quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A boca está sempre aberta, escancarada, como se lutasse para respirar.

Deixa entrever uma grande ausência de dentes, os que sobram semeados aqui e ali, um pouco ao acaso. O casaco sujo, as calças rotas, um aspecto andrajoso. Caminha lentamente, quase titubeante - às vezes tem um cigarro, e então parece que caminha por entre o nevoeiro do fumo. E nunca fala. A poucos metros de se cruzar com alguém, estende a mão direita, de palma virada para cima, na sua direcção. Fala com a mão. E a cara: uma expressão gasta de olhos suplicantes, um esgar acentuado por uma ligeira inclinação da cabeça. Nunca lhe respondo. Quer dizer, ergo a mão e é ela que lhe diz que não. Baixa a dele, desfaz a expressão facial e segue. Sabe desistir, nunca insiste.

Há dias, pela primeira vez, passei por ele e não me estendeu a mão. Estava em frente a uma caixa multibanco e era na direcção do aparelho que estendia a mão.

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