quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Dirijo-me ao segurança, como todos as manhãs, à entrada.

Está a atender uma pessoa à minha frente e demora algum tempo. Quando finalmente chega à minha vez, começa por apontar o aparelho ao pulso direito, que lhe estendo de imediato, ainda antes de dizer "bom dia". Que a leitura não saia à primeira, é já algo a que estou habituado, por isso não estranho que vá percorrendo diversas zonas do pulso, enquando carrega no botão. Nem sequer é incomum que, após meia dúzia de tentativas frustradas, me peça para medir a temperatura na testa. Acedo ao pedido e, com alguma vergonha, afasto desajeitadamente a minha franja Justin Bieberesca da testa. 

O processo transforma-se oficialmente num problema quando nem literalmente de arma apontada à cabeça o meu corpo resolve fornecer uma temperatura. Aos poucos, a atrapalhação do segurança cresce e ultrapassa a minha. Em desespero de causa, pede-me para medir no pulso esquerdo, pode ser que resulte aí: está-se mesmo a ver que não resultar e, de facto, não resulta.

Com isto, formou-se uma longa fila atrás de mim, que se prolonga até à porta. Pede-me para esperar um pouco enquanto testa a máquina nas restantes pessoas que, uma a seguir à outra, são rapidamente processadas, sem nenhum problema. Observo, desconsolado, a facilidade com a que máquina lê outros pulsos e testas, crescentemente convencido de que o problema sou eu. Após ter varrido toda a fila e as pessoas terem ido à sua vida, volta a mim. Tenta novamente e, novamente, não tem sucesso. 

Estamos numa encruzilhada: a ausência de uma temperatura que permita tomar uma decisão sobre a minha entrada é um vazio legal não previsto no protocolo. Não faz ideia como agir nestes casos. Pega no telefone e liga a quem de direito para saber o que fazer. A instrução é para me deixar entrar: segundo o informam, devo estar "demasiado frio" para que o aparelho possa fazer o seu trabalho em condições. Entro a matutar na frieza deste comentário.  

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