terça-feira, 21 de agosto de 2018

As estradas da Riviera Albanesa fazem-nos pagar caro pela vista.

Ziguezagues constantes, subidas e descidas e, claro, camiões lentos de fazer desesperar. E, ao fundo, o mar que, por vezes, ostenta um azul turquesa muito desejável. Outra tirada longa e cansativa, cortada a meio para uma noite perto da lagoa de Narta, para a segunda e última tarde de ripanço. Uma estirada final leva-nos até à capital Tirana.

Uma das principais atracções turísticas da cidade são os antigos bunkers do regime comunista albanês, recentemente abertos ao público. A cerca de 5 quilómetros do centro de Tirana encontra-se o Bunkart 1, o bunker construído para Enver Hoxha e os principais membros do seu regime. O bunker, que acabou por nunca ser usado, é enorme, um longo corredor que ramifica em cerca de meia dúzia de outros corredores. Lá dentro, vemos o quarto reservado a Hoxha, o único com casa-de-banho privativa, assim como um sem número de outros quartos. Nestes, foi construída uma exposição que nos leva aos primórdios do povo albanês, passando pelas invasões do Império Otomano, as guerras mundiais, a ocupação da Itália de Mussolini e, logo a seguir, da Alemanha nazi e, finalmente, ao regime comunista e à sua queda no início da década de 90. O ponto alto é a sala de reuniões, uma autêntica sala de espectáculos subterrânea.

Chove agora copiosamente e é complicado conduzir pelas ruas da cidade no meio da bátega e do trânsito errático. Depois de pararmos o carro no hotel, saímos de impermeável. Estamos apenas a algumas centenas de metros da praça Skanderberg, o centro da cidade, mas o curto trajecto é mais do que suficiente para ficar encharcado. Ao fundo, num dos extremos, está a entrada para o Bunkart 2, o segundo bunker do dia. Este tem uma dimensão menor, foi feito para o Ministro do Interior albanês e a exposição no interior dedica-se ao regime ditactorial comunista. As descrições das escutas, perseguições, torturas são detalhadas e pesadas, em alguns casos, verdadeiros murros no estômago. Pelo meio, também há elementos caricatos da paranoia do regime, como o barbeiro residente no aeroporto, encarregue de cortar cabelos e aparar barbas de estrangeiros que quisessem visitar o país e não apresentassem o decoro capilar necessário.

Para além destes dois bunkers convertidos em museu e preenchidos com exposições, há uma série de outros de menor relevância. No período de bunkerização do país, foram construídos mais de cem mil destas construções subterrâneas oficiais e há quem diga que as não oficiais são bastante mais. Pelo caminho, à beira da estrada, no meio dos campos, vemos, de vez em quando, as características abóbodas de cimento que sinalizam a sua entrada. Uns estão ao abandono, meio destruídos. Outros foram aproveitados e são estabelecimentos, como um que vimos que foi transformado numa loja de tatuagens.

À noite, depois de jantar literalmente à porta de um restaurante, andamos um pouco pelas ruas e passamos pela pirâmide de Tirana, o edifício desenhado pela filha arquitecta de Hoxha, com o intuito de vir a albergar um museu dedicado ao legado do pai, após a sua morte. Inaugurado em 1988, deixou de ser um museu após a queda do regime comunista e foi transformado num centro de conferências. Mais tarde, durante a guerra do Kosovo, chegou a servir de base da NATO. Hoje em dia, está abandonado, de vidros partidos e paredes cheias de graffitis.

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