terça-feira, 15 de março de 2016

Tell me if and when if and when if and when

Sempre pensei na dificuldade linguística do "se" e do "quando" quando (e não "se") considerando idiomas onde uma mesma palavra designa as outras duas. Os alemães só têm "wenn" ao dispor (atenção ao P.S.) e isso causa a alguns nativos dificuldades de expressão em língua estrangeira. Já aqui referi o caso de um antigo colega de trabalho alemão que disse, numa reunião, "when I understand correctly" - ele estava a "understand correctly" o ponto da discussão mas não a diferença entre "when" e "if".

E o contrário também é válido - para quem é nativo de uma língua que tem as duas formas anteriores, a palavra única, por vezes, pode dar azo a confusões ao tentar interpretar alemães. Tive uma vez uma discussão com um colega alemão - outro, diferente do primeiro, que percebia perfeitamente a diferença entre "if" e "when" - sobre o significado das palavras de uma antiga chefe, também alemã, que, ao discutir a possibilidade de extensão do meu contrato, utilizou o famigerado "wenn". Eu, pessimista, entendi um "se"; ele, mais optimista, entendeu um "quando". Eu, mariquinhas, não tive coragem de solicitar à chefe qual a tradução adequada; ele, besta, chamou-me mariquinhas.

A dificuldade normalmente está na ausência, numa língua, de uma distinção que é perfeitamente clara noutra. Lembra-me os húngaros que não têm "ele" e "ela", apenas um pronome que tanto dá para o sexo masculino como para o feminino. É confuso seguir uma conversa sobre uma senhora quando (e não "se") se (reflexivo, não conta) referem a ela com um "he". E há outros casos onde, apesar de não induzir em erro, a ausência de uma palavra retira a possibilidade de uma gradação que parece essencial. Por exemplo, em francês, se (e não "quando") aimer un croissant me parece excessivo (por muito bom que possa ser), aimer uma pessoa, em seguida, sabe a pouco - do ponto de vista (audição?) de quem ouve - se (e não "quando") o mesmo verbo é frequentemente usado em contexto de consumo de pastelaria.

A recente polémica do "if/when" parece ser o inverso do que acabei de descrever: enquanto no anterior caso as dificuldades surgem quando (e não "se") não existe uma distinção clara entre as duas palavras, no caso presente a interpretação possivelmente foi condicionada pelo facto de existirem duas palavras diferentes. No limite, em alemão, não teriam surgido quaisquer dúvidas. Não sei se (e não "quando") o holandês, nesta circunstância, é idêntico ao alemão. A ser, talvez seja essa a razão pela qual Dijsselbloem remeteu a explicação para Moscovici.

P.S. - o que disse do alemão não está inteiramente correcto porque também existe (i) "ob", um segundo "se" que, se (e não "quando") não me engano, só se (aqui é reflexivo, não conta) utiliza mesmo no caso dos verdadeiros "ses" em algumas circunstâncias - por exemplo, a reproduzir uma pergunta: "ele perguntou-me se (e não "quando") eu vinha"; e (ii) "als", que é uma espécie de "quando" no passado e que só se usa no casos dos verdadeiros "quandos", para frases como "quando eu era miúdo".

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