sábado, 20 de dezembro de 2014

Um almoço forçado.

Para encher um vazio de calendário ou de programa. Que discutir com meia dúzia de turcos aos quais apenas fui apresentado há uma hora atrás?

Há uma espécie de check-list para estas coisas que, no mínimo, pode ajudar a quebrar a gelo e, no máximo, pode consumir grande parte da conversa da chacha. Quando chegaram, onde estiveram. E depois o que acharam da cidade. E aqui normalmente a impressão está, como não podia deixar de ser, sempre muito agarrada à origem de cada um. Gostaram da vista do castelo. Da baixa. E da vastidão do rio.

E aqui entro eu, esta é a minha deixa para deitar mais achas para a fogueira e dizer-lhe como nesse aspecto particular Lisboa é tão diferente da maioria das outras cidades europeias com os seus rios fininhos e cravejados de pontes. E que, por vezes, quando recebo pessoas doutros sítios, tenho que lhes explicar que aquilo que vêem ainda não é o mar, é o rio. O mar é só mais lá à frente.

E digo-lhes mais, digo-lhes que entendo, que quando estive em Istambul e me vi virado para o Bósforo senti isso, aquela água toda à minha frente. Uma espécie de liberdade, a juntar ao vento e ao sol na cara, no convés de um barco que levava turistas papalvos como eu para cima e para baixo durante uma hora. Os pescadores na ponte, o peixe grelhado num restaurante.

Levo-os depois a São Francisco, onde a mesma sensação de vastidão também é inescapável – curioso como no meio dessa água fosse possível existir uma fortaleza donde, ao que dizem, ninguém saía. Neste caso, em relação a Lisboa, potenciado pelas pontes iguais, aquela coisa vermelha que – e aproveito para a piada – resolvemos copiar-lhes. A piada corre bem, riem-se. E sinto que a empatia se instalou quando progressivamente os sinto pegar nas rédeas do resto da conversa.

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