quarta-feira, 31 de outubro de 2018

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Black arts of propaganda

«Not surprisingly, the two countries to master the black arts of propaganda in the twentieth century were the totalitarian states of Nazi Germany and the Soviet Union. Their techniques of manipulating the public and promoting their hateful ideologies have trickled down to several generations of autocrats and demagogues around the world. Lenin specialized in promises he would never keep. "He offered simple solutions to complex problems," Sebestyen wrote in his biography of the Bolshevik leader. "He lied unashamedly. He identified a scapegoat he could later label 'enemies of the people.' He justified himself on the basis that winning meant everything: the ends justified the means.
Hitler devoted whole chapters of Mein Kampf to the subject of propaganda, and his pronouncements, along with those of his propaganda minister, Joseph Goebbels, would constitute a kind of playbook for aspiring autocrats: appeal to people's emotions, not their intellects; use "stereotyped formulas," repeated over and over again; continuously assail opponents and label them with distinctive phrases or slogans that will elicit visceral reactions from the audience.»

The death of truth, Michiko Kakutani

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Era um casal nos seus 60 anos, mais coisa menos coisa.

Ela via-a poucas vezes e não me recordo se alguma vez chegámos a falar. Com ele cruzava-me amiúde, sempre agradável e com um sorriso simpático. Um dia de Inverno, esperávamos os dois o elevador e fizemos conversa de circunstância sobre o tempo. A certa altura, em relação a estar protegido para o frio, disse-me "não pode bobear" enquanto ajeitou o cachecol à volta do pescoço.

A presença de ambos fazia-se sentir sempre ao final da tarde: aí a partir das 19h, um cheiro delicioso de um jantar a ser preparado invadia o corredor. Dava vontade de bater àquela porta e fazer-me de convidado para a refeição. À noite, ouvia-se o televisor do outro lado da parede lateral da sala, sempre na Globo TV: o volume um pouco elevado, eventualmente uma questão da idade.

Noutro dia, reparei que a janela deles tinha novamente a placa a anunciar que a casa estava para alugar. Não muito tempo depois, cruzámo-nos no corredor, a porta deles aberta e um monte de caixotes corroboravam a mudança. Trocámos algumas palavras, disse-me que iam passar uma temporada no Brasil mas que o objectivo era regressar novamente a Lisboa. Desejámo-nos mutuamente felicidades.

Depois vieram os inquilinos novos, um casal que raramente vejo. Cruzei-me com ele: ele a sair do elevador para o qual eu ia entrar. Começámos a dizer boa tarde um ao outro em uníssono, eu em português e ele em inglês, e ele corrigiu de imediato para um português pouco suave.

Fiquei com uma desconfiança - posteriormente confirmada - relativamente à sua nacionalidade quando, no decurso de um jogo do mundial da Rússia, o Japão esteve a ganhar dois a zero à Bélgica e duas exclamações, muito entusiasmadas, se fizeram ouvir, em simultâneo com os golos. Alto e bom som, em total contraste com a típica existência murmurante, senão silenciosa dos japoneses. A seguir a estas duas exclamações vieram outras três, menos efusivas e com um tom diferente, que coincidiram que os três golos da Bélgica no remanescente do jogo.

Para além do episódio dos 5 gritos (e do desaparecimento do letreiro da janela), o único outro sinal da sua presença foram dois guardas-chuva abertos que, por vezes, quando as condições a isso obrigam, deixam a secar no corredor.

domingo, 28 de outubro de 2018

Mensch

Dificilmente poderá haver um nome mais inapropriado para uma presidente ou primeira-ministra como Regina.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Pós-verdade

É fundamental verificar as afirmações e insinuações, para informar e tentar combater a manipulação. Mas, por outro lado, parece conferir a quem recorre à estratégia da mentira e constante negação uma força ainda maior. Porque, no limite, o problema de Trump, Putin ou qualquer equivalente (há tantos) não se trata da verdade nem de ser apanhado numa mentira: eles sabem que nós sabemos que eles sabem. A verdadeira (mesmo, a sério) questão é ter a capacidade para criar uma "verdade" que não é verdade, de definir aquilo que deve ser, mesmo que todos saibamos que não é (incluindo quem profere). Por outras palavras, é o poder para definir e fazer o que se quiser com impunidade, uma espécie de bullying. Exactamente por isso, por paradoxal que seja, o fact-checking e a exposição dos atropelos à verdade pode contribuir para acentuar esse poder: no limite, quão mais ousada for a mentira, mais descarada e atrevida, maior será a sua constatação.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Denial

«Trump gave some private advice to a friend who had acknowledged some bad behaviour toward women. Real power is fear. It's all about strength. Never show weakness. You've always got to be strong. Don't be bullied. There is no choice.
"You've got to deny, deny, deny and push back on these women," he said. "If you admit to anything and any culpability, then you're dead. That was a big mistake you made. You didn't come out guns blazing and just challenge them. You showed weakness. You've got to be strong. You've got to be aggressive. You've got to push back hard. You've got to deny anything that's said about you. Never admit.»

Fear, Bob Woodward

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Time bucket

Zangado, o título a 30 anos acusou o de 10 de ter a maturidade de uma criança.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

domingo, 21 de outubro de 2018

Poder de definir a verdade

«These sorts of lies, the journalist Masha Gessen has pointed out, are told for the same reason that Vladimir Putin lies: "to assert power over truth itself." In the case of Ukraine, Gessen wrote in late 2016, "Putin insisted on lying in the face of clear and convincing evidence to the contrary, and in each case his subsequent shift to truthful statements were not admissions given under duress: they were proud, even boastful affirmatives made at his convenience. Together, they communicated a single message: Putin's power lies in being able to say what he wants, when he wants, regardless of the facts. He is president of his country and king of reality."»

The death of truth, Michiko Kakutani

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

.

«Como o cadáver do duchman morto (assim lhes chamávamos) era minado para que quem viesse enterrá-lo (um velho, uma mulher, uma criança) também encontrasse a morte ao lado da pessoa próxima, na sua terra natal.»

Rapazes de zinco, Svetlana Alexievich

domingo, 14 de outubro de 2018

A de cima ou a de baixo

«Antes de partir para um raide, púnhamos um bilhete na parte de cima da roupa, outro na de baixo. Se pisares uma mina - há de restar uma parte de ti, a de cima ou a de baixo.»

Rapazes de zinco, Svetlana Alexievich

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Um conselho

«Advice is what you get when the person you're talking with about something horrible and complicated wishes you would just shut up and go away. Advice is what you get when the person you are talking to wants to revel in the superiority of his or her intelligence. If you weren't so stupid, after all, you wouldn't have your stupid problems.»

12 rules for life, Jordan Peterson

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Chamo-lhe contraponlítico.

Assumamos - se não por princípio, pelo menos pelo pragmatismo - que o resultado preferível seria a exposição tranquila e sem interrupções das opiniões e argumentos de dois intervenientes. No entanto, verifica-se, tradicionalmente, uma constante sucessão de interrupções e quasi-discursos simultâneos, de vozes sobrepostas. Vistos por este prisma, os debates políticos televisivos parecem um equilíbrio de Nash: o resultado óptimo não é atingido porque a estratégia individual dominante é interromper e falar por cima do adversário. É sempre melhor torpedear o adversário, independentemente de ele também o fazer: se não interromper, tenho o melhor dos resultados possíveis (a nível individual), aquele em que exponho as minhas ideias sem qualquer interferência e interfiro activamente com a exposição alheia; se me interromper, evito o inverso da situação anterior, o pior resultado (individual) possível.

E é assim que chegamos a esta espécie de contraponto na fala. Uma sobreposição de duas (às vezes mais) vozes. Mas que, ao contrário da música de quem foi às aulas, não soa bem, porque as vozes que cruzam não o fazem com um intuito construtivo. Normal: o objectivo não é co-existir mas sim destruir.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Identidade de grupo

«Here's the fundamental problem: group identity can be fractioned right down to the level of the individual. That sentence should be written in capital letters. Every person is unique - and not just in a trivial manner: importantly, significantly, meaningfully unique. Group membership cannot capture that variability. Period.»

12 rules for life, Jordan Peterson

domingo, 7 de outubro de 2018

Totalitarismo

«That is what totalitarian means: Everything that needs to be discovered has been discovered. Everything will unfold precisely has planned. All problems will vanish, forever, once the perfect system is accepted. (...) Communism, in particular, was attractive not so much to oppressed workers, its hypothetical beneficiaries, but to intellectuals - to those whose arrogant pride in intellect assured them they were always right.»

12 rules for life, Jordan Peterson

sábado, 6 de outubro de 2018

Géneros (des)construídos

«The insane and incomprehensible postmodern insistence that all gender differences are socially constructed, for example, becomes all too understandable when its moral imperative is grasped - when its justification for force is once and for all understood: Society must be altered, or bias eliminated, until all outcomes are equitable. But the bedrock of the social constructionist position is the wish for the latter, not belief in the justice of the former. Since all outcome inequalities must be eliminated (inequality being the heart of all evil), then all gender differences must be regarded as socially constructed. Otherwise the drive for equality would be too radical, and the doctrine too blatantly propagandistic. Thus, the order of logic is reversed, so that the ideology can be camouflaged. The fact that such statements lead immediately to internal inconsistencies within the ideology is never addressed. Gender is constructed, but an individual who desires gender re-assignment surgery is to be unarguably considered a man trapped in a woman's body (or vice versa). The fact that both of these cannot logically be true, simultaneously, is just ignored (or rationalized away with another appalling post-modern claim: that logic itself - along with the techniques of science - is merely part of the oppressive patriarchal system).

12 rules for life, Jordan Peterson