quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Outono

É a única altura em que há verdadeiramente ondas, o resto do ano parece uma água de banheira. Quando setembro está a chegar ao fim e o final do verão é anunciado com a chegada das marés-vivas. A bandeira verde é substituída pela bandeira vermelha. Agora que penso, não me lembro de ver amarela, o salto da calmaria para a agitação é grande a esse ponto. Não há quase ninguém na escassa zona de areia que não foi comida pela espuma do mar mas há bandos de surfistas na água, os fatos pretos contrastam na água. Em algumas zonas, a desfazem-se com tanta força que, quando se despenham contra o paredão, galgam-no e despejam-se sobre os incautos que caminham descontraidamente. As chaminés. Alguns já conhecem as manhas, os miúdos que ficam nos pontos nevrálgicos a olhar para o mar: quando vêem uma pequena ondulação a formar-se, colocam-se mesmo debaixo da zona de impacto. Uma espécie de queda de água, cascata intermitente. Soltam gritinhos de alegria e correm em seguida para as toalhas, enquanto esperam pela próxima. Outros ficam na rectaguarda, suficientemente resguardados esperam de câmara em riste pelo momento exacto para o enquadramento perfeito. Outros estão só a ver, a apreciar este espectáculo anual.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Dream

O raio da música a dar no rádio e eu a não a querer ouvir, cheio de vontade de tapar os ouvidos, fazer barulho, bloquear aquele som que não controlo. Tarde demais. Os acordes, a melodia, até o raio da letra, exactamente como me lembrava, a desenterrar o que não quero desenterrar, o que não me apetece desenterrar. Tudo é um pretexto – consciente, subconsciente? – para voltar atrás, recordar, reviver tudo outra vez como se fosse agora, neste momento. O rádio, a música e eu a ver tudo outra vez a passar à frente dos meus olhos, agora também me apetece fechar os olhos para não ver embora não esteja mesmo a ver. São só uns minutos, são só alguns minutos e depois passa, acaba, vem outra música a seguir. E veio, pouco depois, outros acordes, melodia, letra. Mas a memória ficou, é a mesma.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012