sexta-feira, 29 de abril de 2016

terça-feira, 26 de abril de 2016

CCB mostrou-nos que oitenta concertos é quanto basta para dar a volta ao mundo.

(Publicado originalmente aqui)


A premissa dos “Dias da música em Belém” do CCB deste ano, que tiveram lugar entre os dias 22 e 24 de Abril, partiu de uma das mais emblemáticas obras da literatura do século XIX: “A volta ao mundo em oitenta dias” da autoria de Júlio Verne. O CCB propôs-se emular a mítica viagem do fleumático britânico Phileas Fogg e do seu carismático criado francês Passepartout. Mas, em vez de o fazer literalmente e com o recurso aos transportes disponíveis à altura, o CCB presenteou-nos, ao invés, com oitenta concertos de música dos mais variados locais, cantos e recantos do mundo, tocados pelos cerca de 1700 músicos que pisaram os palcos do centro.

E, de facto, a enorme diversidade dos concertos atesta ao carácter eclético que se pretendeu imprimir a este acontecimento musical, qual pequena aldeia global musical a decorrer num fim-de-semana lisboeta. A título de exemplo, às 15h de sábado encontravam-se a decorrer, em simultâneo: a sinfonia Escocesa de Mendelssohn interpretada pela Orquestra XXI, música de Nova Orleães tocada pelos Desbundixie e, nas salas de menor dimensão, música de inspiração grega, israelo-palestiniana, da Guiné-Bissau, bem como uma sessão dedicada à latinidade, com temas de, entre outros, Carlos Paredes, Pedro Jóia e Paco de Lucía.

Nestas circunstâncias, o mais difícil é, por vezes, navegar pelo programa e fazer escolhas. Os concertos de abertura e de encerramento são as poucas excepções que não obrigam a escolher. O primeiro teve lugar na 6a feira à noite e contou com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direcção de Pedro Amaral, que interpretou Debussy, Manuel de Falla e a Scheherazade de Rimsky-Korsakov. No domingo à noite, o concerto de encerramento intitulado “A viagem de Phileas Fogg” fez uma última homenagem àquele herói, com um alinhamento que incluiu obras de Verdi, Puccini e Copland, entre outros.

Dentre as sessões mais relevantes, destacam-se a dedicada à Rússia Imperial da Orquestra Sinfónica Portuguesa, acompanhada pela violinista Tatiana Samouil e pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos, assim como o concerto para mão esquerda de Ravel, com Frédéric Chaslin a interpretar ao piano e, em simultâneo, a dirigir a Orquestra Gulbenkian. No final, Chaslin convidou o público a acompanhá-lo enquanto tocou o Bohemian Rapsody dos Queen.

Júlio Verne foi o autor que mais li na minha infância, um interesse cultivado pelos meus avós que me ofereceram a quase totalidade da obra do escritor francês. É certo que não folheio uma página desses livros há décadas mas ainda hoje têm assento numa prateleira dedicada cá em casa. E, sobretudo, o escritor ficou para sempre associado ao meu imaginário juvenil, com as suas histórias de feitos e peripécias improváveis e aventuras corajosas.

De certa forma, a viagem ao mundo em oitenta concertos dos “Dias da música em Belém” enquadra-se naquele espírito. E, à semelhança de Fogg que decidiu levar a cabo a sua viagem motivado por uma aposta de vinte de mil libras, também a Direcção do CCB fez aquilo que considerou de uma “aposta arriscada” ao deixar o Grande Auditório, na tarde de sábado e num total de quatro concertos, a cargo de um conjunto de jovens formações: a OJ.Com, a Jovem Orquestra Portuguesa e a Orquestra XXI. Apesar de um possível menor efeito de atracção destas formações – bem como de maestros jovens – junto do público face a outras mais conceituadas, entregar-lhes as chaves do Grande Auditório com o intuito de promover o futuro da música portuguesa foi uma aposta considerada ganha.

E nem assim a organização do evento se ressentiu. No que toca a números, a taxa de ocupação situou-se perto daquela verificada no ano passado e com um incremento da oferta de concertos – 63 em 2015 face aos tais 80 deste ano. Para além disso, e a somar às tradicionais actividades destinadas a fazer chegar a música aos mais novos, a edição deste ano teve também a novidade de um conjunto de espectátulos de dança. A sala Júlio Verne esteve dedicada a ritmos africanos e latinos, na noite de 6a feira, assim como nas tardes de sábado e domingo. Por tudo isto, a organização faz um balanço bastante positivo desta edição dos “Dias da música em Belém”, naquele que é um dos momentos mais importantes da programação anual do CCB.

Em relação ao futuro, a Direcção do CCB levantou um pouco do véu do que serão as linhas orientadoras do festival em 2017. O tema será “Letras da Música” e o objectivo será explorar a relação entre a literatura e a música. Uma das iniciativas pensadas será lançar o desafio a alguns escritores para serem programadores, o que poderá começar com ex-directores da casa. Neste contexto, a organização tem em vista as suites de violoncelo para Bach, obra particularmente apreciada por Vasco Graça Moura.

É pretendido também alargar o espectro da programação com a inclusão da ópera, embora, neste caso, a opção deverá recair sobre árias e não obras completas. Por um lado, porque a duração de uma ópera não se coaduna com o formato de 45 a 50 minutos pretendido, embora tal não seja de excluir, por exemplo, como concerto de encerramento. Por outro lado, há a questão mais prosaica mas igualmente importante do relevo orçamental que a ópera implicaria – fica lançado o repto aos patrocinadores.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Finger in the dyke

A história é a de um rapaz holandês que descobre um buraco num dos diques que protege o seu país do mar; o rapaz passa a noite com o dedo no buraco para evitar a fuga de água e a consequente inundação. É usada para descrever situações em que uma pequena acção pode evitar males maiores ou, de uma forma mais negativa, acções que visam minimizar as consequências de um dado problema sem, no entanto, lidar com as causas. Mais recentemente foi apropriada pelo anterior presidente da Fed americana para descrever algumas formas de actuação da instituição.

A mim ocorre-me que daria um óptimo título para um filme porno.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Innen

Tinha uma falha tão crónica de people skills que não o recomendaram a melhorar a forma de relacionamento interpessoal mas sim o intrapessoal.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Rigor

Não há mais ou menos rigor; ou há rigor ou não há rigor. Uma frase que ouvi num anfiteatro na faculdade, da boca de um professor do qual não gostava, uma desampatia que nada tinha a ver com capacidade técnica, antes uma ausência deliberada e orgulhosa de soft skills. Mas tinha razão. Toda. O rigor é uma variável binária.

Não significa, no entanto, que seja necessário utilizar constantemente níveis de precisão máximos em tudo. Seria impossível e, no limite, indesejável. Aqui entra outra coisa que aprendi na faculdade - desta vez não num anfiteatro: existem diferentes infinitos, uns maiores do que outros (um artigo sobre o assunto aqui). Tudo depende da tarefa em mãos. Um engenheiro que construa uma ponte pode necessitar de um grau de precisão maior do que eu quando me medem a altura para o cartão de cidadão. Custo/benefício.

Rigor é uma intersecção destes dois parágrafos: escolher o nível de precisão adequado para uma dada tarefa e manter o mesmo padrão constantemente. É claro que, quando pensamos em manter o padrão, consideramos normalmente falhas por defeito. Mas falhas por excesso também são faltas de rigor.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Be and seem to be

Na política fala-se muito da necessidade de, para além de sê-lo, também parecê-lo. Ainda assim uma necessidade mais premente é, para além de parecê-lo, também sê-lo.

domingo, 10 de abril de 2016

domingo, 3 de abril de 2016

Evitaria tanta corrida desnecessária.

As entradas do metro deveriam ter a indicação do tempo de espera para o próximo comboio em cada direcção.