sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Our man in Havana

A minha proposta de palavra nova: “jão”. Significa “já não” e nasceu fortuitamente de um typo. De onde se pode concluir que um “typo” é uma espécie de sexo desprotegido da dactilografia.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

21 anos

Aprendi com o meu avô a gostar de alguns dos grandes campeões do atletismo. Lembro-me de ver com ele o Sotomayor saltar. Lembro-me da final de salto em comprimento mítica que terminou com o Carl Lewis a perder para o recorde do mundo do Mike Powell. E lembro-me do Sergey Bubka quase bocejar enquanto esperava que toda a concorrência fosse eliminada e depois pedir para subir a fasquia uns bons centímetros. Era então que finalmente começava o verdadeiro campeonato que contava só com ele e o recorde do mundo, que várias vezes foi seu – superava-se a ele próprio sucessiva e constantemente.

Há dias, em Donetsk na Ucrânia, um francês chamado Renaud Lavillenie finalmente bateu os 6m15 (indoor) de Bubka por um centímetro. Vinte e um anos durou o recorde do ucraniano que estava na bancada a assistir à prova e desceu à pista para cumprimentar e tirar uma fotografia com o novo recordista.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Row the boat ashore

Uma reportagem na televisão fala sobre o desaparecimento do deposto presidente ucraniano Yanukovich. Segundo o que apuraram, terá saído de Kiev numa coluna militar com destino à cidade de Sevastopol na península da Crimeia, local onde se encontra um grande contingente da marinha russa. Daí terá seguido a bordo de um navio russo para parte incerta (Rússia).

É caso para dizer que foi de barco.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Begrenzend

Há dias vi uma Ted talk sobre amor, paixão, traição, etc. A oradora relacionou a paixão com droga – aparentemente as mesmas regiões cerebrais são activadas quando estamos apaixonados e quando consumimos substâncias que causam dependência e há uma qualquer reacção química da qual eu obviamente não me lembro suficientemente bem para a reproduzir aqui novamente (assumindo que alguma vez a entendi). Being in love is addictive. Esta semana a capa da revista do Expresso é sobre dependência do açúcar: “o consumo excessivo está a tornar-se um caso de saúde pública.”. Quando não há inventa-se, pensei enquanto dei mais uma garfada num bolo brigadeiro. Por momentos apeteceu-me acender um cigarro, nem que fosse só para chatear.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

À minha frente estão duas senhoras de alguma idade.

Daquelas que vão às compras com carrinhos de rodas pequeninas para transportarem as coisas mais facilmente para casa. A primeira já acabou de arrumar tudo, já pagou. Passa por detrás da estrutura para onde escorregam as coisas que compramos antes de as enfiarmos nos sacos e vai cumprimentar a rapariguinha que se senta de frente para a caixa e para o tapete rolante preto. Deseja-lhe as maiores felicidades, que corra tudo bem. A menina sorri o que pode – seja o que for, não está manifestamente contente.
Recomeça o processo, as compras da senhora que está imediatamente antes de mim na caixa começam a ser processadas, vasculhadas em busca dos códigos e de barras que apitam quando passam em frente à menina da caixa, escorregam para aquela estrutura onde ela espera com o saco de tecido que trouxe de casa – esta não tem carrinho de duas rodas pequeninas. Quando chega ao fim, depois de anunciado o preço total, depois de pago o preço total, a menina volta a despedir-se.
A partir de amanhã não estou aqui.
A senhora faz um ar um pouco espantado, a menina explica que vai para outro sítio, que a colocaram noutra loja.
Eles também agora passam a vida a fazer-vos mudar de um lado para o outro.
E a menina diz-lhe que já estava nesta loja há quatro anos.
Entretanto as minhas compras começam a avançar, começam a apitar e ela diz-me o bom dia que diz a toda a gente, pergunta-me
Vai desejar saco?
o saco que oferece a toda a gente e
Tem poupa mais?
que deve ser um daqueles cartões que todos supermercados têm e eu, calculando que seja isso, digo que não, não tenho, e a senhora ainda está na estrutura onde se arrumam as compras, ainda não processou tudo, ainda tem coisas para lhe dizer, que corra bem e sobretudo que tenha saúde
O mais importante é a saúde.
A menina agradece com o mesmo sorriso forçado, dorido porque ela não está contente e aparentemente preferiria ficar naquela loja onde já está há quatro anos e não ir para outra, como lhe mandaram. Despede-se da senhora, passa os restantes artigos e diz-me
São dezasseis euros e vinte e seis cêntimos por favor.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A minha avó não gostava de Fórmula 1.

Nunca a censurei por isso, nunca morri de amores por desportos motorizados. Mas tínhamos razões diferentes: enquanto eu, pura e simplesmente, os acho monótonos, ela escandalizava-se. Que era um desperdício de gasolina, que está tão cara e qualquer dia não há mais.

Deviam acabar com estas corridas, era com isso e com as missões espaciais, a NASA, essas coisas. Há pessoas a morrer à fome.
E depois rematava com uma cara indignadíssima
Resolvam primeiro os problemas na terra.

Tentei explicar-lhe que, por exemplo, ir de férias para o Algarve de carro também gasta combustível e não é nada que se possa considerar verdadeiramente fundamental para a Humanidade. Que ir ao cabeleireiro ou encher-se de laca todos os dias de manhã pode ser algo extremamente irritante para quem morre à fome em África (para além de que o ozono não gosta).

Perdi. Nunca lhe consegui explicar que há coisas mais importantes que o discurso do “há coisas mais importantes”.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

28 dias

O mês de Fevereiro em convalescença: na primeira metade sem conseguir mastigar; na segunda a assoar-me.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Por lo tanto

«Quem não tem passado não pode ser responsabilizado. O que se perde em amnésia ganha-se em amnistia.»

O outro pé da sereia, Mia Couto

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Does Phil feel lucky?

Já vi imensas vezes o Groundhog Day, conheço uma data de cenas e falas de cor (today is tomorrow). Ainda assim, sempre que tropeço nele, não resisto a mais um déjà vu (all the time).

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Este Papa é uma espécie de Obama do Vaticano.

O problema dos Obamas desta vida é duplo: (i) a quantidade de expectativas que lhes são depositadas vs (ii) a possibilidade de efectivamente operar mudanças significativas. Entre as palavras dos discursos e os actos está toda uma estrutura, cultura, etc., e remar contra a maré, para além de cansativo, é ingrato. Na prática, podem acabar por fazer pouco mais do que faria uma figura menos forte e cativante. A diferença é que o resultado parecerá ficar sempre aquém na medida de (i).

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Global campfire

Os franceses falam muito em chiffres d’affaires. Faz sentido, os chifres normalmente estão associados a affaires.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Recalibrar

O meu outono/inverno imediatamente antes deste foi passado maior latitude, num sítio onde chove imenso. Não faz muito frio, praticamente não neva, mas a humidade é sempre elevada. Habituei-me à ideia de que a chuva e o vento são dois fenómenos quase sempre presentes e que não há muito que se possa fazer. Nem sequer vale a pena usar um chapéu-de-chuva porque a estrutura não sobrevive ao vento.

Curiosamente, vivi bem. Adaptei-me sem nenhum problema. Não passei os dias a suspirar por um bocadinho de sol embora, sempre que ele timidamente surgia, tentasse aproveitar.

Algumas semanas chuvosas em Lisboa e estou saturado. Queixo-me. Abro o site do IPMA praticamente todos os dias para ver quando os bonequinhos das nuvens (finalmente!) desaparecem (ainda não foi hoje). Esta cidade torna-nos muito exigentes: o sol é um direito adquirido dos lisboetas e ai de quem os tente privar dos raios.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Sobre ir ao ginásio

Ouvir música associada a noites de sexta e sábado às oito da manhã de um dia de semana.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Any given Sunday (afternoon)

A SIC tem um programa chamado "Portugal em festa". Começa às 14h e termina às 20h. A TVI tem um que se chama "Somos Portugal". Das 13h58 às 20h.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Nota-se logo quando alguém é filho único

diz em resposta à senhora que afirma a sua vontade de ter um segundo filho, de como isso é importante para o primogénito.

Quando alguém tem características tipicamente associadas a filhos únicos – é mimado, egocêntrico, etc. – e (por acaso) é filho único, então o facto de não ter irmãos torna-se óbvio. Já as mesmas características em filhos não únicos não são nada óbvias.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Uneasy lies the head that wears a crown

Gosto de definir português como a língua do meu telemóvel mas o computador tem que estar em inglês.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Auto-justificativo

«Human beings are more rationalizing than rational»

Lesson Plan – the story of the Third Wave

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Tot

« - Tens medo de morrer?
- Não é morrer que me dói. O que me dá tristeza é ficar morto.»

O outro pé da sereia, Mia Couto

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Competência(s)

O Público tem um artigo sobre a Janet Yellen que assumiu ontem a presidência da Fed. Um dos parágrafos do artigo descreve o seu percurso profissional, consensualmente considerado ímpar para desempenhar o cargo. Curiosamente, no meio dos cargos que ocupou ao longo do seu percurso, vem a seguinte frase "É casada com o prémio Nobel da economia de 2001, George Akerlof.".

Tino

Arranquei um dente do siso e tenho o maxilar direito inferior inflamado. O resultado foi a minha transformação num verdadeiro menino bem: só consigo cumprimentar com um beijinho do lado esquerdo.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Já o era

A expressão “bem esgalhado” é ela própria aquilo que descreve: bem esgalhada.