quarta-feira, 27 de maio de 2020
Prisão domiciliária - 78º dia
À chegada ao supermercado, duas senhoras aguardavam a sua vez de entrar, algo que, normalmente, não acontece a esta hora matinal. Permaneci na fila, atrás delas, respeitando a distância protocolar, até, pelas portas automáticas, sair a pessoa que me deu o seu lugar. Entrei, coloquei nas mãos o desinfectante fornecido à entrada e segui esfregando-as, preparando-me para começar o monótono processo das compras, tentando navegar pelo espaço exíguo sem me aproximar demasiado dos outros e, ao mesmo, sem deixar que os outros se aproximem demais de mim. Alguns minutos depois, após ter passado a secção das frutas e legumes, onde normalmente dedico uma grande parte de todo o tempo empregue no abastecimento alimentar, apercebo-me que me esqueci de ajustar a máscara a tapar a boca e o nariz: ainda está como saí de casa, ao queixo, onde a deixo até entrar em sítios fechados, para minimizar o desconforto. Não há rigorosamente nada estranho com o meu esquecimento; ao invés, é absolutamente inacreditável que ninguém me tenha chamado a atenção, de forma escandalizada, para a minha falha.
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