No primeiro debate das legislativas que assisti, Rui Rio constatou o que parece óbvio: nem o PS nem o PSD conseguirão governar sozinhos, independentemente de quem ganhe. Não haverá maioria absoluta e será necessário chegar a um entendimento com outros partidos do chamado "arco da governação" para formar uma solução de governo. E é possível que esta seja uma característica que tenha vindo para ficar e que o tempo em que faziam constantes apelos a maiorias absolutas e a votos úteis tenha ficado para trás.
Coligações e acordos parlamentares sãos seguramente menos estáveis e têm maior probabilidade de desmoronar do que soluções em que só um partido é suficiente para governar. Relativamente aos acordos parlamentares, a experiência da "geringonça" está muito fresca na memória colectiva que, acaso necessitasse, facilmente seria avivada com as constantes referências que têm surgido na actual campanha. No caso das coligações, basta recuar uns 10 anos até aos atritos entre PSD e CDS no governo de Passos Coelho, cujo expoente máximo terá possivelmente tido lugar aquando do célebre episódio do "irrevogável".
No papel onde a teoria é escrita, o produto que resulta do diálogo - de falar e de ouvir, de entendimentos e desentendimentos, negociações com exigências e cedências - terá uma boa probabilidade de melhor reflectir diferentes opiniões e sensibilidades e, por isso, ser mais inclusivo. A questão é saber qual dos dois pesa mais: se aquilo que se ganha com a estabilidade ou com a diversidade. Tendo a achar que, à medida que nos habituamos à ideia de que maiorias absolutas são coisa do passado, as soluções governativas a várias mãos tenderão a ser mais estáveis.
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