quarta-feira, 1 de junho de 2016

Gula

Venho da secção da padaria e, passando naquelas prateleiras e escaparates feitas para os incautos, não resisto - possivelmente pela frustração de não ter ficado inteiramente convencido com a escolha de pão - e pego nuns biscoitos de aspecto caseiro. De amêndoa, aos coraçõezinhos. Quando me preparo para me afastar, reparo numa senhora com idade para ser minha avó que me olha, de baixo para cima, e, sem parar a marcha lenta com o carrinho nas mãos, com uma cara de certo desdém, diz

Os gulosos descobrem-se
(ou vêem-se? Já não sei precisar, qualquer coisa assim)

E eu rio-me, enquanto lhe digo qualquer coisa como "sim, nós existimos", ao que ela não liga minimamente, continua a andar com o carrinho. E fico a pensar que, para quem só muito de vez em quando compra doces e similares, aquela senhora atribuiu-me uma fama cujo proveito me escapa em larga medida.

Olho para o conteúdo do meu carrinho e, de repente, apercebo-me que, embora uma compra de pequena monta, não é propriamente o conjunto de itens mais saudável e recomendável que alguma vez comprei. Na altura de pagar, olho para as caixas e fico contente por, numa das que tem menos pessoas a fazer fila, está uma funcionária particularmente obesa a registar compras. Opto imediatamente por essa: dificilmente poderá censurar as minhas escolhas alimentares.

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