sexta-feira, 31 de julho de 2015

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Belated

Quando aum amigo a roçar os quarenta anos lhe disse, preocupado, que sentia estar a passar por uma crise de meia-idade, respondeu: Só agora? Eu comecei na puberdade. Quando nem sequer tinha carta para poder comprar um descapotável.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Bumper stickers quoting #2

No braço um relógio desajeitado, desengonçado. Plástico e feio. De um verde muito verde. A fazer lembrar os relógios que ofereciam com o shampoo - Vidal Sassoon, acho eu - quando era miúdo. O relógio vinha na parte superior do frasco - se calhar por isso a cor, para não se distinguir do frasco - e era igualmente horrível. Tive um professor de educação visual (ou trabalhos manuais?) que usava uma coisa dessas. E, naquele momento, em que desço a rua e vejo o homem que todos os dias fuma em frente à loja de colchões, que todos os dias vejo a fumar em frente àquela montra de coisas ortopédicas e almofadas em promoção, só naquele dia reparo no relógio que me faz pensar em aulas de educação visual (trabalhos manuais?) e num professor (Fernando?) por quem nunca tive qualquer tipo de empatia, que me era totalmente indiferente. Mas que nunca consegui esquecer que usava relógios que vinham em frascos de shampoo. Vidal Sassoon.

sábado, 25 de julho de 2015

Queijo tinto e vinho da serra

É provável que não sejam muitos os que gostam de ser o centro das atenções mas os que efectivamente gostam, gostam mesmo.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Bumper stickers quoting

Sempre à mesma hora. À porta da loja de colchões, a fumar. Anda para trás e para a frente, o cigarro na ponta dos dedos sapudos. Magro, os óculos escuros de aspecto moderno contrastam com as rugas da cara, com o cabelo grisalho. A camisa aberta à frente, caminha para trás e para a frente, mas sempre sem ultrapassar a montra da loja de colchões. Sempre à mesma hora - quase poderia acertar o relógio por ele -, sempre a fumar.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ser-se romano

«(...) mas é um tipo que faz a única coisa inteligente que se pode fazer para justificar o facto de viver na América: joga na bolsa. Passar as manhãs na sede local da Merryl Linch, Fenner, Pierce and Smith, a seguir na fita as contratações do Stock Exchange de New York, as variações no placards electrónicos, a estudar o momento certo para vender e para comprar, com o telex na sala a estender as últimas notícias sobre as quais se pode orientar as nossas operações, a acompanhar a vida de todas as grandes empresas americanas, a ler o Wall Street journal assim que chega, este é o único modo de não viver passivamente a vida de um grande país capitalista, é no fundo a verdadeira instância democrática da América, porque embora não dê nenhuma possibilidade de ter influência, senão no andamento do mercado especulativo, contudo mantém-nos imersos no mecanismo na sua parte mais avançada e activa, e exige uma atenção constante - neste país de interesses assustadoramente locais e provincianos - ao conjunto do sistema.»

Um eremita em Paris, Italo Calvino

domingo, 19 de julho de 2015

Fight or flight

Tea Leoni: You don't like crowds?
Ricky Gervais: It's not so much the crowds, it's the individuals in the crowds.

sábado, 18 de julho de 2015

A pé, atravessamos a rua com o semáforo vermelho quando não vem lá ninguém. De carro não o fazemos: podemos queimar um amarelo - rápido, rápido -, não parar totalmente num stop como manda a lei, mas não arrancar depois de parados num vermelho. E mesmo que não venha lá ninguém. Na primeira situação é mais improvável causar dano a alguém mas é mais provável sair aleijado; na segunda é o contrário. Causar dano alheio parece ser mais doloroso que ao próprio. Ou, alternativamente, que nos valorizamos menos. Uma espécie de altruísmo na versão código da estrada.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Sinfonia

Em grego, "acordo" é designado por "sinfonia", a mesma palavra que usamos para designar a composição musical. Ironicamente, pressupõe "concórdia de sons" e "harmonia".

domingo, 12 de julho de 2015

25a hora

Da austeridade à humilhação, estende-se um convite (pontapé no rabo?) de saída.

terça-feira, 7 de julho de 2015

How much difference does it make

À acusação de fleumático - blasé, foi o termo usado - respondeu que não conseguia deixar de se estar a cagar para o facto de se estar a cagar.

sábado, 4 de julho de 2015

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A cruz que se descarrega

Meses de campanha, a correr o país de comício em comício. Entrevistas atrás de entrevistas, debates com os rivais, preparados ao milímetro, na defesa e no ataque. Acompanhamento quase maníaco das sondagens, reuniões com o director de campanha e a entourage, gestores de imagem. Tudo isto lhe veio à cabeça enquanto escrevinhava no boletim de voto uma cruz convicta no seu principal adversário. Quem pensa que é o melhor candidato, tinham-lhe perguntado na recta final da campanha; deu a resposta óbvia que todos os que se vêem naquela posição dão: eu. E agora pensava na brutal ironia de tudo aquilo. Dobrou o papel em quatro e regressou à urna para a fotografia da praxe e para prestar declarações aos jornalistas, reiterando a sua confiança na vitória.