domingo, 21 de janeiro de 2018

Há uma certa beleza decadente por toda a cidade.

Ou uma decadência bela. Das ruas escuras e cinzentas às casas velhas e grafitadas. Das gentes modestas, vestidas a milhas da elegância que normalmente se associa aos italianos que dão cartas na moda. E o lixo nas ruas: a recolha de lixo continua a ser uma das actividades associadas à máfia.

E a degradação estende-se à forma como as coisas funcionam. As indicações que temos são para apanhar um comboio na estação de Montesanto até à de Garibaldi e, uma vez aí, apanhar outro comboio até Pompeia. Parecem simples e lineares e, no entanto, a viagem foi repleta de complicações não-lineares. Desde confundir a estação de funicular de Montesanto com a estação de comboios, até alguma luta com a máquina para tirar o bilhete (que acabou por ser comprado numa tabacaria por indicação do macambúzio funcionário da estação), até perceber, na estação de Garibaldi, qual a plataforma correcta. Esta última parte dificuldade pelo facto de o comboio não ter passado à hora estabelecida, mas sim com cerca de 45m de atraso.

E é diferente dos outros. Moderno, limpo, com indicação das paragens. Os inúmeros grupos de turistas trepam assim que as portas se abrem, facilmente arranjamos um lugar confortável para a viagem de menos de uma hora até à cidade das ruínas.

Quando finalmente as coisas parecem ter encarrilhado (pun intended), uma nova surpresa: já munidos com um mapa do local e um guia-audio, deparamo-nos com uma fila gigantesca para a única pessoa que vende bilhetes à entrada das ruínas. A espera é de mais de uma hora, algumas pessoas à nossa frente refilam, perdem a cabeça e gritam. Entramos já ao início da tarde.

A visita é interessante mas acabou por ser contaminada pela irritação da trabalheira implicada com a entrada no local. À saída, a chuva faz-nos apressar de regresso ao comboio. E aqui surgem as dúvidas. Pergunto a um senhor que, com muita simpatia, me explica que há duas estações em Pompeia e que em ambas podemos apanhar um comboio de regresso a Napóles. Cinquenta por cento de hipóteses e optamos, sem saber, não pela estação a que chegámos mas a outra. A diferença é que desta não parte o comboio bonito dos turistas, mas sim um a cair aos bocados, onde só vão locais, que para em muito mais estações e demora quase o dobro do tempo.

A comida acaba por nos confortar. Um restaurante com aquelas toalhas típicas aos quadrados e empregados pespinetas. A arte dos simples: pedaços de mozzarella panado, seguidos de uma margarita e uma carbonara, com vinho tinto da casa a acompanhar. E uma sobremesa cujo nome teima em me escapar. A boa disposição volta a estampar-se-nos na cara.

Nessa noite, ao regressar para o local da pernoita, deparamo-nos com uma (outra) situação caricata. Um casal chega a casa de carro: ele para o carro para ela sair e retirar um estendal de roupa estrategicamente colocado a bloquear o seu precioso lugar de estacionamento.

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