sexta-feira, 20 de junho de 2014

O jargão do politicamente correcto em matéria de recursos humanos é sui generis.

Dantes as pessoas eram funcionários, trabalhadores. Agora são colaboradores, uma espécie de promoção designativa que é suposto atentar à sensibilidade dos funcionários e trabalhadores – perdão, colaboradores. É, no fundo, uma questão de tacto. Já não trabalhamos, nem sequer funcionamos: colaboramos. Do ponto de vista linguístico, nem sequer são equivalentes: podemos ser funcionários de uma instituição e não trabalhar puto nem colaborar um boi. Provavelmente a mesma corrente que decidiu rever as tabuletas que se põem ao pescoço dos funcionários – perdão, colaboradores – também reviu a forma como nos devemos referir a elas na terceira pessoa. Do ponto de vista da gestão, calculo eu. Nesse campo, os trabalhadores – perdão, colaboradores – transformam-se em recursos. Às vezes chegam a ser activos. Assets, em estrangeiro, soa mais sofisticado e dá menos azo a piadas de cariz duvidoso.

Aos poucos tenho vindo a aperceber-me que sou isto tudo sem, no entanto, e francamente, sentir que sou rigorosamente alguma destas coisas. Até trabalho, logo devo ser trabalhador. Também tenho um número mecanográfico, logo devo ser funcionário. Costumo colaborar, vai daí sou colaborador. Mas a todos os que me chamam isto tudo ou parte do cardápio (também eles certamente funcionários, trabalhadores e colaboradores, assim como recursos ou activos, em diferentes doses) apetece-me dizer-lhes: sou o Daniel, caso não tenhamos ainda sido apresentados.

Antigamente chamava-se genericamente serviço de pessoal aos actuais recursos humanos. Soa-me estranho e, lá está, antiquado. Mas, ainda assim, sou capaz de me sentir mais representado. Porque os segundos, passe o trocadilho, são impessoais.

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