quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Chamo-lhe contraponlítico.

Assumamos - se não por princípio, pelo menos pelo pragmatismo - que o resultado preferível seria a exposição tranquila e sem interrupções das opiniões e argumentos de dois intervenientes. No entanto, verifica-se, tradicionalmente, uma constante sucessão de interrupções e quasi-discursos simultâneos, de vozes sobrepostas. Vistos por este prisma, os debates políticos televisivos parecem um equilíbrio de Nash: o resultado óptimo não é atingido porque a estratégia individual dominante é interromper e falar por cima do adversário. É sempre melhor torpedear o adversário, independentemente de ele também o fazer: se não interromper, tenho o melhor dos resultados possíveis (a nível individual), aquele em que exponho as minhas ideias sem qualquer interferência e interfiro activamente com a exposição alheia; se me interromper, evito o inverso da situação anterior, o pior resultado (individual) possível.

E é assim que chegamos a esta espécie de contraponto na fala. Uma sobreposição de duas (às vezes mais) vozes. Mas que, ao contrário da música de quem foi às aulas, não soa bem, porque as vozes que cruzam não o fazem com um intuito construtivo. Normal: o objectivo não é co-existir mas sim destruir.

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