quinta-feira, 22 de julho de 2021

Desde miúdo que fico em polvorosa com viagens.

Faço contagens decrescentes até ao dia da partida. Na véspera durmo mal, muito mal, tal não é a excitação. Desta vez é diferente o que sinto: não é tanto excitação, é mais ansiedade. Ou seja, tem um cariz mais negativo do que positivo. E acho que nunca estive assim ansioso porque é a primeira vez que a realização de uma viagem está dependente do resultado de um teste PCR. Eu não acho que o resultado do teste venha a ser positivo: porque estou de saúde, porque não tive contactos de risco, porque me protejo. Mas mas não vou conseguir descansar enquanto não receber uma mensagem com a palavra "negativo" lá pelo meio. E nem sequer pude ir a correr tratar do assunto para acabar com a minha miséria mais cedo, porque o dito teste tem que ser, no máximo, uns dias antes de partir. Talvez lá para o início da tarde de amanhã - altura em que espero já ter recebido o tão aguardado resultado - possa transformar a ansiedade na mais simpática excitação. E, a partir de um resultado negativo, passe para uma emoção positiva. 

domingo, 4 de julho de 2021

Donde é difícil dizer qual o saldo líquido.

Costuma dizer-se que, com a idade, aprendemos a preocupar-nos apenas com aquilo que interessa. E, em certa medida, é verdade. Aprende-se a relativizar: determinadas coisas que poderiam parecer bichos de sete cabeças em décadas idas são agora meros pormenores, relegados à insignificância. Mas também se aprende a identificar chatices e reconhecer perigos onde dantes, em idade mais tenra, não se vislumbrava nada. A despreocupação da ignorância é substituída pela preocupação de quem está mesmo a ver o filme. 

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Pessoas de armas

Gendarme é daquelas palavras que têm uma lógica auto-explicativa bastante vincada. Lembro-me quando, em miúdo, me explicaram o que me deveria ser óbvio mas não era. A palavra foi-me pronunciada devagar, separando o "gens" de "d'armes", de forma quase teatral. A associação destas pessoas com armas a uma força policial, por seu turno, foi imediata. 

O modelo de força militar com responsabilidades policiais e de assegurar o cumprimento da lei foi exportado para vários países, incluindo para a portuguesa Guarda Nacional Republicana. Nem todos conservaram a piada da palavra (uma vez mais, como a GNR); já os italianos desenrascaram-se lindamente com os carabinieri. 

Ocorreu-me que, pela força da razão do significado da palavra, a solução francesa não funcionaria em todo o lado: por exemplo, nos EUA falar em pessoas com armas não permite distinguir forças policiais de qualquer outro cidadão. 

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Porsches e cozinhas

Não, até porque o foco está muito na pequena fraude com os fundos, estão a recuperar-se as histórias que ocorreram nos anos de 1980, 1990, do empresário que recebeu o dinheiro dos fundos europeus e que em vez de o investir foi comprar um Porsche. Essas fraudes, neste momento, estão muito mais controladas, diria que já não se fazem, mas que permitem ao discurso político vir dizer: ‘Como viram, isto correu tudo bem porque já ninguém comprou Porsches ou renovou a cozinha’. E é verdade que está tudo mais informatizado e é mais difícil fazer uma fraude desse género neste momento. Mas com o foco neste tipo de fraudes, esquece-se todo o resto, que é o que acontece a montante, e isto de duas formas: a primeira, é com a escolha dos projetos que são financiados, há vários tipos de financiamentos europeus, diversas formas de fazer o financiamento, que podem ir, por exemplo, para aquelas linhas de financiamento das empresas, e quando se fala de fraude, e é aí que devemos ter agora alguma da atenção. Mas há outras coisas. As grandes obras públicas têm sido financiadas por fundos europeus, e aí a questão não é tanto quem é que ficou com o dinheiro. Imagine-se que se volta a fazer um TGV, a escolha do TGV ou a opção por fazer um novo aeroporto, temos que pode ser desnecessária a obra em si, ou desnecessário o tamanho da obra, mas que se decide fazer porque se sabe que isso vai favorecer determinados grupos económicos, ou até a localização das obras. Fazendo-se uma grande obra no município x em vez de se fazer no município y, porque o município x é governado pelo partido do poder ou porque é necessário, também por razões políticas, que ali haja um determinado benefício.