sexta-feira, 30 de maio de 2014

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Memo

Em vez de colocar a folha vertical, deitou-a. Lentamente, escreveu o assunto mesmo no centro. Letras grandes, bem vincadas, carregadas. Desenhou uma bola à volta. Oval. Depois assistiu. E desenhou setas. Setas a sair do bola - oval - e até aos extremos da olha de papel: primeiro até ao canto superior esquerdo, depois verticalmente, depois até ao canto superior direito. E em cada uma dessas zonas tirou notas. Pontos, alíneas, travessões. E assim sucessivamente até encher a folha, até ficar com uma espécie de roda de bicicleta com um centro e os raios, uma espécie de constelação.

terça-feira, 27 de maio de 2014

A arte posta numa esquina

«Por mais brutal que seja dizer isto, com a arte do nosso meio e época aconteceu o mesmo que acontece com uma mulher que vende os seus atractivos femininos, destinados à maternidade, para o prazer dos que se sentem tentados por tais atributos.
A arte do nosso tempo e do nosso meio tornou-se uma prostituta. E esta comparação é certeira até aos mais ínfimos pormenores.
(...)
A arte verdadeira não necessita de enfeites, como a mulher amada pelo marido. A arte falsa, como a prostituta, deve ser sempre enfeitada.
A causa do aparecimento da arte genuína é a necessidade interior de expressar o sentimento acumulado, como para uma mãe a causa da concepção sexual é o amor. A causa da arte falsificada é o negocio, assim como da prostituição.»

O que é a arte?, Lev Tolstói

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Música celestial

À porta do Minipreço, parada, procura qualquer coisa com a mão dentro da mala Luois Vuitton.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sich rar machen

O Truman nunca dava a cara quando as coisas corriam mal, sacudia sempre a água do Capote.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Mir

«Thus, it could not be claimed that some societies are inherently or genetically peaceful, while others are inherently warlike. Instead, it appears that societies do or don’t resort to war, depending on whether it might be profitable to them to initiate war and/or necessary for them to defend themselves against wars initiated by others. (…) It is equally fruitless to debate whether humans are intrinsically violent or else intrinsically cooperative. All human societies practice both violence and cooperation; which trait appears to predominate depends on the circumstances.»

The world until yesterday, Jared Diamond

Eu tenho três motores


"Podemos ser facilitadores, mas quem faz verdadeiramente crescer a economia são as empresas e as pessoas, através da exportação, do consumo privado, do investimento", disse.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Não vi nada desta temporada de terra batida até agora mas, mesmo assim, comento.

Nem que seja para dizer que, em matéria de resultados, esta é a pior temporada dos últimos 7, 8 anos do Nadal. Conseguiu apenas ganhar em Madrid, torneio ao qual faltaram uns quantos nomes, e contra um Nishikori aleijado na final. Pelo que me contaram – lá está, não vi – em condições normais nem essa taça teria levantado.

A somar à má temporada (para os seus próprios padrões) do Nadal, o Djokovic está às escuras este ano, não ganhou na Austrália onde parecia ter um lugar cativo no pódio. A vontade de ganhar em Paris – que já existia porque é o Slam que lhe falta, pese embora o discurso da não obcecação – fica ainda mais espicaçada. E com o maior rival abaixo de par, Nole já deve ter feito todas as contas de cabeça possíveis e imaginárias e deve ter percebido que esta parece ser uma excelente oportunidade – a melhor dos últimos 7, 8 anos – para finalmente levar para casa a Taça dos Mosqueteiros.

Esta pode ser uma mudança de ciclo, um virar de página. Pode também ser uma das edições do Roland Garros mais interessantes dos últimos anos porque parece mais aberta, sem vencedores quasi-pré-determinados.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Molas ou espuma?

Mostro à funcionária qual é a cama em que estou interessado. Discutimos dimensões, preços, condições de entrega e desconto de pronto pagamento. Escreve-me num papel as informações todas, inclui também as relativas à pequena mesa-de-cabeceira ao lado. E depois pergunta-me
E colchões?
ao que eu respondo que sim, também quero saber sobre colchões e quero levar comigo os elementos para depois tomar uma decisão. E é aqui que diz pela primeira vez
Vamos então ver colchões para esta situação.
Há-de repetir esta frase
(ou parecida, por exemplo)
(Temos também este colchão para esta situação.)
umas duas, três vezes mais no decurso da nossa conversa e, em todas elas, consegui - não sem algum esforço - reprimir a minha vontade de explorar o assunto em detalhe. Por exemplo
Olhe que eu ia jurar que não se trata de uma situação, mas sim de uma cama
Ou
Esta situação é complicada/bicuda
A ciência foi a grande prejudicada.

domingo, 18 de maio de 2014

sábado, 17 de maio de 2014

Febo Moniz editada

Ainda estou à espera que chegue à minha caixa de correio

«O significado político, mas também ético, sociológico e filosófico, da ideia principal do livro de Piketty é, por conseguinte, óbvio: se o capitalismo tende a ser patrimonial e a gerar uma sociedade de herdeiros extremamente desigual, então o capitalismo tende a ser tudo menos uma meritocracia, o capitalismo tende a distribuir a riqueza e o rendimento de uma forma que é intrinsecamente (ou sistemicamente) injusta, toda a sociedade capitalista tende a ser uma plutocracia e a tornar-se materialmente incompatível com a democracia (mesmo que, formalmente, não se verifique tal incompatibilidade).

Portanto, o problema, da perspectiva de Piketty, é muito claro: (1) não há uma alternativa credível ao capitalismo, (2) o capitalismo é, na verdade, um factor de desenvolvimento e criação de riqueza, mas (3) só proporciona taxas elevadas de crescimento económico em períodos de recuperação (“catching up”, “rattrapage”) e/ ou de grande crescimento populacional e inovação tecnológica — por isso, (4) no momento actual está plenamente instalada a dinâmica patrimonial do r > g e (5), se nada de radical for feito nos próximos anos, é só uma questão de tempo até voltarmos a ter, nos países mais desenvolvidos, níveis de desigualdade tão grotescos, injustos, anti-democráticos e auto-destrutivos como os da Belle Époque.»

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Frame

A quantidade de vezes que dei por mim a olhar para algo que me apetecia imenso fotografar e não tinha como é ridícula. E, ainda assim, nunca me consegui convencer a andar constantemente acompanhado de uma máquina fotográfica, como as pessoas que tiram fotos a sério. As máquina reflex são pesadas, desconfortáveis, chatas de transportar.

O mais estranho é nunca me ter ocorrido que um smartphone pudesse, em larga medida, solucionar esta lacuna. Talvez por ter um dumbphone, não tinha noção de como um telefone decente ajuda imenso nessas circunstâncias. Os recursos e as possibilidades não serão tantos como os de uma máquina a sério, a qualidade não é a mesma. Mas o sentido de oportunidade é irreprimível: o telefone está sempre connosco, quase nunca nos larga. E, por isso, deu-me (incutiu-me?) a disciplina que não tinha.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Don't talk shop

«One of the major difficulties Trillian experienced in her relationship with Zaphod was learning to distinguish between him pretending to be stupid just to get people off their guar, pretending to be stupid because he couldn’t be bothered to think and wanted someone else to do it for him, pretending to be outrageously stupid to hide the fact that he actually didn’t understand what was going on, and really being genuinely stupid. He was renowned for being amazingly clever and quite clearly so – but not all the time, which obviously worried him, hence the act. He preferred people to be puzzled rather than contemptuous. This above all appeared to Trillian to be genuinely stupid, but she could no longer be bothered to argue about it.»

The hitchhikers’ guide to the galaxy, Douglas Adams

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tenho uma dificuldade enorme em interpretar números de telefone quando estão arrumados em grupos de três.

Não que não faça sentido: é lógico agrupar em três, fica perfeitinho porque são nove no total. O problema, como na maior dos traumas, vem de infância. Ainda antes de os números necessitarem do 21 inicial (e similares de rede fixa), ou o 91, 96 ou 93, os três primeiros algarismos tinham um significado para mim. Na zona do Estoril – Estoril Estoril, São João e São Pedro – havia os 466, 467 ou 468. Os meus pais ainda hoje têm um 468. Uma namorada do liceu – ou melhor, os pais dela – tinha um 466. E havia uma daquelas brincadeirinhas de recreio prontas a ser ditas quando alguém dizia que o seu número começava por 467: 467 tira tira mete mete. Já os 486, por exemplo, eram números de Cascais. Os 476 eram da Parede. A minha avó, que morava em Lisboa, tinha um número que começava por 849. Era como se os três primeiros algarismos parcialmente apresentassem ou dissessem qualquer coisa sobre a pessoa com quem íamos falar.

De maneiras que me habituei a estar forma. A minha cabeça ficou formatada assim. Quando hoje em dia me dizem 218 XXX XXX, confesso que ainda fico um pouco baralhado: fico instintivamente à espera dos dois primeiros algarismos do segundo bloco para os juntar ao último do primeiro bloco e tentar tirar algum significado da sua junção. Normalmente em vão.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Blooper

Disse-lhe que esquecesse tudo. Pediu-lhe que esquecesse tudo. Que não pensasse mais no assunto, ignorasse tudo, apagasse tudo, como se nada fosse, como se nunca tivesse existido.
Não podia: só se pode esquecer o que se conhece.

terça-feira, 6 de maio de 2014

domingo, 4 de maio de 2014

Lachate mi ballare

As expressões baby steps, giant steps, step by step e stepwise approach atingem o seu expoente no contexto da dança.

sábado, 3 de maio de 2014

Dumbster

«One of the major difficulties Trillian experienced in her relationship with Zaphod was learning to distinguish between him pretending to be stupid just to get people off their guar, pretending to be stupid because he couldn’t be bothered to think and wanted someone else to do it for him, pretending to be outrageously stupid to hide the fact that he actually didn’t understand what was going on, and really being genuinely stupid. He was renowned for being amazingly clever and quite clearly so – but not all the time, which obviously worried him, hence the act. He preferred people to be puzzled rather than contemptuous. This above all appeared to Trillian to be genuinely stupid, but she could no longer be bothered to argue about it.»

The hitchhikers’ guide to the galaxy, Douglas Adams

sexta-feira, 2 de maio de 2014

I have days

Põe-me o computador à frente da cara, a homepage do facebook aberta e antes que me desse tempo para terminar o que estava a fazer, começa a falar, a dizer qualquer coisa sobre uma frase e sobre “gostos”. Demoro uns instantes a processar até que
Ah, precisas que te façam likes, é isso?
Responde-me um sim, tímido, com um sorriso a aparecer. Acedo e dá-me duas hipóteses: ou faço login no computador dele ou ele envia-me uma mensagem com o link. Escolho a segunda opção e enquanto me procura pela lista enorme de pessoas com o nome igual ou parecido ao meu, pergunto-lhe qual o objectivo.
É para ser apanha-bolas na final da Liga dos Campeões.
Fico com ainda mais vontade de ajudar o miúdo que entretanto já me encontrou e já está a preparar a mensagem. Mas quantos likes é que precisas? Cerca de quatrocentos responde-me ele.
Então mas os teus amigos não chegam para isso?
Aparentemente não, ainda não tem os que precisa e daí esta abordagem. Necessidade a quanto obrigas. Agradece-me enquanto se afasta. Daí a alguns minutos, quando pego no telefone para responder ao pedido, verifico que não tenho nenhuma mensagem.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

A partir de agora e de vez em quando

também aqui.

É fazer as contas

Não somos os únicos a ter problemas com a matemática. Os italianos também não aparentam ser uns barras. Senão veja-se a política de preços da Panini para a colecção do mundial do Brasil. Uma caderneta nova é vendida juntamente com dez saquetas de cinco cromos por 4 euros e 90 cêntimos. As mesmas dez saquetas sem a caderneta saem a 60 cêntimos cada.