quinta-feira, 7 de junho de 2018

Coffee break

A máquina de café está numa pequena zona de cadeiras e mesas onde várias pessoas se sentam à saída de um templo no meio dos prédios do centro de negócios de Seoul. Tinhamos chegado aqui depois de nos cruzarmos com uma manifestação muito civilizada. Perante a nossa cara de interrogação, uma das manifestantes pára para nos explicar a preocupação que sentem com a recente aproximação entre a vizinha Coreia do Norte. Receiam que eventuais cedências que o Presidente Moon venha a fazer líder do norte possam conduzir a democrática Coreia do Sul para um regime similar.

Há vários botões com diferentes tipos de cafés possíveis, todos bastante baratos. De repente, uma senhora surge por detrás de nós, e explica-nos o que são as diferentes opções, acrescentando que o mais certo é não gostarmos dos cafés típicos coreanos disponíveis. E, daqui, aos poucos, acabamos por encetar uma conversa com ela que acaba por percorrer uma série de temas diferentes.

É das pessoas com melhor inglês com as quais nos vamos deparar na viagem inteira, ou não tivesse vivido doze anos nos Estados Unidos. Mais do que isso, em Nova Iorque. Talvez o ponto que mais fica na cabeça é o facto de considerar que os coreanos são demasiado individualistas. Por alguma razão, não esperaria esta consideração. Ainda para mais de alguém que viveu nos Estados Unidos. Mas ela insiste: só se preocupam com eles, com a sua imagem, são materialistas e consumistas, medem o respectivo sucesso apenas por aquilo que têm e preocupam-se pouco com atitudes, comportamentos e valores.

De início, esta perspectiva parece-me estranha, ainda para mais de alguém que teve um contacto com o que deverá ser o paradigma da sociedade individualista. Mas, aos poucos, sinto que começo a perceber o que quer dizer. E sinto que a ideia lentamente a impregnar-se.

De considerações profundas sobre a forma de ser dos coreanos e doutros povos, passamos para temas mais mundanos. A senhora recomenda-nos um mercado para jantar, nada como um local verdadeiramente genuíno (pleonasmo?). Despedimo-nos cordialmente, desejamos as melhoras – tinha tido um acidente de automóvel recentemente e ainda se encontrava parcialmente em convalescença – e ficamos com a nítida sensação que não somos os únicos a ter sido abordados por ela. É seguramente uma prática regular sua.

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