segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tenho uma dificuldade enorme em interpretar números de telefone quando estão arrumados em grupos de três.

Não que não faça sentido: é lógico agrupar em três, fica perfeitinho porque são nove no total. O problema, como na maior dos traumas, vem de infância. Ainda antes de os números necessitarem do 21 inicial (e similares de rede fixa), ou o 91, 96 ou 93, os três primeiros algarismos tinham um significado para mim. Na zona do Estoril – Estoril Estoril, São João e São Pedro – havia os 466, 467 ou 468. Os meus pais ainda hoje têm um 468. Uma namorada do liceu – ou melhor, os pais dela – tinha um 466. E havia uma daquelas brincadeirinhas de recreio prontas a ser ditas quando alguém dizia que o seu número começava por 467: 467 tira tira mete mete. Já os 486, por exemplo, eram números de Cascais. Os 476 eram da Parede. A minha avó, que morava em Lisboa, tinha um número que começava por 849. Era como se os três primeiros algarismos parcialmente apresentassem ou dissessem qualquer coisa sobre a pessoa com quem íamos falar.

De maneiras que me habituei a estar forma. A minha cabeça ficou formatada assim. Quando hoje em dia me dizem 218 XXX XXX, confesso que ainda fico um pouco baralhado: fico instintivamente à espera dos dois primeiros algarismos do segundo bloco para os juntar ao último do primeiro bloco e tentar tirar algum significado da sua junção. Normalmente em vão.

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