quinta-feira, 14 de junho de 2018

É um exercício desagradável caracterizar-se um país por analogia a outro.

Porque parte do pressuposto (preconceito?) de que determinados povos devem ser similares e, por isso, que o que destaca entre eles são as diferenças e não as semelhanças, já que estas últimas são expectáveis.

E é por essa razão que as comparações entre nós e os espanhóis nos parecem, muitas vezes, desagradáveis: porque, ao assinalar o que não é igual, partem do pressuposto de que temos de ser parecidos. Já no caso de, por exemplo, a Bolívia e da Noruega (podia ser a Turquia e a Nova Zelândia ou a Estónia e a Nova Guiné), quaisquer observações que fizéssemos sobre esses países seriam sobre as semelhanças que poderíamos descobrir, exactamente porque não as esperaríamos encontrar.

Dito isto, não resisto a fazê-lo, a cometer uma possível indelicadeza. Posso tentar alegar uma atenuante ao meu caso: visitei o Japão recentemente e, talvez por isso, tenha tido alguma dificuldade em não olhar para a Coreia sem ser através dos olhos que passaram quinze dias em diversos sítios do país do sol nascente.

Talvez a maior diferença que tenha reparado entre os dois países é a existência de maiores extremos no Japão. Uma impressão potencialmente difícil de pôr por palavras e exemplos; aqui fica uma tentativa.

No que respeita à gentileza e à cortesia por exemplo. Não que os coreanos não o sejam, muito pelo contrário. Mas não ao mesmo nível dos japoneses onde, por vezes, é demasiado e chega a roçar os limites do desconfortável. No Japão, os objectos são entregues e recebidos com duas mãos quase sem excepção. Quando saímos de um restaurante, para além do empregado que nos recebeu, todos os funcionários, do cozinheiro ao lavador de pratos se despedem. Na Coreia, as pessoas falam umas com as outras nos transportes públicos e falam descontraidamente ao telefone. A senhora ao meu lado murmura uma qualquer ladainha; só depois reparo que tem, na mão direita, um fio de contas que progressivamente vai deslocando com os dedos à medida que completa as etapas. No Japão, as carruagens dos comboios e dos metros são túmulos de pessoas vivas. No comboio bala, solicita-se àqueles que queiram realizar uma chamada que se dirijam às zonas entre carruagens, isoladas por portas de vidro, para não incomodar os demais passageiros.

A infantilização e a alienação é maior no Japão. Das vozes e das músicas de criança nos transportes públicos aos sinais que nos alertam para, por exemplo, não entalarmos as mãos nas portas. Os arcades e as salas enormes de pachinko – um misto entre pinball e slot machine – não se vêem em Seoul, assim como as zonas para maiores de dezoito nos supermercados, as lojas de manga e casas de acompanhantes. Só em Tokyo se vê turistas vestidos de personagens do Super Mario a conduzir karts pelo meio da cidade.

Nas ruas coreanas, os caixotes de lixo não abundam mas existem: não somos, como no Japão, obrigados a andar com embalagens e garrafas de água até encontrar uma loja de conveniência onde possamos discretamente livrar-nos da tralha. E, finalmente, a esmagadora maioria das sanitas não é tuning como no Japão, sem botões que activam uma série de funções esquisitas.

Para terminar, uma semelhança: o controlo do inglês é reduzido e a comunicação é, por vezes, feita com recurso a gestos e onomatopeias – num mercado, escolhemos o jantar com base no gesto de levar comida à boca, acompanhado de “nham nham”, de uma senhora.

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