Mas, contrariamente a essas localidades fictícias que só tiveram existência em filmes, Kolmanskop foi efectivamente, a determinada altura, uma povoação. Fundada no início do século passado, esteve associada à exploração de diamantes no deserto. Após a segunda guerra mundial, a progressiva escassez de diamantes levou a que fosse trocada e abandonada por outros locais onde, entretanto, foram descobertos minérios.

Hoje, a cidade-fantasma a poucos quilómetros da costa é uma atracção turística. Guias exprimindo-se em inglês, alemão e afrikaanse, conduzem rebanhos de turistas pelas antigas construções. Começando no salão de baile – onde o guia de língua inglesa nos mostra a acústica com uma interpretação do “Aleluia”, versão Jeff Buckley, e tocando piano – passamos pelo hospital, pela loja, pela casa do engenheiro, do médico, do governador, entre outros. Para um povoado que contou com algumas centenas de habitantes, há um conjunto de equipamentos relativamente impressionantes, a começar pela máquina de gelo e a pista de bowling, e terminando na máquina de raio-X, a primeira no hemisfério sul.

Pouco tempo antes de ali estarmos, o local foi utilizado para uma sessão fotográfica de moda. A particularidade do local tem atraído, ao longo do tempo, a atenção de fotógrafos e não só. A mais recente alusão ao local é a imagem da capa do álbum Slow Rush dos Tame Impala, cuja divulgação está agendada para o próximo mês.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

O dia seguinte traz-nos uma das deslocações mais longas.

São quase 600 quilómetros de estrada, por vezes duvidosa, até perto da fronteira com a África do Sul. Estamos em pleno deserto do Kalahari que, como ficamos a saber, afinal é apenas um semi-deserto, já que o nível de pluviosidade é um pouco superior ao dos desertos a sério. Até nos desertos há discriminação.

Fazemos um pequeno passeio até ao topo de uma elevação, onde foi instalada uma plataforma de observação. Dali vemos o pôr-do-sol, bombardeados pelo vento que, lá em baixo, faz pequenos tornados, de curta duração, com o pó. Descemos e aproveitamos a pequena piscina, de água um pouco salgada do (semi-)deserto, virada para o buraco de água onde os springboks e os órix abastecem. Não o sabemos ainda nesta fase, mas a piscina virada para o chamariz dos animais vai ser uma constante desta viagem. À noite, bebemos chá rooibos nas cadeiras da rua, a partilhar um cigarro, repletos de repelente de mosquitos.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Gibson chama Elefante ao camião.

Parece um daqueles camiões de abastecimento dos supermercados com a diferença de, onde normalmente está a caixa frigorífica onde vão os alimentos, foi colocada uma vintena de bancos. As janelas do veículo são enormes o que, aliado à própria altura, torna o veículo num óptimo posto de observação.

Ao fundo, há um conjunto de cacifos onde guardamos os sacos de viagem e um frigorífico que mantém a nossa água e alimentos frescos enquanto o motor está a funcionar. A entrada faz-se por uma porta que, quando abre, desdobra umas escadas metálicas, ao estilo dos aviões. De lado, o Elefante tem ainda um conjunto de estruturas amovíveis, que abrem utensílios para fazer e servir refeições.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A visita a Windhoek é necessariamente curta:

a cidade é pequena e não tem propriamente muitos pontos de interesse turístico. Para além de Gibson, o guia com nome de guitarra que andará connosco 15 dias, somos acompanhados por um guia local, um miúdo novo que, se bem me lembro, tinha acabado um curso superior em marketing.
This is my brother from another mother
Assim o apresenta Gibson, uma frase de antologia que vamos ouvir (e dizer) inúmeras vezes ao longo dos tais 15 dias.

Depois de uma visita ao museu que conta a história do colonização e independência da Namíbia, somos conduzidos até à township de Katutura. Gibson pára o camião à beira de uma pequena encosta e o guia novo enfia-se pela abertura entre a cabine do camião e a caixa onde estamos para falar connosco mais facilmente
This is where people come when nature calls
E aí percebo que aquilo que vejo são pedaços de papel higiénico que abanam ao sabor do vento. E ele sabe bem do que fala, ele próprio é de Katutura e já usou estas instalações.

Uma canalha de miúdos vê os turistas dentro do camião e tenta interagir. Não temos, porém, autorização para sair da fortaleza sobre rodas por razões de segurança (you never know). Ainda não tivemos o primeiro game drive e parece que já estamos a ver animais num parque.

domingo, 19 de janeiro de 2020

Cinco horas

Fez uns meses de tropa na Suíça, um dos poucos países europeus onde ainda é obrigatório. Por curiosidade, perguntei-lhe o que é um dia típico de recruta. De tudo o que me explicou - dos exercícios físicos, dos treinos, das aulas, de fazer a cama e lavar pratos - só uma coisa me fez verdadeiramente arregalar os olhos: a hora de recolher era a meia-noite e a alvorada era às 5 da manhã. We were constantly sleep deprived, acrescentou.

sábado, 18 de janeiro de 2020

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Spiel mit mir

Um conjunto de lençóis não é a primeira coisa que vem à cabeça a propósito da expressão "jogo de cama".

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Regras

«To grow up is to realize the extent to which your existence has been governed by systems of rules, vague guidelines, and increasingly insupportable norms that have been imposed on you without your consent and are subject to change at a moment's notice. There were even some rules that you'd only find out about after you'd violated them.»

Permanent record, Edward Snowden

domingo, 12 de janeiro de 2020

The enemy within

Os intolerantes à lactose esperam que a tecnologia lhes permita viajar para fora da Via Láctea.

sábado, 11 de janeiro de 2020

The proof of the pudding

«A datação através de carbono 14 torna improvável que o Sudário [de Turim] tenha dois mil anos. Ainda bem que é assim, porque o catolicismo viveu demasiado tempo ligado a relíquias, fetichismos. Quem quer acreditar que houve um homem que foi martirizado, morreu, esteve sepultado e ressuscitou, deve acreditar sem provas materiais. A fé dispensa provas.»

Imagens imaginadas, Pedro Mexia

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Basta chegar ali à marginal e esticar o braço, aparece logo alguém.

A alternativa seria apanhar um táxi, que é consideravelmente mais caro: uma mota andará pelas quarenta dobras, um táxi umas duzentas e cinquenta. E ir a pé é uma alternativa pouco apetecível, ainda é um pouco longe. Já tinha ido ao forte de São Sebastião durante o dia, não me apetecia fazer os três quilómetros e tal da guesthouse ao restaurante. Para além de quê, segundo me tinham avisado, não é fácil dar com o local.

Meu dito meu feito: seguindo o conselho do proprietário da guesthouse, levantei o braço quando vi a primeira moto que, no entanto, não ligou nenhuma. Virei-me novamente para frente e ia continuar a caminhar pelo passeio quando, uma outra moto apareceu sem que percebesse donde. Digo-lhe
Para a Dona Tété
Responde-me que sim quando esperava que me dissesse um preço. Provoco a resposta e não mostro a minha cara de contentamento quando me diz que são vinte dobras. Salto para o banco de trás e, com o estômago ainda cheio de chocolate da prova que tinha feito, ao final da tarde, na fábrica de Claudio Corallo, tento esconder a minha outra cara, a de quem não gosta de motos.

O percurso, se não é exactamente igual ao que me mostraram no mapa, é muito parecido. E, como me tinha dito o proprietário da guesthouse, a certa altura saímos da estrada e andamos num carreiro de terra, atravessamos um pequeno curso de água e seguimos por outro caminho meio obscuro. Confirma-se: sem ajuda, iria ser um desafio dar com o local.

Ainda é cedo e, lá dentro estão poucas pessoas. Algumas das quais, seguindo uma tendência que se verifica abundantemente por estas paragens, são caras que já vi: um dos grupos esteve, poucas horas antes, na tal degustação de chocolate na qual a filha de Claudio Corallo nos explica a particularidade do cacau que não é amargo. Sento-me numa mesa pequena, no jardim, peço o cherne grelhado e, de entrada, um petisco de búzios.

Tudo somado, o farto repasto deixa-me algo empertigado. E, ao percorrer os caminhos de terra que levam de regresso à estrada principal, apontando a lanterna do telemóvel para ver onde ponho os pés, ocorre-me que o ideal seria caminhar um pouco para ajudar o meu estômago a processar a quantidade obscena de comida. Pouco a pouco, faço os tais 3 e tal quilómetros, passando pelas avenidas largas, pelo palácio presidencial e pela igreja, pelo Instituto Camões, pelo mercado, agora às moscas, mas igualmente sujo. Recuso uma ou outra oferta de transporte das poucas motos que se oferecem.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

À saída do Jalé, apanho três miúdos que entram no banco traseiro do jeep de catana na mão.

Temos alguma dificuldade de comunicação, a língua franca deles não é decididamente o português (angolar?). Percebo que querem ir para lá de Porto Alegre e combinamos que me avisam quando quiserem sair. Falam, entre eles, com um sorriso rasgado na cara, por vezes acenam quando passamos por outras pessoas. Quando chega a altura, fazem-me sinal, encosto onde posso
Obrigado, amigo!

Um bom bocado depois, passada a pior parte e de regresso a asfalto regular, a 5 ou 6 quilómetro de São João dos Angolares, uma senhora de idade, de balde e catana na mão grita-me
Boleia, boleia!
Encosto, aproxima-se do vidro aberto e pergunto-lhe para onde vai
Para os Angolares
Enquanto lhe digo que é exactamente para aí que vou, tiro a mochila do banco do pendura e passo-a para trás, para que se possa sentar ao meu lado, o que a deixa um pouco perplexa
Mas... aí??
Coloca o balde delicadamente, senta-se envergonhada, encolhida ao meu lado. Meto conversa, pergunto-lhe como iria para os Angolares caso não tivesse boleia e ela diz-me que teria de esperar por uma carrinha que passa umas boas mais tarde.

Estamos nesta conversa de circunstância quando, após mais uma das inúmeras curvas, vejo um polícia que me manda encostar. Chega-se à minha janela
Desligue a viatura, por favor.
Desligo o motor.
Documentos da viatura, por favor.
Peço licença à senhora para esticar o braço até ao porta luvas, onde o tipo da empresa de aluguer me disse que estavam os documentos. Pego no pequeno livrete verde e tiro da carteira a minha carta de condução, saio do jeep e entrego ao agente, que os inspecciona.
A viatura é alugada?
Sim
E tem todos os equipamentos necessários? Macaco? Triângulo?
Sim
Posso ver?
Dirijo-me à bagageira, retiro a caixa do triângulo, abro à sua frente.
E o macaco?
Peço licença, retiro o meu saco e levanto a pequena tampa, debaixo da qual estão as chaves e o macaco para mudar o pneu, de acordo com o que me tinha sido dito.
Quando é que o senhor entrou em São Tomé?
Respondo.
Quando é que regressa?
Respondo.
Faz uma pequena pausa, volta a colocar a papelada dentro do pequeno livrete, devolve-me tudo
Ok, pode seguir.

Agradeço, despeço-me e volto a sentar-me ao volante. Espero até ter algumas curvas de distância em relação ao polícia até recomeçar a conversa com a senhora que, durante este tempo todo, esteve na mesma posição encolhida no banco do pendura. Faz uma exclamação em relação ao facto de o polícia ter mandado parar um branco
Brranco tem documento!

Deixo-a no centro da povoação, agradece-me de mãos juntas. Sigo mais um pouco até virar para a estrada que dá acesso à Roça de São João de Angolares, onde passo a noite.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Pouco antes das 21h vejo a luz vermelha de uma lanterna aproximar-se da porta do bungalow.

Ponho a cabeça de fora, trocamos umas palavras, relembra-me que tenho de fazer um pagamento. Visto-me rapidamente, enfio os pés nas havaianas, pego no meu frontal (com a luz vermelha ligada, que não incomoda os bichos) e acompanho-o. Pelo caminho, reparo que calça umas galochas e pergunto-lhe se as havaianas estão bem. Diz-me que não há problema, vamos andar pouco, que as tartarugas estão mesmo perto do lodge.

E, de facto, poucos metros depois do bungalow onde são servidas as refeições, deparo-me com uma enorme carapaça, bem maior do que aquilo que estava à espera. A cabeça está tapada pela vegetação. Fico algo hipnotizado, meio catatónico a observar, enquanto a chuva miudinha vai lentamente ensopando a minha t-shirt. Enquanto isso, ele toma notas num caderno protegido com uma capa plástica, faz medições das dimensões do bicho, coloca identificadores nas patas dianteiras.

O processo repete-se com uma segunda tartaruga, ainda mais perto do bungalow. Desta vez, a cabeça do animal não está tapada e, uma vez mais, fico estarrecido a olhar. Uma parte de mim sente-se algo desconfortável, como se estivesse a invadir a privacidade do bicho.

A chuva intensifica-se e ficamos debaixo de um telheiro, à espera que abrande, enquanto enxotamos os mosquitos como podemos. Por esta altura, os meus pés já estão devidamente repletos de pequenas manchas vermelhas e é difícil resistir à tentação de coçar fortemente. Em vez de abrandar, a chuva fica cada vez mais forte. Acabo por me despedir deles e fazer o caminho até ao meu bungalow o mais rápido que posso. Pouco tempo depois de retirar a roupa molhada, caem os primeiros relâmpagos, imediatamente seguidos de trovões que quase fazem tremer a terra.

Por casualidade, fico a saber posteriormente – no dia do meu regresso a Lisboa, na sala de embarque do aeroporto, sentou-se ao meu lado uma senhora que esteve num dos outros bungalows na mesma noite – que as ondas estavam tão fortes que galgaram o desnível entre o fim da areia e início da terra e passaram por debaixo dos bungalows suspensos em estacas de madeira.

domingo, 5 de janeiro de 2020

Deixo o Ilhéu das Rolas no barco das 9h da manhã.

O barco do Pestana leva os turistas e é seguido, pouco depois, por uma barcaça de pescador, onde vão alguns dos locais e as nossas bagagens. Um grupo está à nossa espera para tocar e cantar músicas tradicionais. Enquanto sou forçado a esperar pela bagagem, finjo um interesse maior do que o genuíno na actuação, para evitar o tipo chato que vende artesanato.

Não são muitos os quilómetros que vou ter de fazer, mas a estrada, tal como esperado, fica progressivamente pior. A saída da última povoação no extremo sul da ilha é feita por uma estrada de pedras grandes, que vai dar a uma outra de terra, que segue ao longo de um campo de futebol improvisado. São sensivelmente três quilómetros de terra e buracos, passando pelo desvio para a praia do Inhame, até chegar.

São três bungalows e, ao fundo, depois de passar uma pequena construção, em frente à qual se senta um segurança numa cadeira de plástico com o encosto meio partido, uma outra construção com a sala de refeições, cozinha e uns balneários, que podem ser usados mediante o pagamento de 25 dobras.

O chuveiro não tem água quente. Há electricidade entre sensivelmente as 18h e as 21h, hora a partir da qual o segurança desliga o gerador e a penumbra se instala. Durante estes dias, o telemóvel apenas vai servir para ouvir música e, uma vez, para me guiar o caminho numa caminhada.

sábado, 4 de janeiro de 2020

A meia hora que me tinham dito que demoraria a chegar à Ponta Baleia transforma-se em mais de uma hora.

Expectavelmente, devo dizer, nenhuma deslocação é tão curta como o apregoam. A estrada piora consideravelmente de qualidade, são várias as secções onde o asfalto é substituído por pequenas pedras, que colmatam a ausência de alcatrão e evitam a acumulação de terra e lama. À medida que se segue para sul, cada vez mais sentimos a crueza da natureza da ilha.

Pouco depois de uma das poucas povoações nestas paragens, está uma placa a indicar a saída para a Ponta Baleia, onde também se lê Pestana. Um local pede-me para parar e tenta negociar comigo uma travessia e refeições no ilhéu; quando lhe explico que sou cliente do Pestana e tenho tudo isso incluído (enfim, o transfer de barco acaba por me ser cobrado), aceita facilmente a ausência de possibilidade de um acordo mutuamente vantajoso e despede-se.

Com alguma (bastante) sorte, o barco está quase a chegar ao ancoradouro quando estaciono o jeep no local onde ficará duas noites. Há uma excursão numerosa, de uma nacionalidade que não consigo identificar, e calculo que seja por isso que seja realizada esta travessia extraordinária do barco do Pestana, à qual acabo por me juntar (venho a saber mais tarde que o barco só tem duas travessias diárias agendadas e que, àquela hora, a da manhã já tinha tido lugar).

Depois do check in na recepção mesmo à saída do cais, sou acompanhado por um funcionário ao meu quarto. O interior está gelado e a primeira coisa que faço após ficar sozinho é desligar o ar-condicionado esforçado. No pequeno televisor, para além do canal da televisão local, tenho acesso à SIC notícias, bem como a Al Jazeera.

O restaurante onde são servidas as refeições buffet fica logo a seguir à piscina, à distância de um lance de escadas. Há vários pratos à escolha, incluindo arroz de pato, vitela, caldo verde e sopa da pedra. Na secção de grelhados na chapa, para além de pedaços de frango, há também umas postas de peixe muito desengraçadas, que mais parecem medalhões congelados da Pescanova. Vai ser a única vez que não vou comer peixe em quinze dias.

Este é um antro de homens grisalhos, de cabelo penteado para trás, calções garridos e camisas vermelhas às riscas, sapatos de vela sem meias. Na mão, para além do telemóvel e da carteira, trazem um maço de cigarros. Elas lêem livros daqueles de capa vistosa dos escaparates das novidades, põem lenços por cima do biquíni antes de percorrer os metros que separam a espreguiçadeira do quarto e, ao jantar, aparecem maquilhadas e de vestido negro.

Estes vão ser os meus dias de verdadeira détente. Troco o papel que me deram por uma toalha e deito-me numa espreguiçadeira, entre a piscina e água azul muito claro. Por esta altura, estou a ler um livro do Norman Mailer sobre o combate entre Muhammad Ali e George Foreman, no antigo Zaire. Sem nunca ter ligado nenhuma a boxe, dou por mim a ver o combate no youtube, algo que a ligação wifi, neste local, permite. Numa das tardes, dou uma pequena volta ao ilhéu e visito o célebre marco do equador. Tiro umas fotografias, que o iPhone localiza no Ilhéu Gago Coutinho.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

O GPS envia-me para o centro da localidade, para uma rua de aspecto mais pedonal que outra coisa.

Antes de prosseguir no que me parece uma indicação altamente duvidosa, abordo dois locais. Não reconhecem a pousada pelo nome. Mostro-lhes a confirmação da reserva e tudo se esclarece: é uma pousada recente, fica fora da povoação e o dono, o Silvino, esteve com eles há uns minutos atrás.
Liga e diz-lhe que estás ao pé do Carlos que ele sabe
Ligo para o número indicado e, em alta voz, identifico-me e digo que estou com o Carlos ao pé da escola primária. Uns minutos depois, enquanto falo um pouco com o Carlos e o amigo, Silvino aparece.
Esclarece que a indicação de localização que colocou no site do booking está errada e precisa de a corrigir. Voltamos atrás uns quilómetros na estrada principal até sair por um caminho de terra que continua por um promontório. Ao fundo, mesmo antes da terra terminar numa descida abrupta para as rochas e o mar, está uma pequena construção de pedra, com uns cadeirões e mesas de refeição e, no piso de cima, três quartos simples, e com uma varanda a toda a volta.

Sou, uma vez mais, o único hóspede numa instalação inaugurada há poucos meses. Escolho o quarto virado a nascente. Depois de combinar com o cozinheiro, que já trabalhou na Roça de São João dos Angolares, a hora a que o jantar vai ser servido – escolho o polvo grelhado – dou um salto até à praia do Micondó, a poucos quilómetros dali.

Qual gato escaldado, evito a zona o caminho que leva até mesmo perto da praia, deixo o jeep parado mesmo à saída da estrada principal e caminho o resto. Na praia, dou de caras com a hospedeira eslava do voo entre São Tomé e o Príncipe, e é assim que, sem resistir a perguntar, fico a saber que é a ela e a tripulação (estão mais à frente, pendurados num ramo de árvore meio submerso) são ucranianos e que vêm para aquelas ilhas por períodos de alguns meses.

Fico até o sol se esconder atrás das árvores e a areia ficar sem luz. Regresso para um duche semi-frio e o tal polvo grelhado. À noite, o céu nublado impede-me de ver as estrelas. Acordo inundado da luz do nascer do sol. Depois de um pequeno-almoço servido nas mesas exteriores, no limite da terra, faço-me novamente à estrada.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Hugo aborda-me assim que me vê passar de jeep.

Explica-me que é aluno do 11º ano e, exibindo o cartão que trás ao pescoço, que é “certificado” para fazer de guia para turistas ali na Roça Água Izé.
Já foste ao hospital?
Explico que acabei de chegar e ainda não tive tempo de ver nada e ele rapidamente oferece um cardápio que inclui não só o hospital, mas também o centro de artesanato e a boca do inferno.

Convida-me a ir na sua moto, algo que tento, sem sucesso, evitar exibindo o mais que óbvio (e com quatro rodas) jeep
Não confias em mim?
atira-me. Que remédio, penso enquanto me sento atrás dele, agarrado à grelha atrás do banco, por cima da roda traseira.

Subimos a estrada de terra até ao impressionante edifício do antigo hospital, uma imagem que já tinha visto em pesquisas online. Ali entramos e subimos as escadas, enquanto me vai fornecendo alguns detalhes da vida, no local, em tempos idos. Encontramos alguns companheiros de trabalho de Hugo que, com o mesmo cartão de identificação ao pescoço, aguardam a chegada de um turista com interesse numa rápida contratação.

O centro de artesanato fica lá em baixo, no outro extremo da roça, num antigo armazém. Hugo deixa-me nas mãos de Zezinha, que me oferece uma visita guiada ao centro. Para além das peças de madeira e de tecidos, há uma zona onde se aprende a fazer peças de artesanato com resíduos, como garrafas de plástico. Dois coelhos com uma cajadada: para além de permitir colocar algum dinheiro nos bolsos dos artesãos, a actividade contribui para evitar a acumulação de resíduos.

O último ponto da excursão é a boca do inferno, a uns minutos da roça. Diz a lenda que um cavaleiro português era o único que conseguia entrar ileso na formação rochosa e que, inclusivamente, saia do outro lado, na boca do inferno de Cascais. Hugo confessa-me, com uma expressão mais carregada, que, na opinião dele, se trata apenas de uma lenda, que não existe mesmo o tal cavaleiro capaz de entrar naquela formação rochosa do oeste da ilha de São Tomé e sair numa região de Portugal. Pergunta-me se concordo e eu avento que sim, que me parece tratar-se apenas de uma lenda.

Regressado ao jeep, desejo-lhe felicidades para cumprir os planos de terminar o 12º e conseguir uma bolsa para continuar os estudos no estrangeiro. Sigo pela estrada costeira até São João dos Angolares, olhando em todas as direcções, à procura do próximo local de pernoita.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O caminho indicado pelo GPS não parece ser difícil.

Na cidade de Trindade, viro num cruzamento e vou subindo. No entanto, a estrada de alcatrão tornou-se, progressivamente, numa de terra e pedras e cada vez mais estreita. Continuo a subir, já não faltam muitos quilómetros, por entre gente de catana na mão, outros a trabalhar a terra, senhoras de alguidares e baldes na cabeça.

Para me sentir um pouco mais confortável (se tal fosse possível nesta circunstância), resolvo confirmar com um senhor que, simpaticamente, me diz que estava quase na Roça Saudade. Quer dizer, até já estava nos terrenos da dita mas os edifícios são mais acima. Continuo, em primeira, pela estrada difícil até passar, com muito jeito, ao lado de duas senhoras que lavavam louça em alguidares, e vou desembocar a uma espécie de praça.

Sigo, devagar, olhando para os dois lados, aliás, para todos os lados sem, no entanto, conseguir identificar o local onde vou pernoitar. A pequena praça tem uma estrada empedrada, ladeada, ao fundo à esquerda, por um muro alto, que deduzo ser o da roça. Sigo ao longo do muro, procurando uma entrada e, pouco depois, desemboco numa estrada alcatroada, em óptimas condições. Olho para o GPS com vontade de o estrafegar: bastava ter feito a viragem em Trindade no cruzamento seguinte e ter-me-ia poupado mais uma aventura de condução todo-o-terreno.

Descoberta esta estrada, por descobrir a entrada para a roça. Faço o percurso inverso e, quase a chegar novamente à pequena praça, vejo um portão velho entreaberto e gente lá dentro: aproveito para perguntar. O miúdo que se prontifica a ajudar não reconhece a Pousada da Roça Saudade. Até que me pergunta se tenho uma imagem. Mostro-lhe o email de confirmação da reserva, que acaba por ser suficiente. Entra pela porta mesmo ao lado das senhoras que continuam a lavar a louça e só então reparo no letreiro da Casa Museu Almada Negreiros. Está virado na direcção de quem vem da estrada principal e não do caminho tortuoso que fiz, por isso não tinha reparado.

Lá de dentro sai um funcionário, passados alguns minutos, que parece algo perplexo a olhar para o email de confirmação. Mais tarde fico a saber que é conhecido por Mola, depois de me dizer o nome do qual, entretanto, me esqueci. Mostra-me a Casa Museu, a estátua do Almada na entrada, a pequena divisão com peças de artesanato e réplicas de gravuras, um poster da exposição da Gulbenkian em 2017. Mais à frente, mostra-me a ainda mais pequena divisão que guarda alguns livros velhos, gastos, que foram coleccionando.

A pousada fica do outro lado da rua, onde as senhoras continuam a lavar, subindo umas escadas de pedra, que vão dar a um portão de correr e um pequeno jardim. Lá em cima, são três os quartos que dão para uma sala comum ampla, com uma enorme varanda de onde se avista a cidade, lá em baixo, à beira-mar.

A construção do espaço terminou há poucos meses. As paredes estão cheias de gravuras e de citações do Almada: “o Dantas cheira mal da boca”, “ Morra o Dantas, morra pim”. Nas mesas de apoio aos sofás e cadeirões, vários livros do e sobre o Almada.

Passada talvez uma meia-hora, surge o dono do estabelecimento. Pede desculpa por não ter estado para me receber. Diz-me que houve uma série de cancelamentos de última hora das reservas, por causa de um incidente: uma manifestação religiosa terminou em protestos violentos e houve uma morte. Assumiu que eu iria também cancelar. Falamos um pouco. Tem uma ideia muito clara e lúcida do que quer para aquele espaço. Dou-lhe os parabéns, digo-lhe que está muito bem conseguido. Depois aconselha-me a ir a Monte Café (ensina-me um atalho) e à cascata a pé. É dos poucos que me incentiva a passear e visitar a comunidade local.