domingo, 13 de dezembro de 2009

John está à nossa espera no hall do hotel em Nairobi.

Apresenta-se e pergunta-nos “ready to go to Masai Mara?” enquanto nos cumprimenta. A sua missão é, literalmente, andar connosco ao colo durante sete dias, por vários locais do Quénia. É um homem extremamente reservado, taciturno, lacónico; exactamente o oposto da maioria dos quenianos com os quais nos cruzamos, extrovertidos, amistosos. John senta-se ao volante do Land Cruiser e conduz calado. Horas sem abrir a boca. A espaços abre a boca e solta um inglês difícil de perceber, claramente menos confortável que o swahili, para nos dar alguma explicação sobre um animal ou sobre o sítio onde estamos a passar. Tirando isso, só lhe ouvimos a voz sumida para nos falar dos problemas de corrupção e de planeamento do seu país.

Guia rápido, agitadamente, intempestivamente. Ultrapassa ostensivamente quem se coloca à sua frente. O jipe sacode, salta, derrapa ao sabor das estradas esburacadas, dos caminhos, dos trilhos, da areia, da lama. Às vezes só com uma mão no volante, enquanto a outra se entretém com o telemóvel ou com o termos (de café…?). Mas uma coisa é certa: ele está sempre calmo. Muito calmo. Mesmo quando encosta o veículo à berma e, sem soltar uma palavra, salta do jipe para se esconder atrás do vidro traseiro opaco de tão sujo e dos pneus sobressalentes, enquanto alivia a bexiga do líquido do termos.

Terá quarenta, cinquenta anos. Uns olhos de lince. Enquanto conduz, perscruta a savana continuamente, como um radar, à procura do “game”. Por vezes, indica-nos, de dedo apontado, onde está determinado animal, num exercício que parece impossível à vista desarmada. Outras vezes, pára o veículo e arma-se dos binóculos, para tirar teimas quando apenas os olhos não chegam.

Não conseguimos que se misture connosco. Oferecemos-lhe uma cadeira para se sentar ao nosso lado e rápida e energeticamente a recusa. Afasta-se e junta-se aos empregados dos acampamentos e dos lodges por onde vamos passando. Por vezes junta-se a eles, conversa com eles, nem sequer o vemos fora das horas em que temos actividades. Outras vezes janta sozinho, numa mesa isolada. Sempre silencioso, calmo, plácido. Terá esboçado dois sorrisos e soltado, no máximo, duas gargalhadas durante todos estes dias.

Mas foi uma óptima companhia.

Sem comentários:

Enviar um comentário