quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Jeunesse

Um tipo começa a aperceber-se que já não vai para novo quando – entre outras coisas – o jet lag de uma viagem com alguns fusos horários demora alguns dias a ser contrariado. Mas um tipo apercebe-se verdadeiramente que está velho quando o jet lag de uma rambóia de fim-de-semana demora até quarta-feira.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sou distraído, e depois…?

Comprei papel higiénico e, quando cheguei a casa, percebi que apenas tinha pensado que tinha comprado papel higiénico: era rolo de cozinha. Conclusão: não comprei guardanapos para gastar o rolo de cozinha.

domingo, 28 de agosto de 2011

Mareo

Descemos por uma rampa até à plataforma de metal de onde lançam os barcos para o rio. A ondulação obriga-nos a ter algum cuidado para não cair. Olho para o céu, nuvens escuríssimas, carregadas, está a ficar com cara de chuva. Diz-me Let’s go I’m getting seasick. Saimos pela rampa do fundo, sempre a lutar para manter o equilíbrio. E, de repente, ocorre-me:

How can you be seasick on a river?

sábado, 27 de agosto de 2011

Estão dez graus a menos

Assim, de repente. E só para chatear: logo agora que é fim-de-semana e podia finalmente enfiar-me nas águas plácidas da piscina descoberta do estádio, ao mesmo tempo que aproveitava para fintar as abelhas. Assim não. A dormitar e a tratar de coisas em casa porque no meio dos pingos da chuva e dos 20 graus à tangente não é me entusiasma muito. Ontem começou a festa dos museus. São Pedro roeu a corda e a carga de água temperada por relâmpagos foi tão grande que no caminho para lá resolvemos antes apanhar o metro e ir para outro sítio qualquer. Não percebo porque insistem em fazer coisas ao ar livre se, no fundo, não há ar livre nesta terra, está preso pelos arames da instabilidade do tempo. Das wetter, dizem eles, mas devia ser antes uma palavra feminina - só assim se entenderiam as variações súbitas de humor.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Ainda sobre esta cena da recompensa do Kadhafi

Tenho alguma curiosidade em saber se seria possível levantar a recompensar em camelos. E claro, qual o valor em duas bossas, ou seja, qual a taxa de câmbio euro/camelo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

S

Não sei bem explicar a tua voz. É talvez cheia. Quente. De cores quentes e fortes. E, ao mesmo tempo, suave. Resvalas por entre as palavras como se evitasses os pingos da chuva. Suavemente. Como o teu sotaque. Eu que tenho queda para apreender rapidamente e imitar sotaques alheios, não o consigo reproduzir. Há qualquer coisa nas sibilantes que me enternece. Que me hipnotiza, acho eu. Lânguidas. Se ficasses o dia todo a falar-me eu ficaria o dia todo a ouvir-te. Não interessa o quê. Não que não me interesse o que me dizes – não me leves a mal – mas a tua voz. Quente. E o sotaque cheio de sibilantes que não consigo imitar e que lentamente me hipnotizam. Às vezes lutas com as palavras um bocado, olhas para mim e nos teus olhos está um pequeno pedido de ajuda com qualquer coisa que não sabes dizer. As palavras fogem-te dos lábios como areia a escapulir-se lentamente pelos dedos. Eu ajudo-te, dou-te de bandeja a palavra que estás à procura só para ver o teu sorriso tímido. E ouvir-te dizê-la. Com esse sotaque, com essas sibilantes lânguidas. Cheias.

domingo, 21 de agosto de 2011

Esta terra está cheia de abelhas, infestada, uma autêntica praga.

Há constantemente uma daquelas coisinhas voadoras de rabo às listas amarelas e pretas a sobrevoar, a fazer voos rasantes à nossa cabeça, a zumbir irritantemente. Comer ou beber um copo na rua é uma autêntica aventura: insinuam-se por entre cada garfada, espreitam para dentro de cada copo. De abelhudas que são, por vezes põem uma pata em falso e mergulham no líquido. Depois agonizam até acabar afogadas dentro de copos meio bebidos.

A culpa disto tudo parece ser do tempo. O verão precoce que surgiu na primavera fez com que saíssem para a rua mais cedo do que é habitual no padrão sazonal. Por sua vez, isso levou a que se reproduzissem abundantemente e povoassem ferozmente o mundo. Para mim, que sou um mariquinhas que tem fobia destes bichos, só há um lado positivo para esta história. Segundo consta, a duração que têm inscrita nos genes está a começar a bater à porta e nas próximas duas semanas a Maia mais as amigas terão os dias contados.

Vão cair que nem tordos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dá-te asas

O facto da máquina de vending do local onde labuto estar repleta de latas de red bull – e a oferta de outro tipo de bebidas ser relativamente escassa – só pode querer dizer alguma coisa.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Never ending story

Cumprir o Ramadão em países muito distantes do Equador pode ser muito complicado: a luz solar no verão, pura e simplesmente, não tem fim.

domingo, 14 de agosto de 2011

Auf der anderen Seite

‘tás a ver o chavão “os homens são todos iguais”? Aquela coisa que as mulheres costumam dizer e logo a seguir acrescentam que são básicos, que os topam à légua.
Por acaso não acho, tenho imensa dificuldade em conseguir entendê-los.
Mas isso agora não interessa. O que eu queria dizer é que não penses que as mulheres são diferentes.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nouvelles

«Em sua essência a vida é monótona. A felicidade consiste, pois, numa adaptação razoavelmente exacta à monotonia da vida. Tornarmo-nos monótonos é tornarmo-nos iguais à vida; é, em suma, viver plenamente. E viver plenamente é ser feliz.
(…)
Parece, a princípio, que as cousas novas é que devem dar prazer ao espírito; mas as cousas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada, e não vibra indefinidamente.
(…)
Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes de este hoje nunca houve este hoje.»

Citações e pensamentos de Fernando Pessoa

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Citações e pensamentos

De vinte e nove para trinta não muda nada assim de substancial mas atinge-se o estatuto de trintão. Que, aliado a um cabelito branco ou outro, até nem é mal esgalhado.