segunda-feira, 30 de junho de 2014

Dislexia

Ainda não me tinha apercebido - pelo menos não tanto como nos últimos dias - o quanto baralho o nome (português) da Argélia: sai-me Algéria de vez em quando. O que faz algum sentido, é um estrangeirismo do inglês Algeria ou do francês Algérie ou do etc. Aliás, segundo a Wikipedia, é assim também na versão autóctone. Agora por que carga de água teríamos nós (os espanhóis também?) de trocar a ordem das consoantes e passar o "l" lá para trás e "r" cá para frente é difícil de entender. É mais ou menos como a história do nosso bacalhau versus o cabalhau dos outros. Já neste último caso não me engano.

domingo, 29 de junho de 2014

Infância

«When I first heard jazz, it wasn’t “jazz”. It was music. I grew up in a household where you could hear Ornette Coleman right next to Otis Reading, where A Love Supreme and Sergeant Peppers were both in heavy rotation, where Old and New Dreams and a Balinese Gamelan Orchestra often shared the same bill. When I was young, I didn’t recognize “jazz” as being categorically separate or substantively different from “blues,” “rock,” “funk,” ”soul,” “classical,” “indian,” “African,” “Indonesian,” or any other of the countless musical genres I heard pipping over the public airwaves or crackling out of my mom’s old reel-to-reel tape recorder. I wasn’t yet conscious of musical styles as well-defined, easily-labeled, intellectually-specific entities. For the most part, I didn’t even know their names.»

Freedom in the groove, Joshua Redman

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Há de haver um dia em que vais parar de procurar.

De buscar, como uma criança perdida. De olhar para os lados, a varrer todo o campo visual. O dia. Há de chegar. Mais tarde ou mais cedo, é uma questão de tempo, vais deixar de procurar, vais deixar de sentir a vontade de continuar à busca, a necessidade de continuar à busca. Vais olhar só para o que tens à tua frente – e não para todos os lados, a varrer todo o campo visual. Como uma criança que se perdeu. E só então vais finalmente ver o que está à tua frente.

domingo, 22 de junho de 2014

Semear o futuro

«It is important to understand that these very large net positions in foreign assets allowed Britain and France to run structural trade deficits in the late nineteenth and early twentieth century. (…) This posed no problem, because their income from foreign assets totaled more than 5 percent of national income. Their balance of payments was thus strongly positive, which enabled them to increase their holdings of foreign assets year after year. In other words, the rest of the world worked to increase consumption by the colonial powers and that the same time became more and more indebted to those same powers. This may seem shocking. But it is essential to realize that the goal of accumulating assets abroad by way of commercial surpluses and colonial appropriations was precisely to be in a position later to run trade deficits. There would be no interest in running trade surpluses forever. The advantage of owning things is that one can continue to consume and accumulate without having to work, or at any rate continue to consume and accumulate more than one could produce on one’s own. The same was true on an external scale in the age of colonialism.»

Capital in the twenty-first century, Thomas Piketty

sexta-feira, 20 de junho de 2014

O jargão do politicamente correcto em matéria de recursos humanos é sui generis.

Dantes as pessoas eram funcionários, trabalhadores. Agora são colaboradores, uma espécie de promoção designativa que é suposto atentar à sensibilidade dos funcionários e trabalhadores – perdão, colaboradores. É, no fundo, uma questão de tacto. Já não trabalhamos, nem sequer funcionamos: colaboramos. Do ponto de vista linguístico, nem sequer são equivalentes: podemos ser funcionários de uma instituição e não trabalhar puto nem colaborar um boi. Provavelmente a mesma corrente que decidiu rever as tabuletas que se põem ao pescoço dos funcionários – perdão, colaboradores – também reviu a forma como nos devemos referir a elas na terceira pessoa. Do ponto de vista da gestão, calculo eu. Nesse campo, os trabalhadores – perdão, colaboradores – transformam-se em recursos. Às vezes chegam a ser activos. Assets, em estrangeiro, soa mais sofisticado e dá menos azo a piadas de cariz duvidoso.

Aos poucos tenho vindo a aperceber-me que sou isto tudo sem, no entanto, e francamente, sentir que sou rigorosamente alguma destas coisas. Até trabalho, logo devo ser trabalhador. Também tenho um número mecanográfico, logo devo ser funcionário. Costumo colaborar, vai daí sou colaborador. Mas a todos os que me chamam isto tudo ou parte do cardápio (também eles certamente funcionários, trabalhadores e colaboradores, assim como recursos ou activos, em diferentes doses) apetece-me dizer-lhes: sou o Daniel, caso não tenhamos ainda sido apresentados.

Antigamente chamava-se genericamente serviço de pessoal aos actuais recursos humanos. Soa-me estranho e, lá está, antiquado. Mas, ainda assim, sou capaz de me sentir mais representado. Porque os segundos, passe o trocadilho, são impessoais.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

Os hinos parecem-me sempre coisas muito desengraçadas.

Pindéricas até. Pensando bem nas coisas, o espanhol é dos meus preferidos porque tem uma grande virtude, seguramente, acidental: não tem letra. Ao menos só sofremos com a música e não levamos com "o meu país é melhor que o teu toma toma".

domingo, 15 de junho de 2014

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Paralaxe

A distância entre aquilo que se percepciona como uma bênção e como uma maldição pode ser muito curta.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Cut the mustard

Já foi há uns quantos anos que Jimmy Connors deixou temporariamente a reforma para assistir aos treinos do Andy Roddick. Foi com a ajuda de Connors que o Roddick voltou a estar em alguns finais de Slams.

Entretanto, Magnus Norman fez uma parceria sueca com Robin Soderling e levou-o à final de Roland Garros duas vezes mas não conseguiu fazê-lo levantar o troféu, tal como ele que perdeu com o Guga no mesmo palco. Parece que agora Norman é treinador do Stan Wawrinka.

Mais recentemente, duas contratações bombásticas: Boris Becker para a box do Djokovic, Stefan Edberg para o do Federer. Outras interessantes: Goran Ivanisevic e Marin Cilic, Ivan Ljubicic do Milos Raonic e Sergi Bruguera e Richard Gasquet.

Uma joint venture que deu que falar foi a de Ivan Lendl e o Andy Murray: o checo/americano parecia ser o ideal para o escocês porque também sofreu até conseguir ganhar o seu primeiro Slam (4,5 finais perdidas?). Agora, poucas semanas depois de ter sido anunciado o fim da relação profissional, chega a notícia mais interessante de todas: a Amèlie Mauresmo como treinadora do Andy Murray, a substituir o Lendl.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Canalha

«(…) other Westerns and I are struck by the emotional security, self-confidence, curiosity, and autonomy of members of small-scale societies, not only as adults but already as children. We see that people in small-scale societies spend far more time talking to each other than we do, and they spend no time at all on passive entertainment supplied by outsiders, such as television, video games and books. We are struck by the precocious development of social skills in their children. These are qualities that most of us admire, and would like to see in our own children, but we discourage development of those qualities by ranking and grading our children and constantly telling them what to do. The adolescent identity crises that plague American teen-agers aren’t an issue for hunter-gatherer children. The Westerns who have lived with hunter-gatherers and other small-scale societies speculate that these admirable qualities develop because of the way in which their children are brought up: namely, with constant security and stimulation, as a result of the long nursing period, sleeping near parents for several years, far more social models available to children through allo-parenting, far more social stimulation through constant physical contact and proximity of caretakers, instant caretaker responses to a child’s crying, and the minimal amount of physical punishment.»

The world until yesterday, Jared Diamond

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Heute wär ich mir lieber nicht begegnet

A tua cara ilumina-se quando me vês. Sorriso rasgado. O brilho dos olhos. Mesmo sem me (re)conheceres
Quem é este menino?
E não sabes. Eu sei que não sabes. Mesmo quando por vezes tentas dar a volta à pergunta, fugir à resposta, és uma mestre a disfarçar. Mas não faz mal. Não me importo. Porque mesmo assim a tua cara, o teu sorriso. Rasgado. Os olhos. O brilho. E aí, nesse momento, sei que sabes quem sou. Mesmo sem me conheceres (reconheceres?).
Então não sabe?
Deixaste o menos importante para trás. Ficaste com o mais importante. Guardaste o que interessa: a tua cara, o teu sorriso. Os olhos. E nisso, para lá de tudo o resto que, bem vistas as coisas, pouco me importa – troco isso tudo pela cara, o sorriso, os olhos. E mesmo quando não conheces, reconheces, sabes
Diga lá quem é este menino
sei que sabes quem efectivamente sou.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Sorge

«(…) food is a major and almost constant subject of conversation. I was initially surprised that my Fore friends spent so much time talking about sweet potatoes, even after they had just eaten to satiation. For the Siriono Indians of Bolivia, the overwhelming preoccupation is with food, such that two of the commonest Siriono expressions are “My stomach is empty” and “Give me some food.” The significance of sex and food is reversed between the Siriono and us Westerners: the Sirionos’ strongest anxieties are about food, they have sex virtually whenever they want, and sex compensates for food hunger, while our strongest anxieties are about sex, we have food virtually whenever we want, and eating compensates for sexual frustration.»

The world until yesterday, Jared Diamond

terça-feira, 3 de junho de 2014

Gaspiller

Gostava de ter de volta toda a energia que gasto em coisas que não interessam para nada mas que, ainda assim, tenho que as fazer. E tenho que as fazer para poder (finalmente) fazer as que verdadeiramente interessam. Do total de esforço envolvido com uma determinada tarefa, uma grande parte não é efectivamente empregue nessa tarefa mas sim em actividades acessórias de necessidade duvidosa mas de utilidade comprovada: levar a cabo as de necessidade e utilidade comprovadas. Não é tanto ou só pela quantidade em si – e ainda assim gasta-se muito. É pela dificuldade de aceitar: cansa sempre mais aquilo que não entendemos e dificilmente aceitamos.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Stickiness

«Anecdotally, there is certainly evidence of a high degree of stickiness in the demand for retail financial services. Statistically, an adult is more likely to leave their spouse than their bank.»

What is the contribution of the financial sector: Miracle or mirage?, Andrew Haldane, Simon Brennan e Vasileios Madouros

domingo, 1 de junho de 2014

Ora aí está

"O que eu quero é destruir a UE, não é a Europa. Acredito numa Europa de nações. Acredito na Airbus e Ariane, numa Europa de cooperação, mas não quero esta União Soviética Europeia"

A propósito dos resultados das europeias

e da proliferação de eurocépticos em Bruxelas, ocorre-me ter um monarca como Presidente da República: D. Duarte em Belém, a Isabelinha primeira-dama. Ou um ateu como Papa, a discursar da varanda do Vaticano, vestido de branco. Um benfiquista como Presidente do Sporting e um sportinguista como presidente do Benfica. Carecas a gerir cabeleireiros, sei lá.