segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Pouco antes das 21h vejo a luz vermelha de uma lanterna aproximar-se da porta do bungalow.

Ponho a cabeça de fora, trocamos umas palavras, relembra-me que tenho de fazer um pagamento. Visto-me rapidamente, enfio os pés nas havaianas, pego no meu frontal (com a luz vermelha ligada, que não incomoda os bichos) e acompanho-o. Pelo caminho, reparo que calça umas galochas e pergunto-lhe se as havaianas estão bem. Diz-me que não há problema, vamos andar pouco, que as tartarugas estão mesmo perto do lodge.

E, de facto, poucos metros depois do bungalow onde são servidas as refeições, deparo-me com uma enorme carapaça, bem maior do que aquilo que estava à espera. A cabeça está tapada pela vegetação. Fico algo hipnotizado, meio catatónico a observar, enquanto a chuva miudinha vai lentamente ensopando a minha t-shirt. Enquanto isso, ele toma notas num caderno protegido com uma capa plástica, faz medições das dimensões do bicho, coloca identificadores nas patas dianteiras.

O processo repete-se com uma segunda tartaruga, ainda mais perto do bungalow. Desta vez, a cabeça do animal não está tapada e, uma vez mais, fico estarrecido a olhar. Uma parte de mim sente-se algo desconfortável, como se estivesse a invadir a privacidade do bicho.

A chuva intensifica-se e ficamos debaixo de um telheiro, à espera que abrande, enquanto enxotamos os mosquitos como podemos. Por esta altura, os meus pés já estão devidamente repletos de pequenas manchas vermelhas e é difícil resistir à tentação de coçar fortemente. Em vez de abrandar, a chuva fica cada vez mais forte. Acabo por me despedir deles e fazer o caminho até ao meu bungalow o mais rápido que posso. Pouco tempo depois de retirar a roupa molhada, caem os primeiros relâmpagos, imediatamente seguidos de trovões que quase fazem tremer a terra.

Por casualidade, fico a saber posteriormente – no dia do meu regresso a Lisboa, na sala de embarque do aeroporto, sentou-se ao meu lado uma senhora que esteve num dos outros bungalows na mesma noite – que as ondas estavam tão fortes que galgaram o desnível entre o fim da areia e início da terra e passaram por debaixo dos bungalows suspensos em estacas de madeira.

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