segunda-feira, 27 de julho de 2020

Por quem os sinos dobram

Disse mal da minha vida durante os 4 meses e meio que vivi quase paredes-meias com uma igreja, cujos sinos se faziam ouvir, pelos menos, 3 vezes ao dia. Algumas das minhas rotinas não tiveram outro remédio senão adaptar-se e moldar-se ao som metálico (e gravado) que, normalmente, durava perto de cinco minutos de cada. Fechava janelas perto das 12h, quando tinha vídeo-chamadas ou telefonemas, caso contrário era difícil ouvir o que me diziam; o toque das 18h alertava-me para a aproximação do final de dia de trabalho e o das 19h30 lembrava-me de começar a pensar em preparar o jantar. Ao fim-de-semana, os horários eram um pouco diferentes. Em alguns casos, para pior: nas noites mais longas ou de ida mais tardia para a cama, cheguei a ser acordado, no dia seguinte, uma ou outra vez, pelo toque pouco antes das 10h.

De regresso a Lisboa, dei por mim a aperceber-me (consciencializar-me), pela primeira, de que também, por aqui, se ouvem sinos de igreja. O som é bastante mais distante e não consegui ainda depreender a frequência e os horários. Mas até nisso a exposição temporária a sinos estrangeiros me afectou: desenvolvi uma espécie de sino-sensibilidade.  

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