sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Trapos de língua #17

Não é que as formas simples (leia-se, sem verbo auxiliar) de passado não existam em francês e alemão. Elas existem mas não muito empregues na oralidade. Estão reservadas sobretudo para a escrita e dão um carácter formalismo ao discurso, sobretudo no caso do francês. Na prática, as construções do tipo “j’ai mangé” ou “ich habe gegessen” são regra. Não é comum ver por aí gente a dizer “je mangeais” ou “ich aβ”. O mesmo existe no espanhol, embora de forma ligeiramente diferente. A construção com auxiliar refere-se a um tempo que está mais próximo enquanto a versão sem auxiliar usa-se para acções mais distantes e não há nenhuma relação com níveis de formalismo diferentes. Por exemplo, “hoy he comido” mas “ayer comí”, “esta semana he comido” mas “la semana pasada comí”, “este año he comido” mas “el año pasado comí”. No entanto, estamos sempre a falar de acções isoladas que decorreram e terminaram no passado.

Em português, nenhuma destas lógicas existe. Não há qualquer diferenciamento em termos do registo de linguagem (mais formal, menos formal). Há apenas alguma noção da proximidade da acção. Se disser “Eu comi” refiro-me a uma acção isolada e terminada. Se disser “Eu tenho comido” então estarei a: dar uma noção de que a acção decorreu recentemente; introduzir um carácter de repetição, como se acrescentasse “nos últimos tempos” ou “ultimamente” à frase. Para além disso, esta acção poderá prolongar-se para o futuro, como se se tratasse de um hábito recém-adquirido.

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