sexta-feira, 7 de agosto de 2009

João Bonifácio, O Público, Provedor

Ao provedor, porém, não parece curial que o jornal envie para criticar um espectáculo quem a priori assume a sua aversão aos artistas. Não é crível que um crítico com tal parti pris consiga manter o mesmo tipo de abordagem e distanciamento que terá perante intérpretes que aprecie ou lhe sejam indiferentes.

Mas o crítico que aprecia um dado artista ou obra sofre do mesmo problema de (falta de) distanciamento do que aquele que não gosta. Ou seja, isto é o mesmo que dizer que só pessoas totalmente indiferentes ao artista ou à obra que vão apreciar poderão verdadeiramente fazer uma crítica correcta.

Para além de achar difícil encontrar tamanha indiferença, não me parece muito útil ler críticas de quem é indiferente. Prefiro quem tenha verdadeiras opiniões. A indiferença (ou viés positivo) não é dever do crítico, mas sim informar-nos sobre qual a sua posição em relação a determinado tema, para que possamos ler o que escreve com essa perspectiva em mente.

Mais ou menos aquilo que cada jornal deve fazer. Há uma linha orientadora transversal a uma publicação que, mesmo não se manifestando explicitamente nas notícias, nos textos, expressa-se pela via das opções, dos alinhamentos. Por isso os jornais têm editoriais e por isso penso que não deveriam ser assinados (já escrevi sobre isto no pasquim anterior, não sei exactamente quando). São a voz do jornal, não devem ser a de uma dada pessoa em concreto.

Toda a gente sabe que A Bola é do Benfica é do Benfica, o Record é do Sporting e o Jogo do Porto. Ninguém se chateia com esse enviesamento porque os leitores têm a perfeita consciência disso e lêem esses jornais com essa orientação. E isto não é só um exemplo de viés positivo: quem grama o Benfica normalmente não grama o Sporting e vice-versa; não há muita indiferença neste tipo de assunto.

Quanto às apreciações de João Bonifácio sobre o clube do Restelo e o seu público, os protestos foram mais violentos.

E, por falar em futebol, há uma coisa que me parece interessante neste “caso”. É que, caramba, ninguém diga mal – e resta saber se, de facto, as palavras de João Bonifácio são dizer mal – de um clube de futebol neste país. Cai logo o Carmo e a Trindade.

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