quinta-feira, 14 de maio de 2009

Saga #5

Um dos países mais desenvolvidos do mundo, um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano e uma esperança média de vida das mais elevadas. Enfim, bancarrotas à parte, qualidade de vida. É neste contexto que vive uma população sui generis. Uma percentagem significativa acredita em seres que habitam as entranhas da terra.

Duendes e trolls, cujas representações podem ser vistas à porta de algumas casas, até a servir de adorno nas campas dos cemitérios. As figuras das lendas do folclore nórdico vivem na Islândia. Um exemplo curioso: a instalação de uma unidade fabril levantou discussão e alguma celeuma não só por ser um dos poucos casos de produção industrial num país bastante ecológico, mas também e sobretudo porque necessitaram de obter uma certificação de que não existiam desses seres debaixo da terra onde as fundações foram lançadas.

Há muita vida no interior daquela terra. As fumarolas, os geysers, os vulcões. A Islândia é uma manifestação de que este planeta está vivo e em mudança. De que esta terra é dinâmica. Com meio território na placa continental Europeia e outra metade na americana, os islandeses assistem em primeira-mão, nos melhores lugares da plateia, a comer pipocas, ao filme da criação de nova superfície terrestre.

O contraste. A neve branca no preto dos vulcões e da areia, da terra. A aridez e o verde vivo do musgo que se agarra à lava empedernida. O frio e água quente, o vapor que se escapa para o ar. Tomar banho nessa água ao ar livre é bastante esclarecedor: enquanto o corpo adormece ao som da temperatura confortável, a cabeça sente a pressão do frio no ar. Pequenos cristais aparecem nos cabelos, nas sobrancelhas e só desaparecem aquando do próximo mergulho para aquecer a única parte exposta.

É daqui que emerge uma espécie de Orwelianismo revisitado. Vem à superfície da água turbulenta. Porque se é verdade que todos os locais são únicos, também não é menos verdade que há uns que são mais únicos do que os outros.

E assim, com uma progressividade lenta, o meu cepticismo cai, vai caindo, por terra. Nesta terra. Por causa desta terra. Afinal, não há dúvida nenhuma, há mesmo duendes e trolls. Estão lá em baixo a comandar as operações. Fazem aquecer, explodir. Põem as máquinas em andamento, despoletam os mecanismos. São eles que tratam da engrenagem que faz a Islândia mexer.

E, com ela, o resto do mundo.

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