Com o olhar dividido entre a morada que procurei no telemóvel e o número dos prédios da rua, parei à frente de uma porta e achei estranho que o aparelho apenas me dissesse o número do andar, e não se se tratava do esquerdo ou direito. O mistério foi de imediato desfeito pela campainha do prédio: tratavam-se de andares únicos e, por isso, sem mais demoras e sem pensar mais no assunto, carreguei no botão comprido que indicava o número 1. A voz de uma senhora que surgiu do outro lado desarmou-me um pouco; enfim, não tanto a voz, mais o facto de ter respondido de uma forma que não correspondia ao que estaria à espera e, por isso, para quebrar o impasse da comunicação ou ausência da mesma, perguntei
Consultório de oftalmologia?
Não me lembro ipsis verbis da resposta da senhora - seguramente já gizada e farta destas lides - mas insinuava que, claramente, se via que necessitava de ir a uma consulta dessa mesma especialidade. Do outro lado da garagem, disse-me ela, achando apropriado explicar-me que a resposta anterior tinha uma elevada carga irónica. Percebi perfeitamente a ironia, disse-lhe melhor que a localização correcta: a porta imediatamente anterior, pela qual passei sem dar conta, com uma garagem a separá-la daquela onde toquei erradamente à campainha.
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