quarta-feira, 1 de julho de 2009

Não tenho muita experiência a escrever textos em bloco. Ou seja, sem criar parágrafos de dimensão relativamente constante e não muito grande. Uma forma de pensar esquemática, visual: arrumar palavras, ideias, argumentos em gavetas, prateleiras. É mais forte do que eu, parece que tenho que sentir que seja possível colocar alíneas em cada parágrafo porque cada um define algo suficientemente diferente do anterior. Sou demasiado organizado, arrumadinho, é uma chatice. Talvez por isso tenha sido invadido por esta vontade doida de escrever este texto em bloco, grande, longo, espesso, difícil de ver no ecrã, daqueles que rapidamente as linhas parecem todas iguais e começamos a trocar e quando mudamos para a seguinte e estamos a ler a primeira palavra e não percebemos qual a relação com aquela que acabámos de ler e é então que nos apercebemos de que, na realidade, trocámos a linha. Nada disto verdadeiramente interessa, só preciso de carregar estas teclas e digitar estas palavras para garantir que, de facto, este texto fica longo, mesmo longo, sem dúvida o suficiente para criar aquele efeito que leva a que pessoas troquem as linhas. E depois há a punchline. Isto sim já interessa. Não há nada como punchlines. Há todo o resto de um texto, pode ser um livro inteiro, um romance, mas se não tiver uma punchline decente não presta. Adoro punchlines. Adoro a sensação de ter uma punchline e espremer um texto de propósito para a aplicar no final como a última frase isolada, exposta, aquela frase corajosa que carrega o estandarte pelo meio do campo de batalha e enfrenta o fogo inimigo sem medo de levar com a bala contra a qual não pode ripostar porque não tem arma. Mas também adoro a sensação de começar a escrever um texto sem saber como ele vai acabar. Deixá-lo evoluir e ver que punchline ele tem para me oferecer. Claro que, se o processo não corre suficientemente bem, fico pior que estragado, a punchline, feliz ou infelizmente, tem o poder para me destruir o bom humor. Mas quando resulta… quando resulta justifica todas as outras tentativas frustradas que faço para escrever textos com parágrafos espaçados, delineados, constantes, regrados, equilibrados, daqueles que dá para colocar alíneas à frente porque as ideias estão tão arrumadinhas, limpinhas, penteadinhas, no fato de domingo para ir à missa. Às vezes tenho esta vontade de acabar com isso, não levar mais as minhas ideias à missa, tornar-me numa espécie de herege e tentar quebrar pelo menos algumas dessas regras que, de uma forma quase subreptícia, aplico aos textos que costumo escrever. Acabar com a facilidade de leitura, tornar difícil, fechar as portas e as janelas, as entradas e as saídas.

E acabar com a punchline.

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