sábado, 16 de janeiro de 2010

«Os músicos profissionais, em geral, possuem o que muitos de nós consideram poderes notáveis de imagética musical. De facto, muitos compositores não compõem desde o início nem por inteiro quando estão a tocar. Fazem-no mentalmente. Não existe exemplo mais extraordinário que o do Beethoven, que continuava a compor (e cujas composições eram cada vez melhores) anos depois de ter ficado surdo. É possível que o seu imaginário musical se tivesse intensificado com a surdez, pois devido à eliminação da capacidade auditiva normal o córtex auditivo pode tornar-se hipersensível com os poderes acentuados de imagética musical (e por vezes mesmo com alucinações auditivas). Existe um fenómeno análogo nas pessoas que perderam a vista; algumas pessoas que ficaram cegas podem, de forma paradoxal, ter um imaginário visual ainda mais intenso. (Os compositores, sobretudo aqueles que fazem música extremamente complexa e arquitectónica, como a de Beethoven, devem recorrer também a formas de pensamento musical altamente abstractas – e deve-se dizer que é esta complexidade intelectual que distingue a parte final da obra de Beethoven).»

Musicofilia, Oliver Sacks

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