segunda-feira, 15 de junho de 2009

Mein Hut hat drei Ecken

Aquele canto. Aquele raio daquele canto. Naquela altura, Lisboa era-me estranha, território inóspito fora dos mapas do mundo conhecido. De maneira que cruzava as ruas sem ter a mínima ideia de onde estava, os nomes dos sítios, as proximidades, as relações. O único ponto de apoio era a estação de metro e o caminho até lá. Tudo o resto era aventura.

E, na pausa para almoço, lembro-me que nos sentámos naquele canto. No final da avenida de que gostei. Talvez porque fosse de calçada, vedada à confusão dos carros, repleta das cores das árvores. Ou então porque era diferente. Uma espécie da avenida Diagonal de Barcelona que, na altura, também não existia na minha cabeça.

A avenida terminava nesse canto, onde a sua diferença era anulada para se fundir novamente com a normalidade das paralelas e perpendiculares, os quarteirões e esquinas. Onde nos sentámos, ao almoço acho eu. Não sei se ainda a comer qualquer coisa, não sei se já depois de ter comido e a fazer tempo para voltar. O canto era e é ocupado por um pequeno canteiro e foi no rebordo que nos sentámos.

Perdi a conta às vezes que passo nesse canto onde nos sentámos. Ali. É estranho saber agora os nomes das coisas. Os lugares. Onde cruza, onde passa, onde vai dar, perto de quê. A avenida de calçada, diagonal a encalhar nas paralelas e perpendiculares, a terminar no canto com o canteiro, em cujo rebordo nos sentámos. A almoçar? A terminar o almoço?

Agora sei os nomes. Tudo. Nada me confunde, já não há o desconhecido, aquela sensação de exótico em Lisboa. Lisboa já pouco ou nada tem de exótico Excepto nestas sensações. Nas sensações de que, em tempos, a calçada, as ruas, o asfalto, os táxis, os carris dos eléctricos que já não passam, que praticamente nunca passaram, tudo isto não tinha nomes nem relações nem proximidades.

Se, por acaso, vos falasse nisto iriam achar estranho. Ridículo. O sítio onde nos sentámos a almoçar, depois de almoçar. Que era um canto. Se calhar nem se vão lembrar, se por acaso vos falasse nisto. E tudo agora tem nomes. Sei onde começa e onde acaba, donde vem e para onde vai.

O canto. Não gosto daquele canto, pese embora a avenida de calçada sem a confusão dos carros e com as árvores. A avenida diferente por diagonal no meio daquele mar de paralelas e perpendiculares. Nem assim consigo continuar a gostar, deixei de gostar. Aquele canto é uma afronta.

Porque me diz que já não há nada de novo.

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