A Netflix resolveu sugerir-me um certo e determinado documentário dos Metallica chamado Some Kind of Monster. O tal que pretendia captar o processo criativo da banda e acabou por ter muito mais do que isso, incluindo crises existenciais, brigas e insultos, uma ida para uma clínica de desintoxicação e sessões de grupo de terapia. De certa forma, dada a coincidência temporal, quase parece uma versão heavy metal dos Sopranos: basta trocar os mafiosos porque tipos cabeludos vestidos de preto e de guitarra em riste.
A verdade é que foi mesmo um momento crítico na existência da banda, uma espécie de vai ou racha, que possivelmente foi desencadeado pelo bater de porta do anterior baixista Jason Newsted, que acabou por trazer ao de cima um conjunto de problemas que necessitavam ser encarados, sob pena de os restantes membros se afastarem de vez.
Agora como é que alguém como eu, que passou uma parte considerável da adolescência borbulhenta a decorar, de cor e salteado, todas as músicas de Metallica, acaba por ver este documentário quase 20 anos depois de ter sido divulgado (que é como quem diz, com quase 20 anos de atraso)?
É uma excelente pergunta e tenho passado os últimos dias a pensar nisso. O afastamento começou a surgir por alturas do Load, o disco que veio logo a seguir ao designado Black Album e que, com os ouvidos de então, me pareceu abaixo da expectativa. Pelo menos foi aí que parou a minha colecção, não tenho mais nenhum depois desse, nem sequer o imediatamente seguinte Reload, que foi baptizado de uma forma relativamente preguiçosa.
Tenho de admitir: chega ao ponto de que, até há pouco, nem sequer sabia que, desde então, a banda lançou três álbuns de estúdio. Quer dizer, do St. Anger tinha alguma ideia - lembro-me, por exemplo, do teledisco filmado na prisão de St. Quentin. Mas desconhecia em absoluto Death Magnetic e Hardwired to Self-Destruct. E isto apesar de, nos anos 2000 ter visto uma ou outra vez a banda ao vivo, quando veio a Portugal.
Passei a tarde de hoje a colmatar parte destas falhas, com um certo sentimento de conforto de quem regressa a casa após uma longa viagem, misturado com a nostalgia da evocação de tempos passados. Um certo tipo de monstruosidade.
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