terça-feira, 18 de maio de 2010

Stillness (of time)

Sentada mesmo à minha frente. Não gosto quando se sentam mesmo à minha frente. Se olho então parece que estou a fazê-lo fixamente; se não olho então fica estranho, constantemente de cabeça para o lado a tentar fixar-me em qualquer coisa que ajude a passar o tempo. Para o chão por exemplo. Calça umas havaianas, aquelas coisas de enfiar entre o dedo grande o pé o que vem imediatamente a seguir. Nunca gostei de andar com esse tipo de chinelos, aleijam-me os pés. Ali, contrastam com o azul da ganga das calças. Não muito escuro. Escuros são os olhos. A pele morena. Imóvel. Não sei para onde olha, não vou procurar saber, não quero esbarrar num olhar que embarace. A garrafa de água entre as pernas, uma mão sob o gargalo, a outra a agarrar o corpo. Detesto quando se sentam mesmo à minha frente. Brinco com o bilhete, olha para o lado, o homem que está no outro banco, penso em qualquer coisa que me distraia. Mas não consigo deixar de pensar que estou a ser observado, olhos escuros, pele morena, o cabelo também escuríssimo, o contraste na camisola lilás, a garrafa transparente, uma mão no gargalo, a outra no corpo. Imóvel. Havaianas: não deve dar jeito nenhum andar o dia todo com aquilo. Olhar para o lado, para o lado, só de soslaio para a frente, nunca totalmente, o escuro dos olhos, cabelo, pele morena. Tudo estático, sem movimento.

Imóvel.

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