quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Em defesa do medo

Desde a capacidade de enfrentar o desconhecido até à mais primitiva valentia física, a coragem é uma característica com imensa saída, valorizada socialmente. De tal forma que temos vergonha de admitir os nossos medos, como se fossem falhas de carácter e de postura.

A História lembra e exulta os corajosos, que tiveram a ousadia de enfrentar os canhões, o poder, ultrapassar obstáculos. Normalmente não perde muito tempo com os medrosos, a não ser para adicionar referências negativas. Assim como não perde muito tempo com os corajosos que se dão mal.

Mas a verdade é que o medo faz mais por nós do que a coragem. O medo protege-nos enquanto a coragem nos expõe a riscos. Talvez por isso, todos tenhamos medo de alguma coisa. Ou várias ao mesmo tempo. Seja de levar uns tabefes ou da mudança, de alturas ou de espaços fechados, do escuro ou de aranhas. Porque do ponto de vista da nossa sobrevivência, o medo é um valor seguro e a coragem algo arriscado.

E, por isso, algumas vezes sinto que o medo é injustiçado. Tratado como inferior e indesejado. Vítima de escárnio e maldizer quando, na prática, é o nosso melhor conselheiro em tantas circunstâncias do dia-a-dia.

Talvez seja esta a única fosse a única circunstância em que a coragem não aleija: não ter medo de enfrentar o tabu e assumir o medo. E, para aqueles que porventura possam não sentir medo – uma minoria desajustada, vítimas de uma gritante falha evolucionária que as deixa desamparadas para enfrentar o mundo – basta ter a coragem necessária para ter medo.

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