domingo, 7 de maio de 2017

Annapurna

Em 1950, uma equipa liderada pelo francês Maurice Herzog atingiu, pela primeira vez, o topo de uma das catorze montanhas com mais de oito mil metros: o Annapurna de 8091 metros. Um feito obviamente notável, embora condenado rapidamente a ser relegado para uma posição secundária pela natural ofuscação que a projecção da primeira ascensão ao Evereste havia de gerar, apenas três anos depois.

No livro com o mesmo nome do pico cujo cume alcançou, Herzog relata a expedição. Os capítulos que descrevem as condições físicas durante a descida, o estado de saúde e os tratamentos, são particularmente arrepiantes. Outro aspecto marcante é o quão pouco se sabia sobre aquelas regiões inóspitas. Grande parte do trabalho do grupo foi um processo inicial de reconhecimento das montanhas que, até então, eram totalmente desconhecidas. Aliás, o grupo começa por explorar o Dhaulagiri e concluir que este pico, com mais umas dezenas de metros de altitude que o Annapurna, era inacessível e, apenas por isso, decidem tentar escalar este último - o Dhaulagiri haveria de ser conquistado apenas em 1960.

Para além destas questões mais centrais e impressionantes há outros elementos bastante curiosos. Por exemplo, a descrição da chegada a Delhi com uma monstruosidade de material e o processo alfandegário que envolveu com as autoridades indianas. O meu preferido: o facto de, ao fim de uma intensa e árdua jornada, no ar rarefeito da alta montanha, propício aos problemas de saúde relacionados com a altitude - e para os quais, já na altura, estavam devidamente alerta, embora seguramente não se soubesse tanto como se sabe hoje - os alpinistas descansavam e relaxavam acendendo um cigarro para acompanhar o chá.

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