quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Suomi

O meu trolley cinzento vai passear outra vez amanhã. A capital lá de cima que me falta. A última escapadinha do ano, depois rendo-me ao outono. Até para a semana.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Matar moscas com uma carabina

Era tão fanático por caça que desatava aos tiros no centro comercial sempre que abria a época dos saldos.

domingo, 25 de setembro de 2011

Conforme

«One of the most striking regularities of human society is localized conformity. Americans act American, Germans act German, and Indians act Indian. At one school teenagers take drugs, but at another they “just say no”. English and American youths enthusiastically enlisted to fight in World War I, but pacifist sentiments prevailed prior to World War II and in the 1960s.»

A theory of fads, fashion, custom and cultural changes as informational cascades, Bikhchandani, Hirschleifer e Welch

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O facebook agora tem o descaramento de me enviar mails a avisar-me para a frenética actividade dos meus amigos que tenho perdido por não me ter ligado ultimamente. Entretanto, ao escrever a frase anterior, fiquei a conhecer os limites do título de um post nesta geringonça - encalhou mesmo quando estava para espetar o ultimamente. Agora, só para chatear não ponho nada. Por falar em chatear, hoje estou chateado. Quer dizer, não é bem chateado, sou capaz é de ter ficado um bocado afectado pelo acidente que assisti no cruzamento logo a seguir à ponte. Assistir, assistir, não assisti: ia distraído a pensar na morte da bezerra quando ouvi um estrondo. Olho na direcção do ruído e vejo coisas a voar na minha direcção. Só tive tempo de saltar. Felizmente o bocado de pára-choques cor-de-laranja ficou encalhado numa daquelas protecções metálicas que se põem à volta das árvores, caso contrário seguramente me atingiria. Isso e a mochila, o saco, a garrafa, as tralhas todas que estavam na bagageira frontal do carro - era um desportivo com o motor atrás. Precisei de cinco minutos para respirar fundo. E agora se calhar, se não se importam, vou dormir.

domingo, 18 de setembro de 2011

Carne para canhão

« (…) an economic indicator called “guns-to-caviar index.” The index tracks the sales of fighter jets (guns) and executive jets (caviar). For seventeen years, it consistently found that when fighter jets were selling briskly, sales of luxury executive jets went down and vice versa: when executive jet sales were on the rise, fighter jet sales dipped. Of course, a handful of war profiteers always managed to get rich from selling guns, but they were economically insignificant. It was a truism of the contemporary market that you couldn’t have booming economic growth in the midst of violence and instability.

But that truism is no longer true. »

The shock doctrine, Naomi Klein

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mau Maria

Enfiar umas coisas num trolley e só depois pensar em ver a previsão do tempo para Dublin. Está – vais estar – mais frio do que aqui, mais frio do que eu estava à espera que estivesse lá. Ontem sentei-me a ver o Benfica com um tipo que acha que o Manchester é a melhor equipa e ponto final. Ficou chateado quando se apercebeu do line up inicial mas mais chateado ficou quando sofreram o primeiro golo. Depois, curiosamente, alegrou passado uns vinte minutos mas sem, no entanto, ter sofrido um bocadito até o árbitro mandar toda a gente para casa. Entretanto o Ronaldo acha que é assobiado porque as pessoas têm inveja dele. É bem parecido, dá uns toques na bola, tem dinheiro, é fluente em castelhano, tudo factores que despoletam dor de cotovelo e represálias. Quando dou por mim, os dois Sportingues estão a ganhar o que parece fazer algum sentido. Isto, claro, segundo diz a TSF. Não esperem por mim acordados.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O único problema é que eu tenho que trabalhar amanhã

Porque esta final do US Open merece ser vista de uma ponta à outra. Há já algum tempo que não via um encontro com uma intensidade tão grande. É que não é só a qualidade, é a intensidade. Cada jogo de serviço, cada bola é disputada até ao limite. O problema é que 6-2 demora quase uma hora. E eu tenho que mesmo que trabalhar amanhã. Vamos ver até onde aguento.

domingo, 11 de setembro de 2011

Espiral

Não consigo perceber porque ainda fico especado a olhar para as imagens dos aviões a esmagarem-se contra as torres. Devo tê-las visto centenas de vezes, como toda a gente. Ainda assim, hoje, uma vez mais – a enésima – voltei a ficar que nem um parvinho a olhar para o ecrã.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Está tudo bem, obrigado

Voltou tudo a normal. Menos de vinte graus, imenso vento e chuva. A quem chame a isto Outono, outros acham normal que isto aconteça sem ser tecnicamente Outono. Ao mesmo tempo deixou de chover em Nova Iorque, mais especificamente em Flushing Meadows, que fica mais para os lados de Queens. Isso é bom porque agora até me posso dar ao luxo de ver um jogo ao outro, pese embora o facto de que a existência de uma pessoa como a Petkovic – que eu até gosto de ver dançar – me lixe a vida dado que desloca o Djoko para o segundo plano., pelo menos no que diz respeito à televisão alemã. Entretanto fui fazer uma massagem tailandesa. Tive uma dificuldade doida em perceber o que me diziam. Não só porque o sotaque tailandês em cima de alemão não é o meu forte mas também porque é difícil de ouvir por entre os meus gritos a plenos pulmões. Conclusão: a dor que tinha contraído ontem na perna esquerda, depois de correr imenso, não ficou nada melhor. Agora parece que estaleja um bocadito, como se estivesse crocante. A melhor parte é que amanhã é sexta. Tenho uma centena de reuniões para adormecer, peço desculpa, assistir, e depois uma despedida. Na verdade, para ser mesmo honesto, o que me apetece agora é ir dormir e sonhar que amanhã acordo sem dor no pé. Mesmo sabendo que isso não vai acontecer. Só porque não vou já para a cama.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Adoro deixar as coisas no ar.

Suspensas. A imprecisão da incerteza tem uma beleza plástica. Pensar na resposta e na contra-resposta. Tentar antever, prever. E saber esperar – sem desesperar, claro, essa é que a grande virtude. É um exercício de paciência e de calculismo. Complexo. Um jogo como o xadrez.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pequenas subtilezas de cariz geológico

Se um tipo é burro então é um granda calhau mas se é gajo divertido então é uma granda pedra.

sábado, 3 de setembro de 2011

Pífaro

Está normalmente na esquina da farmácia, de frente para as pessoas que saem do buraco do metro com ajuda das escadas rolantes. Cabelo grisalho a escorrer pelas costas, uma saia velha e desajeitada. Tem uma flauta velha de madeira escura, um saco que deposita à frente dos pés enfiados em sandálias de enfiar o dedo. E toca. Toca de frente para a boca do metro, para a praça, para as pessoas que dobram a esquina à sua frente e seguem rua abaixo até ao centro da cidade.

Toca tão bem como eu faço crochet: desafina a cada três notas numa melodia insuportável. Faz-me lembrar quando tinha aulas de flauta na primária e não conseguia controlar as notas agudas. O dó central e as notas adjacentes eram relativamente fáceis mas subir na escala tornava-se penoso quando era forçoso ter uma série de dedos na flauta e os mindinhos não tinham a destreza suficiente para controlar os orifícios finais. Tem uma tristeza espelhada na cara que eu não sei explicar e que joga na perfeição com aquela música deprimente. As pessoas passam e não ligam puto e ela continua a olhar para o infinito enquanto se concentra na música.

Vasculho a minha cabeça e não me lembro de ver seja quem for dar-lhe esmola. Vasculho ainda mais e apercebo-me de que não há recipiente, não me lembro de ver um recipiente para as moedas dos transeuntes incomodados com a pobreza alheia. Não sei onde as pessoas que precisam de se sentir bem com elas próprias podem depositar a moedinha, o troco de uma porcaria qualquer que compraram. E então considero a hipótese de que toca apenas para partilhar a sua melancolia, a sua tristeza com os que passam por aquela esquina.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Clap

A moda de bater as palmas após a aterragem (segura) de um avião parece estar a voltar em grande força. Uma espécie de exumação. Mais do que uma vez e para destinos diferentes assisti, um pouco aparvalhado, à alegria daquelas pessoas que provavelmente pensaram que iam morrer. É bom quando descobrimos que ainda não é desta. Isto faz-me lembrar outra coisa: as palmas quando acaba uma aula daquelas estilo fitness, aeróbica, pilates. Também aqui os frequentadores cumprem o ritual à risca embora dificilmente pelo mesmo motivo da possível morte adiada. Estarão a celebrar o final da aula? Se é assim tão chato que mereça comemoração no final mais valia nem sequer terem lá metido os pés. Estarão apenas contentes porque fizeram desporto? No limite, é-me mais complicado perceber as palmas que surgem no final da aula no ginásio do que as que surgem no seguimento da aterragem.