segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

21

Há uns meses, parecia inevitável que fosse Djokovic o primeiro a passar a fasquia dos 21 Slams. Não aconteceu no Open dos EUA e a potencial segunda oportunidade do Open da Austrália esfumou-se antes que tivesse pegado numa raquete. 

Para quem não quer há muito, já dizia a minha avó e possivelmente a do Nadal também. O espanhol não se fez rogado. Numa final épica, conseguiu dar a volta a um encontro que parecia irremediavelmente perdido após o desfecho do 2o set, e ganhar o torneio onde foi menos bem sucedido. 

É certo que as contas ainda não estão fechadas - enfim, com Federer possivelmente estarão - e Djokovic deve estar morto por reequilibrar a contenda. Mas com Roland Garros - o torneio onde é favorito como ninguém é favorito em mais nenhum torneio - à distância de uns meses e com o elevado astral desta vitória, quem sabe se, em vez de encurtar, a distância não poderá, ao invés, dilatar-se. 

Roger Federer enaltece Rafael Nadal após 21º Grand Slam: 'Orgulhoso de  compartilhar era com você' - Jornal O Globo

domingo, 30 de janeiro de 2022

Dig

«I was excited to go. I put on my straw hat and walked downtown, but when I got there, I couldn't bring myself to go in. By chance, Jimi Hendrix came up the stairs and found me sitting there like some hick wallflower and grinned. He had to catch a plane to London to the Isle of Wight Festival. When I told him I was too chicken to go in, he laughed softly and said that contrary to what people might think, he was shy, and parties made him nervous. He spent a little time with me on the stairs and told me his vision of what he wanted to do with the studio. He dreamed of amassing musicians from all over the world in Woodstock and they would sit in a field in a circle and play. It didn't matter what key or tempo or what melody, they would keep on playing through their discordance until they found a common language. Eventually they would record this abstract universal language of music in his new studio.

"The language of peace. You dig?" I did.»

Just Kids, Patti Smith 

sábado, 29 de janeiro de 2022

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Irreverente e irrelevante

«I bought stacks of books, but I didn't read them. I taped sheets of paper to the wall, but I didn't draw. I slid my guitar under the bed. At night, alone, I just sat and waited. Once again I found myself contemplating what I should be doing to do something of worth. Everything I came up with seemed irreverent or irrelevant.»

Just Kids, Patti Smith 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

À escolha

 à entrada do restaurante, o funcionário pede-me o certificado. Pergunto-lhe qual prefere, o de vacinação ou de recuperação. 

domingo, 23 de janeiro de 2022

Embarrassment of riches

Possivelmente devido a insistência minha, a minha mãe fez-se sócia de um clube de vídeo, quando eu era miúdo e os meus amigos passavam a vida alugar filmes. A experiência não durou muito tempo: perdi a conta à quantidade de vezes em que, após pegar numa caixa de VHS vazia no escaparate e expressar a vontade de alugar aquele filme, recebi a resposta frustrante de que não estava disponível porque já estava alugado. Esta frase vinha quase sempre seguida de uma sugestão de um filme semelhante que pudesse satisfazer a minha vontade de ver um filme e evitar que regressasse a casa de mãos a abanar. Infelizmente, a sugestão era, quase invariavelmente, de um filme de qualidade inferior face à minha escolha inicial. 

Tornou-se claro que muitos dos filmes em disposição não estavam disponíveis não porque já estivessem alugados, mas sim porque, pura e simplesmente, o vídeo clube não os tinha para alugar. E, no entanto, ali estavam as respectivas caixas de plástico, com as lombadas coloridas nos escaparates, para ludibriar os mais incautos. 

Hoje em dia, a história do velho vídeo clube vêm-me, por vezes, à memória, mas pela razão oposta: são várias as vezes que percorro os vários canais e plataformas de streaming disponíveis e nenhuma série ou filme me suscita a curiosidade. E, no entanto, não tenho a mínima dúvida que a oferta que aparece no cardápio está toda efectivamente disponível. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Só miúdos

«We were walking toward the fountain, the epicentre of activity, when an older couple stopped and openly observed us. Robert enjoyed being noticed, and he affectionately squeezed my hand.

"Oh, take their picture," said the woman to her bemused husband, "I think they're artists."

"Oh, go on," he shrugged. "They're just kids."»


Just kids, Patti Smith

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Oratória de balneário

O debate entre André Ventura e Francisco Rodrigues dos Santos mais parecia ter lugar num balneário de uma aula de educação física do ensino básico. Só faltaram frases iniciadas com "a tua mãe".  

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Os 60 Grand Slams

A grande (única?) questão devia ser só quem termina com o melhor palmarés. Em si, a questão não é, neste momento, fácil de responder. A métrica que costumava servir para qualquer desempate teima em mostrar um empate redondo: três jogadores com 20 títulos de Grand Slam cada um. Na senda de arranjar uma tira-teimas, há quem olhe para vitórias nos torneios que se seguem na hierarquia (Masters 1000 e a respectiva final), bem como para o confronto directo. Em ambos os critérios, Djokovic sairia por cima: no primeiro, está tangencialmente à frente de Nadal (mais uma vitória) e claramente à frente de Federer (mais nove vitórias); no segundo critério, é o único que tem frente-a-frente favorável face aos outros dois (Nadal tem face a Federer e o suíço tem desfavorável face aos dois). 

Donde uma vitória adicional num Grand Slam poderia ser o ponto final na discussão de quem é o tenista com melhor percurso. Não aconteceu o ano passado, na final do US Open, na qual Djokovic perdeu o controle emocional e nem mesmo ele, Houdini que consegue evadir-se das situações mais complicadas no court, mostrou um indício de ser capaz de dar a volta a um marcador que lhe foi sempre desfavorável. Já para não falar do episódio do US Open de 2020, de uma da bola atirada num rasgo de frustração e que veio a atingir um juiz de linha na cara. E que, claro, não obstante não ter sido intencional, acabou com a imediata desqualificação (como não podia deixar de ser). 

É é assim que chegamos ao início da época de 2022. Uma nova (e, já sabemos, desperdiçada) hipótese de ultrapassar Nadal e Federer voltava a presentear-se, desta feita no court onde foi mais bem sucedido: nove vitórias em Melbourne, quase metade de todos os Grand Slams. Resta saber as implicações adicionais que a decisão das autoridades australianas poderá vir a ter, designadamente, se a deportação implica que Nole não poderá entrar na Austrália nos próximos três anos. E, claro, quais as regras que outros países e torneios terão em vigor: para já, França e Roland Garros parecem vir a exigir também a vacinação dos atletas.  

Como entusiasta de ténis - e sem, de maneira nenhuma, querer desculpabilizá-lo -, é uma pena não poder ver o sérvio jogar nesta edição do Open da Austrália e gostaria que não fosse afastado de mais nenhum torneio. Mas é só mesmo nessa qualidade. 


sábado, 15 de janeiro de 2022

A páginas tantas

A única situação em que o Expresso poderia ter mais páginas é quando se arrumam caixotes para uma mudança.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A várias mãos

No primeiro debate das legislativas que assisti, Rui Rio constatou o que parece óbvio: nem o PS nem o PSD conseguirão governar sozinhos, independentemente de quem ganhe. Não haverá maioria absoluta e será necessário chegar a um entendimento com outros partidos do chamado "arco da governação" para formar uma solução de governo. E é possível que esta seja uma característica que tenha vindo para ficar e que o tempo em que faziam constantes apelos a maiorias absolutas e a votos úteis tenha ficado para trás. 

Coligações e acordos parlamentares sãos seguramente menos estáveis e têm maior probabilidade de desmoronar do que soluções em que só um partido é suficiente para governar. Relativamente aos acordos parlamentares, a experiência da "geringonça" está muito fresca na memória colectiva que, acaso necessitasse, facilmente seria avivada com as constantes referências que têm surgido na actual campanha. No caso das coligações, basta recuar uns 10 anos até aos atritos entre PSD e CDS no governo de Passos Coelho, cujo expoente máximo terá possivelmente tido lugar aquando do célebre episódio do "irrevogável".

No papel onde a teoria é escrita, o produto que resulta do diálogo - de falar e de ouvir, de entendimentos e desentendimentos, negociações com exigências e cedências - terá uma boa probabilidade de melhor reflectir diferentes opiniões e sensibilidades e, por isso, ser mais inclusivo. A questão é saber qual dos dois pesa mais: se aquilo que se ganha com a estabilidade ou com a diversidade. Tendo a achar que, à medida que nos habituamos à ideia de que maiorias absolutas são coisa do passado, as soluções governativas a várias mãos tenderão a ser mais estáveis. 

 

domingo, 9 de janeiro de 2022

Não saber o que é preciso fazer para fazer o que é preciso fazer.

Não ter sequer noção por onde começar. Que, normalmente, se manifesta por um conjunto de arranques inconsequentes, que invariavelmente terminam em embates de frente contra paredes de betão armado. Isso e andar um bocado aos círculos, sem sair do mesmo sítio. No limite, não saber sequer o que é preciso fazer. 

Por vezes, o nó Górdio é tão temporário como um fim-de-semana, uns quantos dias de confusão e nevoeiro mental, falta de discernimento. O problema é quando é mais longo: é um exercício bem difícil aceitar que não vale a pena insistir. Olha para outro lado, muda de perspectiva, tudo coisas que não agradam à teimosia. 

sábado, 8 de janeiro de 2022

A insustentável leveza do sintoma

Era normal que a garganta se ressentisse da cantoria da noite anterior, pelo que não fez disparar o alarme. Da mesma forma que o nariz um pouco entupido não é nada de novo, acontece com alguma frequência e é defeito de fabrico. Por isso, a indisposição da manhã seguinte - a dor de cabeça, o calor seguido de arrepios de frio, o cansaço e o corpo moído - não foram propriamente antecipados. Muito menos a febre, fenómeno que, tirando um final de dia há uns 5 ou 6 anos, não sentia na pele desde a adolescência. 

Ao descrever os sintomas a quem tem maior familiaridade com eles levei como resposta "então mas isso é ter febre". Nada de novo, portanto. E, de facto, nada que o bom velho paracetamol não conseguisse resolver, passado algumas horas de ingestão de 1000 mg. A dor de cabeça, as variações de temperatura, o cansaço, a dor no pescoço, tudo isso desapareceu quase por completo. Ficou o tal nariz entupido do costume e a garganta dorida, que lhe costuma fazer companhia. A certa altura, chamaram a tosse para se juntar e fazer um trio que, por duas noites, resolveu fazer as suas performances sobretudo madrugada dentro, lá para as 3h, 4h da manhã, desnecessariamente interrompendo o meu rico sono. 

Os sobreviventes tornados peritos em Ómicron diziam-me que tinham tido só uma coisa leve, sem grandes repercussões e que passou depressa. Sintomas ligeiros, sintomas moderados, o Saúde24 que decida como os quer oficialmente classificar (quando resolver atender) - até porque parece que essa distinção pode influir com o número de dias de clausura. A mim, ninguém me tira da ideia que esta é das piores gripes que tive em muitos anos. E a febre, bem como os sintomas conexos, contribuíram largamente para a minha classificação. 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Conta-gotas

Farto da lufa-lufa, do rame-rame e das lenga-lengas do dia-a-dia, o pobre-diabo aspirava por um fim-de-semana entregue ao deus-dará.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Dizia-nos que parecia um ferro de engomar.

Porque, vista da estrada, a casa só parecia ter a largura do portão que dava acesso aos carros. Uma vez lá dentro, percebíamos a real dimensão daquela casa onde passámos umas semanas de verão. Eu era um adolescente e lidava mal com os dias de férias no Algarve, que me pareciam repetir-se uns aos outros, sempre iguais, qual Groundhog Day: acordar cedo, ficar à espera que os restantes acordassem sem fazer barulho, tirar senha para ir à única casa-de-banho, sair para a praia (sempre para a da Falésia, apesar das constantes queixas relativas à dificuldade da subida da escadaria e da estrada até ao carro) à hora do cancro, ficar o dia todo a aboborar entre areia e água, regressar, tomar banho, jantar e dormir. Não admira que levasse sempre vários livros e cassetes para o walkman. 

Por isso, naquele verão, a possibilidade de passar tempo com outra gente de idades mais próximas da minha e sem ser num apartamento onde estávamos sempre a chocar uns nos outros, foi um verdadeiro bálsamo. Das poucas vezes - senão mesmo a única - que efectivamente gostei daquelas férias. Lembro-me quando descíamos, de manhã, pelo pinhal para a praia de Santa Eulália, e nos deitávamos na areia, na galhofa. Lembro-me de regressar para o almoço, esganados de fome e, umas horas depois, voltar para uma segunda dose de praia de tarde. Houve, inclusivamente, noites em que até fomos à água, sob o céu estrelado, só pela piada. 

Pouco tempo depois deste verão, o Algarve acabou-se: passei a ter idade suficiente para conseguir convencer os meus pais a não ir para aquele suplício e ficar na capital. A opção prolongou-se para lá do final da adolescência e pelos primeiros anos e décadas de adulto. Só mais recentemente pus fim ao interregno e recomecei a ir, com alguma frequência. Algumas vezes - ironia do destino - buscando activamente um conjunto de Groundhog Days, daqueles que servem para alhear o cérebro e recarregar baterias.

Num desses dias, fiz a estrada a caminho de Albufeira e, ao passar pelo portão estreito, com a cor pálida a pedir uma nova demão de tinta e ervas a sair pelos intervalos das grades, lembrei-me do ferro de engomar.

sábado, 1 de janeiro de 2022