segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Dou por mim precisamente no mesmo sítio do aeroporto de Pequim:

ao fundo de umas escadas, obrigam-nos a dar volta por debaixo do lance e desembocar numa fila. Uma espécie de déjà vu que me leva a questionar se não estarei no Matrix. À frente, está um tipo que verifica o passaporte e o cartão de embarque e nos tira uma fotografia com uma câmara de computador. Depois deste primeiro controle, segue-se uma única fila para o aparelho de raio X.

A mesma rotina: retiro a máquina de dentro da mochila almofadada, espalho o corpo e as lentes num daqueles recipientes de plástico que parecem adequados para expor uns robalos ou fanecas, em cima de gelo, num mercado de peixe. Tudo decorrer com a maior normalidade até a funcionária que inspeciona as minhas coisas desligar, rudemente, o cabo USB que ligava ao meu telemóvel ao power bank.

De seguida, perscrutou intensamente o power bank, olhou detalhadamente enquanto virava o aparelho em todos ângulos. Mostrou a outro colega, o tipo que estava a controlar o monitor do raio X e que que, após alguns segundos, lhe devolveu o power bank com um encolher de ombros. Ao terceiro funcionário, já tinha arrumado todas as restantes tralhas e posto o cinto nas calças, recebo uma instrução
Come with me, sir

Leva-me pelo mar de outros aparelhos para verificar o interior das posses dos passageiros – ao qual os que estão em trânsito para as três regiões especiais não têm acesso – até a um balcão onde está o encarregado de segurança do aeroporto, a quem entrega o power bank.

Demora algum tempo até, também ele, se dedicar a examinar o aparelho. Sem que me tivesse sido explicado nada até ao momento, aproveito para lhe perguntar qual é o problema. Responde-me qualquer coisa e eu pouco ou nada percebo. Pega noutro power bank e mostra-me as especificações de capacidade que este tem escrito no próprio corpo e que, pelos vistos, o meu não tem. Argumento que então basta ver o modelo e procurar online as especificações e já estou com o telemóvel em riste quando me diz que isso não é possível.
Why?
It’s the rule.

Respiro fundo.
This is unacceptable (o “un” pronunciado com forte ênfase)
Digo-lhe que (i) a semana passada passei por aquele mesmo aeroporto e não levantaram problemas (ii) o power bank me custou perto de 100 euros (mais para os 50 ou 60) (iii) que estou quase sem bateria no telemóvel porque não permitem que se faça o carregamento dentro do avião.
May be unacceptable but it’s the rule

Digo-lhe que quero fazer uma queixa.
Complaint?
De início não percebe; depois aponta-me para um número de telefone. Atiro-lhe o saco de pano que vinha com o power bank para guardar e o cabo de alimentação e viro-lhe costas.

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