domingo, 26 de novembro de 2017

A sensação começa assim que se chega.

Regresso aos corredores do aeroporto de Narita – limpo, incluindo, pasme-se, as casas-de-banho impecáveis – e desemboco no controlo fronteiriço. Há uma meia-dúzia de funcionários, de pé ao lado de um computador com uma maquineta, que processam as declarações alfandegárias. A linha rapidamente avança e calha-me um senhor de alguma idade, com um sorriso estampado, que tece um comentário entusiasmado quando vê a minha origem. É simpático e agradável enquanto percorremos os procedimentos, findos os quais me indica que avance com a mão direita estendida, diz-me
Welcome to Japan
enquanto dobra ligeiramente a cabeça numa vénia. Depois de atravessar a cabine do agente da polícia que me carimba o passaporte, dirijo-me ao balcão dos comboios de ferro japoneses para levantar o meu passe de 15 dias. Uma vez mais, sou recebido com um sorriso e bastante disponibilidade por, neste caso, uma senhora. Para além do passe de 15 dias, dá-me três bilhetes, número de comboios diferentes que tenho de apanhar até Hiroshima, com o meu lugar reservado.

O primeiro comboio é o expresso do aeroporto de Narita para a cidade, vai relativamente cheio e em pouco tempo nos deixa nas principais estações de Tokyo. Não me recordo em qual, mudo de plataforma para a do primeiro de vários Shinkansen que hei de apanhar durante estes dias. O comboio bala percorre a vasta plataforma lentamente. No chão, estão indicadas as portas das várias carruagens onde os passageiros já formam uma pequena fila e o alinhamento entre as indicações e onde a porta efectivamente fica é milimétrica. Entro, descubro o meu lugar, coloco a minha mala na estrutura por cima dos bancos e sento-me no lugar que me foi atribuído. Espaçoso, muito espaço para as pernas e confortável.

O interior deste comboio é aprazivelmente silencioso. As pessoas falam suavemente, quase como se sussurrassem, não há mais ruídos senão o anúncio das estações quando delas nos aproximamos. E mesmo a senhora que atravessa a carruagem a vender bebidas e snacks, parece conseguir fazê-lo com uma ligeireza e subtileza incaracterísticas. Devo ter adormecido a certa altura, embalado pelo movimento e pela ausência de ruído e, dado o conforto, sem desta vez ter massacrado mais as costas.

O pior foi a seguir, quando acordei e tentei ligar ao wifi do comboio. Ligam-me e atendo o telefone, falo entusiasticamente apesar do cansaço. E só então me apercebo que não deveria estar a fazê-lo. Um sinal indica que, não só se deve manter os telefones em silêncio, mas também as chamadas devem ser somente feitas nos extremos das carruagens, depois de passar as portas de vidro que dão acesso ao corredor pequeno pelo qual se sai para o apeadeiro. Despacho o amigo com quem falo, de repente sinto-me mal por estar a falar ao telefone dentro de uma carruagem de comboio. Cujo silêncio me aparece acentuar-se ainda mais, depois do meu erro barulhento.

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