quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Hugo aborda-me assim que me vê passar de jeep.

Explica-me que é aluno do 11º ano e, exibindo o cartão que trás ao pescoço, que é “certificado” para fazer de guia para turistas ali na Roça Água Izé.
Já foste ao hospital?
Explico que acabei de chegar e ainda não tive tempo de ver nada e ele rapidamente oferece um cardápio que inclui não só o hospital, mas também o centro de artesanato e a boca do inferno.

Convida-me a ir na sua moto, algo que tento, sem sucesso, evitar exibindo o mais que óbvio (e com quatro rodas) jeep
Não confias em mim?
atira-me. Que remédio, penso enquanto me sento atrás dele, agarrado à grelha atrás do banco, por cima da roda traseira.

Subimos a estrada de terra até ao impressionante edifício do antigo hospital, uma imagem que já tinha visto em pesquisas online. Ali entramos e subimos as escadas, enquanto me vai fornecendo alguns detalhes da vida, no local, em tempos idos. Encontramos alguns companheiros de trabalho de Hugo que, com o mesmo cartão de identificação ao pescoço, aguardam a chegada de um turista com interesse numa rápida contratação.

O centro de artesanato fica lá em baixo, no outro extremo da roça, num antigo armazém. Hugo deixa-me nas mãos de Zezinha, que me oferece uma visita guiada ao centro. Para além das peças de madeira e de tecidos, há uma zona onde se aprende a fazer peças de artesanato com resíduos, como garrafas de plástico. Dois coelhos com uma cajadada: para além de permitir colocar algum dinheiro nos bolsos dos artesãos, a actividade contribui para evitar a acumulação de resíduos.

O último ponto da excursão é a boca do inferno, a uns minutos da roça. Diz a lenda que um cavaleiro português era o único que conseguia entrar ileso na formação rochosa e que, inclusivamente, saia do outro lado, na boca do inferno de Cascais. Hugo confessa-me, com uma expressão mais carregada, que, na opinião dele, se trata apenas de uma lenda, que não existe mesmo o tal cavaleiro capaz de entrar naquela formação rochosa do oeste da ilha de São Tomé e sair numa região de Portugal. Pergunta-me se concordo e eu avento que sim, que me parece tratar-se apenas de uma lenda.

Regressado ao jeep, desejo-lhe felicidades para cumprir os planos de terminar o 12º e conseguir uma bolsa para continuar os estudos no estrangeiro. Sigo pela estrada costeira até São João dos Angolares, olhando em todas as direcções, à procura do próximo local de pernoita.

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