segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dublin é como um pub gigantesco.

Uma cidade onde em cada esquina há uma daquelas fachadas coloridas, com letreiros de nomes engraçados, escritos em letras bem desenhadas. Onde as poucas pessoas que não estão a beber estão a trabalhar nas gigantescas fábricas que produzem os preciosos líquidos. A cidade gira em torno das garrafas de cerveja e whisky, dos copos de pint, vive de e para eles. Se, do dia para a noite, retirassem todos os pubs ou locais onde se fabricam bebidas alcoólicas, seria certamente reduzida a menos de metade da já de si reduzida dimensão. Estou convencido que aquilo a que chamam “água” dos rios, com um tom escuro denunciador, é no fundo um tipo de stout que é obtida a partir da cevada torrada. O Médio Oriente esguicha petróleo; a Irlanda esguicha cerveja.

Os irlandeses contam-se entre os povos mais relaxados, laid-back na sua própria autodefinição. Mas também, como todos os outros, têm a sua contradição. Neste caso, traços de uma extrema seriedade. A protecção da família, constitucionalmente garantida, é uma característica interessante que os tipos levam muito a sério. Talvez até demasiado a sério, lá está. Parece que, até aos trinta anos, os irlandeses não querem saber de casamentos. Aliás, quem casa antes dessa idade marcante, casa nitidamente cedo. E isto acontece porque quem casa é para de imediato desatar a ter uma família e, muito mais grave do que isso, literalmente fazer um corte drástico com a anterior vida de solteiro. Há uma demarcação enorme entre os comportamentos associados aos dois estados civis, do dia para a noite.

Ora segundo consegui apurar, curiosamente, o álcool tem um papel preponderante naquela transição. Dada a habitual e tradicional timidez daquelas gentes, o líquido precioso cumpre o desígnio de soltar a língua, propriedade terapêutica sobejamente conhecida e reconhecida – pese embora o discurso eventualmente pouco eloquente e a fala meio entaramelada. Ou seja, se antes de casar precisam dos pubs para que, de facto, cheguem a casados, depois de casados precisam dos pubs para sobreviver à base de recordações. É caso para dizer que os pints são a alegria e a desgraça dos irlandeses.

Sem comentários:

Enviar um comentário