quinta-feira, 13 de agosto de 2009

No terceiro andar da Avenida de Roma.

Na sala, no canto direito, junto ao sofá e às prateleiras carregadas até mais não, naquela zona onde o móvel arredonda para não evitar o canto e preenchê-lo. Era aí que estavam os discos. Vinil. Retiraste-o de entre a pilha de discos na vertical, deslizando na madeira pintada, e puseste-o no gira-discos, mesmo lá ao lado. Eu era miúdo, a roçar o muito miúdo. Não te posso jurar que tenha conseguido perceber as piadas todas. Mas a memória. Ficaram todas cá, aquelas que tu mais gostavas. Queres ver? O “subi dois anos”, o “ainda a guerra estava fechada”, as “portas onduladas da guerra”, o corno da vaca que caía para a rua e “este corno é seu? Sei lá!”, “o meu pai era escafandrista em Beja” e dois anos sem vir a casa, “mas a minha mãe foi a Beja”. E rias-te.

Por isso o Solnado me lembra sempre de ti. Projecto-te nele e é como se eu fosse – como se eu tivesse sido – outro neto dele.

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