segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

As folhas amontoadas.

Uma resma de papel impresso. Passa o indicador e o dedo médio direitos pelos lábios humecidos e folheia aquela resma de papel impresso, os cantos direitos das folhas dobrados da quantidade de vezes que já repetiu aquele gesto. De três em três, quatro em quatro, cinco em cinco folhas, tem necessidade de voltar a humedecer as folhas com os cantos direitos dobrados.
Veja lá
Os cabelos na sopa não me enojam, não sofro ao pensar na quantidade de mãos de higiene duvidosa que tocaram em maçanetas e torneiras de casas-de-banho-públicas. Mas aqueles cantos daquelas folhas estão a deixar-me desconfortável, tanto mais que me apercebo que sou o único a quem os dois dedos humecidos em contacto com os cantos dobrados das folhas estão a criar um certo mal-estar.
Que número está aqui?
Procura, continua a procurar e não encontra. Continua o ritual de passar aqueles dois dedos pelos lábios molhados, os cantos das folhas empapados, não me apetece tocar naquele bocado de papel quando me pedem para ler o número, continua a procurar e não encontra e eu já só quero que descubra o raio da folha e que pare de humedecer os dois dedos nos lábios e que deixe de os passar nos cantos dobrados das folhas que me parecem nojentas.
Porque não tenho aqui os óculos.
E é então que me ocorre. Passa-me pela cabeça a imagem dos livros antigos e do mosteiro. O Sean Connery e o Christian Slater e de repente é o Em Nome da Rosa e os cantos das folhas dos livros proíbidos da biblioteca secreta, humecidos pelos dedos ávidos que passam nos lábios, à procura, sempre à procura.

E nunca acham

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